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Quando chegou ao Brasil, não conseguiu abrir de imediato uma brecha na agenda para encontrá-la. Estava envolvido com reuniões fora do escritório com advogados e com investidores mostrando o que tinha trazido de Nova York. A empresa receberia uma injeção nova de capital que permitiria sua expansão, novos investidores aportariam capital e haveria uma diluição dele. Ele ainda não sabia que trabalhavam no mesmo lugar, que ele era o chefe dela, apesar de na cama a situação ser completamente inversa. Estagiária, ela ficava distante do centro do poder e, como ele estava mais tempo em reuniões externas, o risco de se encontrarem era baixo. Ela o acionava de vez em quando no whatsapp mandando fotos nuas ou se masturbando para deixá-lo com tesão. Seis dias depois de voltar ao Brasil, veio a mensagem espontânea dele: será que poderiam se ver?
O olhar dela reluziu ao ler aquelas cinco palavras que compunham a frase que mais ela esperava ouvir.
- Devemos nos ver – respondeu.
- Hoje à noite?
- Sim, em casa. 21h?
- Ok.
- Vai estar sozinha?
- Venha com quase tudo que comprou.
- Quase tudo?
- O plug de silicone, a cueca de fio dental, o plug com vibrador e controle remoto, a cinta com o consolo e o cinto de castidade.
- Glupt!
- Quero uma coisa, meu sub: a porta da sala estará aberta, você vai entrar no mesmo banheiro em que entrou da primeira vez antes de vir ao meu quarto. Você vai tirar toda a sua roupa, meias, sapatos e deixá-los sobre a tampa da privada. Haverá um tubo de KY sobre a pia. Vai pegar o plug de silicone, besuntar e enfiar no seu cuzinho. Depois vai pôr a cueca, deixando bem enfiada. Aí estará pronto. Pegará o resto do que comprou em Nova York e pode sair do banheiro e vir pro quarto.
- Meu Deus.
- Aqui eu sou a deusa e dona.
- Estará sozinha?
- Seja pontual! Olha como me deixa! – ela concluiu com uma foto de dois dedos molhados.
Na rua ao lado do prédio dela, ao estacionar o carro, ele mandou uma mensagem dizendo que estava a caminho. O porteiro interfonou e disse que ele poderia subir. O coração batia em compasso acelerado, as mãos estavam num suadouro, as pernas tremiam. Ele segurava com força as tiras da sacola preta com as compras das duas idas ao sex shop. O estresse da semana, das reuniões tinha feito ele novamente se entregar a ela. Sabia que estava se envolvendo em um jogo perigoso, mas o tesão acumulado tinha feito ele vencer as resistências de novo. Ele sentia-se inferior a ela, sempre um passo atrás do jogo que ela disputava com maestria.
Quando a porta do elevador se abriu, ele suspirou fundo. Olhou para a porta do apartamento. Dessa vez não havia folha alguma colada em durex pouco abaixo do olho mágico. Não se ouviam sons vindos de lá. Ela não tinha respondido se estaria sozinha, mas ele não tinha por que desconfiar. Girou a maçaneta. Ao pisar no hall de entrada, fechou a porta e se dirigiu ao lavabo encostado quase à cozinha. Estava igual ao da primeira vez em que tinha ido, mas sem nenhum papel com ordens como da primeira vez. Ela o tinha alertado que não haveria, tinha dado as ordens pelo celular. Um arrepio percorreu a espinha. Olhou-se no espelho. Vieram as imagens da primeira vez: quando ela tinha deixado um tapa olho para ele. Dessa vez, havia apenas o tubo de KY sobre a pia. Engoliu a seco. Tirou as meias, os sapatos, desabotoou a calça e puxou-a para baixo, despindo-se da cueca boxer preta que tinha colocado. Desfez-se da camisa social e do blazer azul marinho. Estava nu. Arrumou suas coisas sobre a tampa da privada.
O pau apontava para o teto. Pegou a sacola preta. Tirou a cueca de fio dental com um V na parte posterior e deixou-a sobre a pia. Pegou o plug de silicone branco. Estava ainda na caixa. Nunca tinha usado. Abriu-a e colocou-o sobre a água corrente da torneira da pia e lavou-o com o sabão. Limpo estava. Era maior que o que tinha usado.
Abriu a tampa do KY e besuntou-o. Ficou de cócoras e levou a ponta do plug até seu cu. Lambuzou na entrada e depois inseriu até que tivesse entrado até a base. Levantou-se. Sentiu-se preenchido. Uma gota de porra se formou na cabeça do pau. Pegou a cueca e a vestiu, deixando-a enfiada, roçando a base do plug. Pegou a sacola preta e saiu do banheiro. O apartamento estava silencioso como da primeira vez, apesar de alguns livros de política sobre a escrivaninha que ficava na sala. Foi até o corredor e viu que a porta do quarto dela estava fechada. Da primeira vez, tinha chegado ali de tapa olho e batido na porta. Dessa vez, estava sem. Era um sutil jeito dela dizer que ele estava se submetendo por ele próprio. Ele estava dando o controle aos poucos.
Com a mão direita bateu na porta por três vezes e esperou.
- Entre e se ajoelhe ao entrar – veio a voz dela do quarto.
Girou a maçaneta.
Ficou de joelhos, ergueu-se o suficiente para girar a maçaneta e abrir. Ao entrar, seu coração disparou, uma sensação de pânico se instalou, seus braços tremiam, sua visão ficou turva por alguns momentos, sentiu que o chão se abria e que ele iria desmaiar. Ela não estava sozinha.
Ele encarou-a. Havia pânico em seu olhar, havia a vontade de ir embora correndo dali, havia a vontade de dizer que ela tinha ido longe demais, que ele se sentia completamente humilhado naquele momento, que ele não esperava aquilo, que ele se sentia traído. Ele não conseguia abrir a boca, verbalizar o que o tremor, o suor frio e a arritmia provocavam em seu corpo. O olhar dela reluzia como se o poder daquela cena tinha a tornado ainda mais sensual. Ela se levantou do recamier que ficava ao pé da cama. Vestia uma calça jeans justa e uma blusa branca, os cabelos presos em um rabo de cavalo. Aproximou-se dele.
- Todo contrato precisa de testemunha, não acha?
- Mas eu nunca pensei... – ele não conseguiu completar a frase, encarou o chão, com vergonha.
- Eu pensei, meu cachorrinho, e você sabe como sua submissão me torna mais sensual, mais exuberante, mais poderosa. E para me sentir assim eu pensei em mostrar o seu verdadeiro eu, sem máscara, para uma pessoa além da gente.
Ele não conseguia encará-la, mal respirava, os braços tremiam, a visão turvava de novo.
- Ela não vai contar para ninguém o que você é, quem você é, até porque ela não sabe de nada de você e pouco de mim. Ela apenas vai ver e testemunhar a transferência de poder.
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A máscara
General FictionEle tinha 41 anos, era empresário bem-sucedido, divorciado, parecia viver para o trabalho. Era o primeiro a chegar, o último a apagar as luzes. Ele parecia perfeito demais. Devia ter um segredo a esconder. Todos usavam máscaras. Talvez naquele bar e...