Capítulo 9

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Capítulo 9

Passos pesados iam se aproximando do acampamento improvisado deles. Passos pesados, respiração irregular e vozes grossas e irritantes. Mas não havia ninguém para se ver. E mesmo se houvesse, ninguém veria. Todos dormiam tranquilamente.

- Parece que trouxeram um porco. - disse um das pessoas, referindo-se a Eustáquio, que não parava de roncar.

- Essa aqui é fêmea. - disse uma voz próxima a Lúcia.

- Essa aqui também. - disse outra perto de Gael.

- Essa também. - disse uma próxima a Selena. - Mas seria difícil sem acordar esse macho. - continuou, referindo-se a Edmundo que estava ao lado dela.

- Essa aqui sabe ler. - disse a voz perto de Lúcia, mexendo em seu livro.

- Vamos levar ela. - disse uma voz.

Lúcia foi levantada no ar. Tinha a boca aberta, mas som algum saía dali. Parecia que alguém segurava sua boca, enquanto as pegadas a arrastavam para dentro da floresta. Ela se sentia suficada, e não sentia os pés no chão. Tentou arrancar o que quer que fosse que tampava sua boca, mas tinha dificuldade por não saber o que era e por ser forte. Ela então chegou em um jardim e finalmente a soltaram. Se levantou rapidamente do chão, assustada com as risadas no ar, e tirou o punhal. Mas o que quer que fosse que a acompanhava, arrancou o punhal de sua mão e, quando ela fora atrás, empurraram-na para longe.

- Não tem saída. - disse uma voz.

- É. - concordou outra.

- Assustador.

- O que são vocês? - perguntou Lúcia.

- Somos feras horríveis, horripilantes. - disse uma das vozes.

- Se pudesse nos ver, ficaria mesmo apavorada. - comentou outra.

- É, se esqueceu de dizer que também somos muito grandes.

- E o que é que vocês querem? - Lúcia perguntou diretamente.

- Você vai fazer o que nós mandarmos.

- É, vai sim.

- Tá na cara.

- Disse muito bem.

Lúcia se levantou. - Se não?

- Senão... morre.

- Morre.

- Morre.

- Morre.

- Mas eu não serviria morta pra vocês, serviria?

- Eu não tinha pensado nisso.

- Bem pensado. Resolvido, nós vamos matar os seus amigos.

Lúcia permaneceu calada, tentando encontrar outra solução.

- O que vocês querem de mim? - ela perguntou por fim.

- Você vai entrar na casa - ela foi empurrada - do Opressor.

- Que casa?

- Essa aqui.

Uma porta foi aberta, no meio do jardim, no ar. E Lúcia ficou surpresa ao ver como o interior era extenso.

- Lá em cima - continuou a voz - vai achar uma livro de feitiços. Recite o feitiço que faz você ver o oculto.

Enquanto as vozes o elogiavam, Lúcia andou de um lado para o outro, procurando pelo resto da casa, mas só havia a continuação do jardim.

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