Capítulo 21
O navio ia avançando pela escuridão nebulosa de dentro da ilha. A neblina densa próxima à água já tomava seu lugar nos pés dos marinheiros. A familiar névoa verde percorrendo o espaço, apenas à espreita, à espera. E, no meio daquela escuridão sem fim, apenas as luzes das lanternas eram vistas. A névoa verde, extensa e espessa, ia ziguezagueando por entre os marinheiros, tomando diferentes formas e diferentes vozes para cada um deles. Uma mulher foi formada, e passou sorrindo pelo marinheiro, pai de Gael.
- Elaine? - ele perguntou, nervoso e esperançoso.
Mas ela passou direta, dispersando-se e deixando-o atordoado.
- Eu não enxergo nada. - Drinian sussurrou para Caspian. - O nevoeiro é denso demais.
Algo em Caspian se agitou, enquanto ele sentia um arrepio o atravessando antes de ouvir a voz de sua própria tentação.
- Você é uma grande decepção para mim. Você se diz meu filho. Então aja como rei.
~*~
- Edmundo... - cantarolou uma voz fina e encantadora. - Venha comigo. Seja meu rei.
E a imagem de tentação de Edmundo foi formada. A Feiticeira Branca, formosa e encantadora - como uma cobra, pronta para dar o bote em sua vítima. Edmundo arregalou os olhos, perguntando-se como se livraria dela.
- Eu deixo você governar. - dizia ela, em um oferta tentadora.
A mesma oferta que ele ouvira anos atrás. A mesma em que ele caíra e acabara como traidor, a culpa o corroendo por anos. E estava ela ali novamente, fazendo a mesma oferta. Ali, na mesma balaustrada em que ele passara alguns momentos com Selena.
Selena.
Edmundo havia prometido a tiraria da loucura. Mas para isso, ele precisava superar sua própria tentação.
- Vai embora. - ele disse, numa voz firme. - Está morta.
- Não pode me matar. - dizia ela, rodeando-a, antes de se afastar pelas escadas do leme. - Eu vou viver para sempre em sua mente, seu tolo!
- Não! - exclamou ele.
- Edmundo? - ele ouviu outra voz atrás de si.
Ele virou-se rapidamente, deparando-se com Lúcia o olhando preocupada.
- Tudo bem com você? - ela perguntou, meneando a cabeça e mostrando todos os marinheiros que o encaravam após seu grito.
- Tudo. - respondeu ele, engolindo em seco com dificuldade.
Lúcia se afastou, e Edmundo respirou fundo e fechou os olhos, procurando colocar a cabeça no lugar. Até que ouviu outra voz o chamando.
- Eddie.
Ele abriu os olhos, sempre reconhecendo aquela voz doce e olhos castanho-esverdeados em qualquer lugar.
- Sel...
- A Feiticeira? - ela perguntou, segurando as mãos dele entre as suas. Ela se lembrava bem de sua primeira conversa descente com ele, quando ele lhe contou a história, ao invés dela ler o livro.
Edmundo apenas assentiu, antes que ela o tomasse em um abraço reconfortante.
~*~
Uivos. Sons de uivos esganiçados foram ouvidos fora dos limites do Peregrino da Alvorada. Os marinheiros se aproximaram das laterais, procurando por sinais de quem - ou quê - quer que fizesse aquilo.
- Voltem! - dizia uma voz rouca e levemente esganiçada. - Se afastem!
A voz vinha de algum lugar entre as rochas isoladas naquele mar.
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Inesperado
RomanceSelena Restimar era filha de um lorde há muito desaparecido e era considerada prima do atual rei de Nárnia, rei Caspian. Estava prestes a embarcar em uma viajem com ele e alguns marinheiros corajosos para ir atrás dos lordes que desapareceram durant...