Capítulo 7

817 71 6
                                    

Capítulo 7

Caro diário, minha vida sofreu uma reviravolta inacreditável! Eu fui raptado pelos meus primos e fiquei à deriva em águas desconhecidas num barquinho ridículo. Pra piorar, eu divido a cabine com um rato muito antipático. E eu que já achava ruim de dormir com meu primo.

No dia seguinte, Eustáquio ficou em um canto, onde ninguém o incomodaria, e continuou escrevendo.

Até agora, todo mundo que conheci nesse lugar esquisito, sofre de delírios incríveis. Ir atrás de névoas verdes e procurar fidalgos perdidos. Só pode ser resultado da má alimentação. Ou então enlouqueceram de vez. Primo Edmundo não é exceção. Ele passa cada segundo livre esfregando aquela espada de lata como se fosse uma lâmpada mágica, ou então conversando com aquela garota estranha. Tá na cara que precisa de um hobbie.

- Roedor irritante. - murmurou Eustáquio, ao avistar Ripchip conversando com Edmundo do outro lado do convés. - Ele delira mais que meu primo.

Uma gaivota pousou ali perto, num barril ao seu lado.

- Na Inglaterra temos ratoeiras pra bichos como ele. Falando em comida, por acaso sabe onde eu como?

A gaivota nada disse, e o garoto estranhou. Por quê a ave não falava?

- É... Por quê está falando com o passarinho? - o menino ouviu a voz do minotauro ao longe.

- Ora, porque naturalmente eu presumi... - defendeu-se Eustáquio.

Mas o minotauro começou a rir antes mesmo que ele terminasse sua fala. - Ele fala com passarinhos!

- Doidinho de pedra, esse aí. - disso o marinheiro ao lado do minotauro. Deu um tapinha no abdómen do minotauro e este o devolveu fortemente nas costas.

Indignado, Eustáquio expulsou a ave e se levantou para ir à cozinha do barco. Procurou e pegou uma laranja, colocando-a na camisa. Porém, ele não se safaria.

- Está ciente - disse uma voz fina atrás dele, fazendo-o bater em algumas panelas, no susto. -, que roubar ração é um crime hediondo no mar?

Eustáquio procurou o dono da voz.

- Aqui em cima.

Ripchip, de braços cruzados e peito estufado. Eustáquio tremia da cabeça aos pés, mas tentava parecer calmo. O que, claro, não deu muito certo.

- Ah... Você. - disse Eustáquio indiferentemente, mesmo que ele não estivesse. Ele ia indo embora, mas Ripchip pulou para seu lado, detendo-o.

- Homens já morreram por muito menos. - disse o rato.

- Pelo quê? - o garoto perguntou, desentendido.

- Por traição! Não serei sonso nem outras tolices! Entregue-me a laranja e eu finjo que não vi.

- Eu não sei do que tá falando! - insistiu Eustáquio.

- Eu vou lembrá-lo. - disse Ripchip, indo à frente e lançando a cauda sobre o rosto do menino, mas ele foi rápido e a segurou.

- Olha, eu já estou farto de você!

Ripchip, irritado, pegou a espada lentamente.

- Largue essa cauda, agora. O grande Aslam em pessoa me deu essa cauda. Ninguém, eu repito, ninguém toca na cauda e ponto! Ponto de exclamação!

Eustáquio já soltara a cauda e levantado as mãos em forma de defesa, enquanto se afastava da espada do rato.

- Desculpe!

- Então me passa a laranja e vamos acertar as contas! - Ripchip pegou um facão com a cauda e entregou a Eustáquio.

- Por favor, por favor, não! - Eustáquio disse desesperado. - Eu sou pacifista!

InesperadoOnde histórias criam vida. Descubra agora