Capítulo Bônus

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Capítulo 25 - Bônus

- Edmundo, espere. - pediu Selena, hesitante no alto da escada.

- Não tem com o que se preocupar. - respondeu Edmundo, subindo novamente alguns degraus. - A tia Alberta é um pouquinho chata sim, mas vai aceitar.

- M-mas... Nem uma história eu tenho! - insistiu ela, sentindo os olhos lacrimejarem em frustração.

Edmundo respirou fundo. Assim que Selena dissera, ainda em Nárnia, que viria com eles para seu mundo, ele tentava criar uma história para ela. Uma onde pudesse dizer em qualquer lugar, sem furos e erros. Aproximou-se mais de Selena e segurou seu rosto delicado entre suas mãos com leveza, como se ela pudesse quebrar a qualquer momento. O que realmente poderia acontecer.

- Vamos dar um jeito. - garantiu ele, secando as lágrimas que saíram de seus olhos e sorrindo confiante. - Acho que consegui a história perfeita.

Selena respirou fundo, e concordou. Edmundo entrelaçou-lhe os dedos e ambos desceram juntos até o andar principal da casa dos Mísero. Ali encontraram Eustáquio e Lúcia já conversando com uma garota magra e acanhada, que aparentava ter a idade de Eustáquio. E havia também dois adultos, que Selena julgou ser os tios de Edmundo, que os olharam de cenho franzido assim que eles se aproximaram.

- Quem é essa, Edmundo? - perguntou a mulher, cruzando os braços desconfiada e chamando a atenção dos outros que se encontravam na sala de estar.

Selena engoliu em seco, lembrando-se que realmente eram desafios a ser superados, e deu um passo para trás de Edmundo.

- É uma amiga minha, tia Alberta, Selena Restimar. - respondeu Edmundo, procurando ser o mais educado e convincente possível. - Ela perdeu a família há pouco tempo. Eles foram para a Alemanha atrás da irmã mais nova de Selena, mas foram pegos e levados todos os três para os campos de concentração. Ela não tem mais onde ficar.

Um arquejo atravessou a sala. Os adultos e a amiga de Eustáquio pareciam incrédulos e a olhavam com pena. Eustáquio e Lúcia olhavam confusos para Edmundo, até finalmente se darem conta de aquela seria a desculpa usada para a permanência de Selena naquele mundo. Mas a própria Selena constatou esse fato com um pouco de dúvida e confusão.

O que eram campos de concentração, afinal?, ela se perguntava, esforçando-se para não demonstrar mais surpresa do que os outros.

- Ela poderia ficar aqui conosco, para não ser mandada a um orfanato ou aos cuidados do governo? - Edmundo perguntou suplicante.

A mulher, que parecia ser a cópia fiel de Eustáquio, se aproximou dela e de Edmundo com um olhar penoso e levemente amargo.

- Mas não seria o melhor a se fazer? - perguntou ela, um pouco desconfiada.

Edmundo balançou a cabeça. - Provavelmente não. Selena não tem nenhum documento com ela. Agora é como se ela não existisse. - ele arriscou, rezando mentalmente para que o Aslam desse mundo os ajudasse.

A mãe de Eustáquio a olhou de cima a baixo, provavelmente constatando se seria uma boa permitir.

- Ela pode ficar na cama vazia do quarto de Lúcia enquanto vocês ainda estão aqui. Mas quando seus pais e irmãos voltarem das Américas, ela já não será mais responsabilidade minha. - disse a tia, por fim, e Edmundo virou-se vitorioso para uma Selena sorridente.

~*~

- Venha, vamos! - chamou Edmundo, enquanto Lúcia ainda tentava convencer Selena a entrarem no prédio. No mesmo prédio onde Edmundo tentara se alistar, há dias atrás em seu mundo, mas meses antes, considerando o tempo de Nárnia.

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