Capítulo 14

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Capítulo 14

Enquanto, Eustáquio vagava meio perdido pela ilha adentro, sem ter ideia de para onde ia, ou de como voltar. Só queria ficar longe de todos, principalmente de Ripchip, apenas extravasando toda a frustração que sentia. A começar por quem diria que Nárnia realmente existia? A não ser que os primos o tenham enlouquecido de vez a ponto de fazê-lo acreditar que estava ali. E agora aquela loucura toda de ir atrás de fidalgos imbecis que simplesmente fugiram e derrotar uma névoa verde idiota?

- Ah claro! - ele resmungava consigo mesmo, enquanto andava e chutava algumas pequenas pedras que via à frente. - Sigam a estrela imaginária até a Ilha Ramandudu... Botem as sete facas de carne na mesa do leão falante... - bufou, e chutou outra pedra. - Lunáticos...

E ele continuou andando, observando fumaças de lavas quente saindo por crateras e parou quando chegou à beirada de um desfiladeiro, assombrado com todo o ouro que via ali embaixo. Haviam pilhas e mais pilhas de ouro, tantos objetos incrustados e feitos de ouro puro que ele nem sequer conseguia calcular seu valor. Ele finalmente, finalmente, tirara a sorte grande. Mesmo que parecesse quase impossível isso. Ele se aproximou mais da beira do desfiladeiro para tentar enxergar melhor a extensão de todo aquele ouro, e acabou pisando em falso. Rolou por todo o desfiladeiro, até que caiu de bruços no chão, sentindo dor em todo o corpo. Mas tão logo viu o ouro, sua dor foi esquecida por algo mais importante.

- Eu cheguei no céu! - ele murmurou, ainda assombrado.

Era ouro de todo tipo, desde joias, colares, anéis, até taças, pratarias, talheres, vasos. Eustáquio começou rapidamente o que podia juntar à mão, um vaso primeiro, onde começou a colocar colar ali dentro. Mas sabia o que pegava e pouco se importava. Se era ouro, valia muito, e isso sim importava. Até a viajem a Nárnia poderia render-lhe um bom dinheiro! Viu algo com um brilho ofuscante e, ao procurar por sua fonte, encontrou um bracelete não muito longe dali. Deixou o vaso em qualquer canto, e foi até o bracelete. Recuou com um grito surpreso quando viu que este estava interligado a um esqueleto.

- Você morreu feio. - ele disse.

Ele hesitou e, ainda receoso, ele empurrou o esqueleto, com medo de que mesmo morto pudesse lhe fazer algum mal. Ou apenas não queria ter que pensar que aquilo já havia sido um homem vivo, anos e anos atrás. Pegou, então, o bracelete, e o encaixou em seu próprio pulso.

- Não vai precisar disso, vai? - perguntou ironicamente, mas ainda medroso.

Eustáquio voltou à tarefa de colocar algumas coisas nos bolsos, e enfiou principalmente taças. Até que um barulho alto e assustador o fez virar o rosto para checar no fim do desfiladeiro. Mas não havia nada.

- Até que enfim! A minha sorte mudou! - comentou animado, sem perceber a névoa verde que serpenteava pelo tesouro à sua frente.

~*~

Caspian, Selena, Edmundo e Lúcia estavam voltando para os botes. Selena se afastou um pouco para longe, e Edmundo estava prestes a ir atrás quando repensou, sabendo que ela ainda precisava de um tempo para digerir a notícia. Caspian se aproximou de algumas cestas, colocadas a poucos metros dos botes.

- Que comida encontraram? - perguntou.

O marinheiro, pai de Gael, se ajoelhou e segurou uma delas.

- A ilha é vulcânica, Majestade. - respondeu. - Não há muitas plantas.

Lúcia, não muito longe, olhava para os marinheiros que colocavam o pegaram nos botes, mas reparou a falta de uma pessoa.

- Cadê o Eustáquio? - perguntou.

Caspian e Edmundo voltaram sua atenção para Lúcia.

- Deve estar aí não nos ajudando a carregar o barco. - disse Ripchip, em tom sarcástico.

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