Capítulo 18

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Capítulo 18

- Lena, Lena! - Selena acordou com alguém a chamando e sacudindo.

Abriu os olhos com certa dificuldade, ainda se recordando do recente pesadelo, e encontrou os olhos claros de Lúcia a encarando preocupada.

- Lú! O que foi? - ela se sentou, sentindo seu corpo extremamente cansado. O colar de pedra negro de seu pai queimava em seu peito e ela o segurou entre os dedos, sentindo em uma temperatura mais elevada que o comum.

- Eu que pergunto. - disse a mais nova ajudando-a a se recostar contra a parede da cabine, percebendo o estado fragilizado em que a menina acordara. - Eu entrei aqui no camarote procurando a Gael e encontrei você se debatendo na cama, como se alguém estivesse te sufocando. De novo.

Selena suspirou derrotadamente. A névoa verde estava por trás disso e ela tinha certeza. Depois do primeiro sonho que tivera, quando depois Edmundo dormira com ela, a mesma tentação vinha se repetindo cada vez mais. Não houve mais nenhuma com qualquer dos seus amigos, mas ela sempre tinha o mesmo sonho: vozes a atormentando, dizendo que tirariam tudo dela, ela insistindo que não havia mais nada a ser tirado, e mãos a tentando sufocar.

- Isso é obra da névoa de novo, não é? - Lúcia perguntou, amargurada.

- Imagino que sim. - respondeu Selena, evitando olhar nos olhos da menor. Era vergonhoso para ela, ser sempre a mais atingida e a mais perseguida.

- Você está sendo a mais atingida, não é? - perguntou Lúcia, segurando gentilmente a mão de Selena, vendo o quanto a amiga estava sofrendo com isso.

Selena assentiu. - E eu não sei o porquê disso. Isso que me deixa mais irritada.

- Acho que talvez seja porque você não tem nada a perder, como Caspian disse. Estão tentando te atingir, deixar você louca, porque eles não conseguem absorver qualquer medo que você tenha.

Selena ficou calada, absorvendo as palavras da menina. Ela não tinha uma resposta para aquilo tudo. Odiava pensar que era a mais fraca de todos, sendo sempre atacada. Mesmo sabendo que era justamente ao contrário. Mas ela sempre odiou pensar que era vulnerável e faria de tudo para provar que não era.

- Bem, agora que eu acordei, acho que vou ver se precisam de mim para alguma coisa. - ela disse, procurando algum álibi para não tocar mais nesse assunto.

- Lena. - Lúcia chamou, quando esta já estava quase abrindo a porta.

- Eu estou bem. - Selena garantiu, abrindo um sorriso leve para Lúcia, mesmo que esteja mentindo. - Sério.

- Tudo bem então. - Lúcia aceitou, mas percebeu a falta de brilho nos olhos castanho-esverdeados de Selena, e soube que era mentira.

Lúcia levantou-se, e saiu junto com Selena. Avistaram Edmundo se aproximando.

- Oi, garotas. - ele cumprimentou, sorrindo para a irmã e dando um beijo na bochecha de Selena. - O que aconteceu? - ele perguntou, ao perceber o clima meio estranho e deprimido entre elas.

Lúcia suspirou, e disse antes de se afastar. - Outra tentação da sua namorada.

Edmundo observou sua irmã se afastando em direção à cabeça do dragão, antes de se virar para Selena, que parecia ter uma expressão ainda mais tristonha do que antes. Ele odiava quando isso acontecia, e vê-la assim praticamente abria um buraco no seu peito.

- O mesmo sonho de antes? - ele perguntou, puxando o queixo de Selena para cima e obrigando-a a olhar em seus olhos.

E então Edmundo viu alguma coisa no verde que aparecia ao sol. Um brilho. Um pequeno e leve brilho nos olhos da menina. Mas não o brilho comum de alegria que ele às vezes via ali refletido. Parecia mais... Um brilho de insanidade. Selena assentiu e, nesse leve movimento, o brilho foi consumido pelas lágrimas que se formavam, e não voltou a aparecer. Mas aquele breve instante em que Edmundo constatou que a névoa verde estava fazendo seu efeito sobre ela, ele jamais esqueceria. Era um detalhe. Um pequeno detalhe que o assombraria pela vida inteira.

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