Capítulo 15

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Capítulo 15

O capitão, o minotauro, os reis, a rainha, a menininha, o rato, a marinheira e o marinheiro - todos em volta do dragão, observando-o abismados. Já entardecia, e eles ainda não tinham ideia do que fazer. O dragão mexia o pulso e tentava arrancar o bracelete do braço esquerdo com os dentes, mas ainda não adiantava.

- Ele deve ter sido tentado pelo tesouro. - supôs Edmundo, vendo o dragão raspando o pulso na areia em uma tentativa falha de tirar o bracelete.

- Mas todo mundo sabe que o tesouro de um dragão é encantado. - disse Caspian e o dragão o olhou ofendido e indignado. - Todo mundo... Em Nárnia.

Selena abafou um riso e Lúcia olhou-a de modo quase repreendedor. Se aproximou do dragão e Edmundo deu-lhe licença. Pegou o bracelete com cuidado e tirou com força, arrancando um grunhido de dor do dragão. Balançou o pulso para amenizar a dor, mas olhou agradecido para Lúcia, que apenas riu, se afastando.

- Tem algum jeito de virar a ser gente? - perguntou Edmundo.

- Não que eu conheça. - respondeu Caspian, olhando para Drinian em busca de uma resposta mais completa. Este apenas balançou a cabeça de modo negativo.

- A tia Alberta não vai gostar disso. - comentou Edmundo, depois de alguns segundos de silêncio.

O dragão bateu o punho na areia, frustrado.

- Desculpe ter machucado sua mão, amigo. - disse Ripchip, tentando amenizar o clima. - Às vezes eu me empolgo um pouquinho.

O dragão olhou com o antigo olhar de deboche de Eustáquio.

- Os botes estão prontos, senhor! - gritou o minotauro.

- Não podemos deixá-lo aqui. - insistiu Lúcia.

- Mas não podemos trazê-lo a bordo, Majestade. - disse Drinian.

O dragão respirava rapidamente, assustado com a possibilidade de ser deixado para trás.

- Drinian, você e os outros vão num boté só. - disse Caspian, entregando ao capitão a espada recém-encontrada de Lorde Octasiano. - Vamos ficar aqui esta noite e ver o que fazer.

- Mas estão sem previsões. - disso o marinheiro. - E sem meios de se aquecer, Majestade.

Caspian suspirou, sabendo que ele tinha razão, e o dragão, percebendo que ainda havia a possibilidade de ser deixado ali, deu-se conta de uma ideia e soprou fogo em um pedaço de madeira ali no meio deles.

- O que disse? - perguntou Ripchip ironicamente.

Lúcia riu e todos, mais aliviados, riram também. E Eustáquio, depois de uma leve careta após a experiência do fogo passando por sua boca, sorriu com seu próprio feitio.

~*~

- Eu nunca havia visto essas constelações. - comentou Edmundo, observando o céu escuro, mas pincelado de estrelas. Ele estava ao lado de Caspian e, por mais que fossem orgulhosos demais para simplesmente pedirem desculpas, tentariam reforçar o que restou da amizade após aquele teste.

- Nem eu. - disse Caspian, depois de alguns segundos de silêncio. - Estamos bem longe de casa. Quando eu era garoto, me imaginava navegando até o fim do mundo. E encontrando meu pai lá.

Edmundo ficou momentaneamente desconfortável. Não imaginava que Caspian fosse-lhe contar um sonho daqueles, principalmente depois de terem brigado. Talvez, afinal, nada estivesse perdido.

- Talvez encontre. - disse por fim.

~*~

- Saudades da mamãe. - disse Gael, não muito longe de onde Caspian e Edmundo tinham sua conversa.

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