Capítulo 17 - Pequenas fraturas

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O caminho para o meu quarto pareceu quinze vezes maior do que o normal. A mão que não segurava a de Christen estava dentro do bolso, inquieta.


Eu sabia que aquele momento chegaria, é como uma prova no final do ano, não tem como evitar. A diferença é que se eu fugisse agora, eu não teria a chance de refazer tudo como na escola.

Diferente de todas as outras vezes, ela não falava; sentou ao pé da cama parecendo não saber o que fazer. Fiquei em pé, optando por colocar os pensamentos em ordem andando de um lado para o outro.

"Se abrir um buraco, quem estiver no quarto de vai o vai achar que anjos estão caindo." Ela tentou soar descontraída e deu uma piscadinha.

"Você está flertando comigo?"

"Eu estou sempre flertando com você." Ri de seu xaveco barato. Ouvi um suspiro e não soube dizer de quem veio. Sentei-me ao seu lado; o quanto antes tivéssemos essa conversa, mais rápido poderíamos voltar a aproveitar as Bahamas.

"Eu não quero ir embora." Sorriu triste. Concordei.

"É um saco!" Olhei para meu colo, onde brincava com as mãos.

"Mas você sabe que a culpa é sua por ter me dado bebida naquele dia, não sabe?"

"Minha?" Ela assentiu. "Como você pode dizer isso, sabendo que eu só fiz isso, porque fui atraída pela sua cara de brava naquele bar?"

"Se for assim, a culpa é mais ainda sua por ter esbarrado em mim no restaurante e ter me encantando ali mesmo."

"Você esbarrou em mim." Corrigi-a, fugindo da brincadeira. Ela negou. "Foi você, eu estava parada." Seu cenho franziu, como se estivesse tentando lembrar do momento, até sorrir culpada.

"Droga! Eu perdi!" Deu um tapinha em sua própria testa.

"Tudo bem, eu aceito meu prêmio em beijos!" Sua resposta foi uma careta, franzindo o nariz e me imitando em um tom debochado. Ela não aceita perder de jeito nenhum!

"Vamos negociar: em pago em parcelas anuais, assim você é obrigada a me encontrar todos os anos se quiser receber."

"Tentador, mas e se eu não puder te ver todos os anos?"

"Eu guardo os beijos para você."

"Quantos?"

"Todos eles!" Abraçou-me de lado. "Minha mãe já fez o convite, mas eu reforço: a California está de portas abertas para te receber. Quem sabe nas próximas férias?" Seu olhar era esperançoso e partiu meu coração por saber que não atenderia às expectativas.

"Nós sempre viajamos para um lugar diferente nas férias e já fomos para lá." Suspirei. Queria sugerir que ela nos acompanhasse na próxima viagem, mas era contra as regras da família. Papai dizia que, enquanto não houvesse certidão de casamento, não haveria exceções. "Talvez nas férias de primavera?" Sugeri. Alex e Allie me matariam se soubessem que eu estava fazendo planos com outra pessoa, mas valia o risco.

Mas foi sua vez de negar. "É quando minha avó vem nos visitar..." Sua voz foi morrendo conforme a situação foi ficando mais aparente.

Nós não tínhamos previsão nenhuma de quando o reencontro poderia acontecer. A possibilidade de nunca mais vê-la embrulhou o meu estômago e fez uma lágrima cair do meu olho. Encostei minha cabeça em seu ombro para que ela não visse.

"O que a gente faz?" Perguntei, não conseguindo pensar em nada que servisse de solução. Sua negativa veio em um balançar devagar de cabeça e um suspiro pesado.

"Acho que sabemos o que temos que fazer, Toby" Ela colocou o cabelo atrás das orelhas e sorriu forçadamente.

"Então em dez dias..."

Uma margarita e uma lua azulOnde histórias criam vida. Descubra agora