Capítulo 6 - Por que as pessoas jogam Banco Imobiliário?

450 50 46
                                    

"Certo, como convidada, você pode escolher em qual jogo você vai perder." Meu pai abriu o armário, mostrando as diversas opções para Christen.

"Vocês têm algum preferido?" Mesmo tendo ganhado confiança e intimidade durante o jantar, ela ainda tinha seus momentos acanhados.

"Pode escolher qualquer um, eles vão dar um jeito de te passar a perna..." Resmunguei.

"Um dia você vai aprender a perder, e quando esse dia chegar, nossa arca vai estar pronta para o dilúvio!" Katie tirou uma com a minha cara. Depois de toda uma vida mais essa noite, eu nem me abalei.

"Nesse caso, eu vou escolher Banco Imobiliário, então!"

"NÃO!" Eu me exasperei. De todos os jogos que ela poderia ter escolhido...! Meu pai riu.

"Um dia você vai precisar me perdoar, minha pequena!"

"Jamais!" Cruzei os braços na altura do peito. "Desse jogo eu não participo."

"Ótimo, o máximo são seis pessoas, de qualquer forma." Jeffrey disse, pegando a caixa e ajeitando as peças sobre a mesa. Nem olhou para minha cara de indignada. Christen deu risada e me abraçou.

"Eu vou ganhar para você." Deu uma piscadinha e sentou no lugar que geralmente era ocupado por mim. Eu sabia que ela não tinha chances contra meu pai, mas gostei da energia. E do abraço. E da piscadinha. Ela estava flertando comigo? Deus queira que sim.

"Então eu vou ser o banco?" Puxei um puff e me estiquei para tentar pegar a caixa, mas as respostas, todas ao mesmo tempo, me pararam na metade do caminho.

"Ninguém confia em você."

"Nem a pau!"

"Só se a gente for trouxa!"

"Não tem a menor chance!"

"Sem cabimento, filha."

"Qual foi?!" Pus a mão sobre o peito, muito ofendida. "Eu sou ótima com números, está bem?"

"Isso é o que mais nos preocupa, filha." Minha mãe disse tranquila, como se não tivesse feito parte do complô contra mim. Christen foi a única que não se opôs à minha sugestão.

Bufei alto, para deixar claro o meu descontentamento. Aquela noite estava sendo ótima para eu conhecer o lado mais cruel de minha família. Além de não poder jogar, teria que apenas assistir, enquanto eles faziam seus esquemas sujos. Que seja!

O começo do jogo era sempre enfadonho, por não haver nenhuma negociação. Chris estava bem, com uma quantidade razoável de títulos. Mas não se comparava ao homem de frente para ela, que tinha dois bairros quase completos.

Eu sabia o que ele faria a seguir: compraria de meus irmãos e colocaria casas e hotéis, depois deixaria que "as propriedades se pagassem", como ele gostava de dizer.

No entanto ele não contava com a astúcia de Christen: uma rodada após todas as cartas já terem donos, ela se adiantou em fazer ofertas para meu irmão. Ele era, inegavelmente, o elo mais fraco. E, talvez eu esteja enganada e com um pouco de ciúmes, mas eu podia jurar que ela usou seu charme para que ele aceitasse sua proposta. Em duas rodadas, ela tinha dois bairros inteiros com pelo menos o dobro do aluguel inicial.

Meu pai, no entanto, estava tranquilo. "Esse é meu jogo, filha, confia no papai." Era o que ele falava quando eu o provocava, de alguma forma. E, dado o histórico, eu não duvidava que ele conseguisse virar o jogo mesmo.

O que ninguém esperava é que ele tirasse uma dupla, somando doze, e caísse em uma companhia da convidada. Todo o dinheiro que ele tinha foi para ela, o restante já tendo sido gasto com negociação e melhorias na propriedades.

Uma margarita e uma lua azulOnde histórias criam vida. Descubra agora