A voz no avião anunciou que estávamos pousando. Precisei desligar o videogame e voltar a poltrona para posição original. Virei para meu irmão, que capotou na metade do jogo e ainda roncava baixinho.
"Jeff" balancei seu corpo. Apesar de mais novo, ele tinha o dobro do meu tamanho e não foi uma tarefa fácil fazê-lo se mexer. "O avião vai pousar, a gente chegou." Ele resmungou alguma coisa e foi acordando aos poucos, coçando os olhos para se livrar do sono.
Olhei para trás, tentando enxergar se o resto da minha família também estava acordada. Não era sempre que conseguíamos fileira vazias, nesses casos, nos dividíamos em duplas, meus pais sentavam juntos, assim como minhas irmãs mais velhas, e eu ficava com meu irmão. Na diagonal, pude ver que meu pai arrumando o cabelo depois do cochilo da viagem, enquanto minha mãe, ao seu lado, fazia o mesmo. Nossa família era unida, mas meus pais estavam sempre ocupados e por isso faziam das viagens de verão uma grande ocasião. Era como o natal nas famílias comuns ou até as viagens nos feriados daquelas que gozavam de mais tempo.
Mais ao fundo, Katie segurava a mão de Perry, era difícil dizer quem tinha mais medo dessa parte vôo, mesmo tendo feito isso nos últimos 20 anos de suas vidas. Sorri para elas, para tentar passar algum tipo de conforto, certamente não adiantaria, mas o que vale é a intenção, certo?
Quando as pessoas começaram a levantar, esperamos todos saírem, era quase como um ritual. Não víamos sentido em participar da bagunça e desespero para sair da aeronave. Minhas irmãs não gostavam muito, mas preferiam isso à serem arrastadas para fora. Depois de tantos verões em diversos países, sabíamos que não adiantava de nada sofrer entre elas e acabar cometendo um grande erro e insultar alguém por questões culturais.
Depois de pegarmos as malas, fomos para onde dois carros nos esperavam. Os motoristas colocaram nossas coisas nos veículos enquanto decidíamos como seria a divisão. Na verdade, qual dos nossos pais teria a dor de cabeça de dividir o banco de trás comigo e com Jeff.
Geralmente nós não somos um problema, mas ele está naquela fase de adolescente chato, que faz piadas idiotas e, de todas as irmãs, eu sou a mais paciente. Mas não dura para sempre, e os passeios de carro eram especialmente problemáticos, porque eu ficava enjoada. Raras eram as vezes que eu conseguia chegar até nosso hotel sem que eu estivesse verde ou prestes a passar mal.
Não importava como era o veículo ou o tamanho dele, algo que meu pai sempre fazia questão era que eu me sentasse na janela, afinal de contas, meu estômago era traiçoeiro. Entrei no carro e logo me acomodei em meu lugar, olhei pela janela e não pude evitar o sorriso. Bahamas era mesmo um lugar paradisíaco, era um ótimo lugar para se comemorar os 18 anos. Essa era sempre minha parte favorita das nossas viagens, eram logo após meu aniversário, o que dava à nova idade um começo especial.
Chegando ao hotel, não existia a calma do avião, e eu sempre descia correndo em busca do banheiro mais próximo enquanto meus pais faziam o check-in. Nesse momento eu também aproveitava para lavar o rosto e perceber a decoração daquele ambiente. Poucas pessoas prestavam atenção, mas como os banheiros eram decorados e cuidados, dizia muito sobre o estabelecimento como um todo. Aquele tinha um ar praiano, de uma forma elegante, como se esforçasse para ser casual, mesmo sendo um dos maiores resorts da ilha.
De volta ao Lobby, meu pai segurava 4 chaves em mão, esperando por mim para fazer a divisão dos quartos. Apesar de 3 de nós já sermos legalmente adultas, nesse momentos parecíamos todos com 7 anos de idade, prontos para brigar pelo melhor quarto. Minhas irmãs nem pareciam ser as mesmas pessoas que seguravam a mão uma da outra há poucos minutos. Ao contrário de minha mãe, que achava isso tudo pouco educado, meu pai se divertia e sempre dava um jeito de nos provocar, deixando claro que apenas um dos quartos era tão grande quanto o reservado para eles. Ou seja, tínhamos a chance de passar o verão inteiro em uma suíte master.
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Uma margarita e uma lua azul
Hayran KurguTodos os anos, Tobin passa suas férias de verão em algum lugar diferente do mundo como uma tradição familiar. No ano de seu 18º aniversario, eles embarcam para as Bahamas e o que parecia ser apenas mais um mês em familia, pode ter se tornado o verão...