Uma margarita e uma lua azul

Capítulo 3 - Ver o "mar"

Acordei com batidas na porta. Olhei o relógio no criado-mudo, não tinha passado das 8h. Quem poderia ser?

Flashes da noite anterior me vieram à mente. A conversa com Christen. Seu Sorriso. E o beijo. Okay, na bochecha. Mas ainda um beijo.

Eu também tinha lhe dito que ela poderia bater na minha porta se precisasse. Eu não esperava que fosse tão cedo. Mas também não reclamaria.

Levantei o mais rápido que pude. Estava com uma calça e uma camiseta de pijama, não era a minha melhor roupa, mas era aceitável. Parei em frente a um espelho e arrumei meu cabelo.

Será que deveria escovar meus dentes? As batidas na porta se repetiram e eu soube que não daria tempo de parecer casual fazendo isso. Respirei fundo, passei a mão sobre a roupa, para melhorar sua aparência e sorri.

Do outro lado encontrei um par de olhos castanhos, iguais aos meus. Não lembro quando foi a última vez que fiquei tão decepcionada em ver meu irmão.

"O que você está fazendo aqui?" Não fiz questão nenhuma de ser cordial. Ele tinha me acordado cedo e não tinha um par de olhos esverdeados para compensar.

"Eu vim trocar de quarto." Ele estava tão emburrado quanto eu. Percebi que suas malas estavam no chão ao seu lado.

"Eu mudei de ideia. Gostei da vista." Sorri para ele. "Pode ficar por lá mesmo."

"Mas eu trouxe todas..." Não deixei que ele terminasse, apenas fechei a porta e deixei-o falando sozinho.

No fim das contas, sua visita não foi de todo ruim. Fui até a janela, era realmente um bela vista, com mar até onde os olhos alcançassem.

Se fosse por mim, sair da cama aquela hora não era uma opção, mas sabia que minha família desceria para o café da manhã e eu gostava de começar o dia com eles. A única obrigação familiar imposta pelos meus pais para o restante do verão era o último jantar em família.
    Sempre fazíamos ao menos uma refeição todos juntos, mas não era nenhum sacrifício. Era apenas como nossa dinâmica familiar funcionava.

Utilizei todo o espaço que tinha na cama para me espreguiçar e levei alguns bons segundos alongando os meus músculos. Respirei fundo e decidi que estava pronta para começar o dia. Se Jeff não tivesse vindo ao meu quarto algumas horas atrás, eu com certeza, ainda estaria dormindo até agora.
    Abri a mala de roupas que estava no chão e fiz uma nota mental de que precisava colocá-las no guarda-roupas do quarto. Não tinha feito ainda, pois era certeza que me mudaria de andar hoje, mas agora vou passar meu verão por aqui mesmo. De repente um flash veio em minha mente e me lembrei de Christen. Arrumei a camiseta branca no corpo,  coloquei o boné na cabeça como de costume e disparei porta a fora olhando diretamente na direção de seu quarto.

Passei pelo elevador e fui até sua porta para ver se ouvia sua voz ou algo parecido, mas nem sinal dela. Retornei e entrei na caixa cinza que me levou diretamente ao lobby. Continuei atenta para ver se a encontrava, mas não tive sorte. Minha família já estava à mesa e meu irmão comia como se estivesse estado em guerra pelos últimos três anos.

"Cuidado aí, irmãozinho, ainda tem muito espaço livre na minha lista!", disse baixinho em seu ouvido e ele diminuiu a velocidade.

"Tobin! Como está essa manhã, meu amor?", meu pai parecia mais atencioso do que nunca e ele sabia exatamente o motivo para precisar disso. "Ainda estamos bravos por ontem?"

"Quem ganhou o jogo afinal?" todos me olharam com cara de irritados e a risada alta de papai respondeu a pergunta. "Que surpresa! Esse jogo deveria ser banido das noites em família, isso sim".