Capítulo 27 - Ironias

317 29 17
                                    


O relógio no meu pulso vibrava insistentemente. Passava um pouquinho das 4h30 e eu sabia que precisava levantar. Tirei meu braço debaixo do rosto de Chris e alonguei-o sentindo um pequeno formigamento.

Fui até o guarda-roupa e tirei uma pequena mochila. Chequei se a garrafa térmica que estava lá dentro estava limpa e coloquei os tecidos que tinha separado no outro bolso junto com todo o restante que já tinha deixado pronto.

Fui até a cama e beijei Press no rosto, seguindo uma trilha até sua orelha, onde sussurrei seu nome. Ela abriu seus olhos devagar e piscou algumas vezes, olhando-me confusa.

"Vem comigo?" Continuei no mesmo tom.

"Ir para onde, Toby?" A voz dela era quase inaudível.

"Quero te mostrar uma coisa." Ela segurou minha mão, mas jogou a cabeça para trás enquanto eu a puxava para fora da cama. Ajudei-a a colocar a camiseta e um shorts, e a calçar o tênis enquanto ela resmungava alguma coisa e enfiei os pés nos meus a guiando para fora do quarto. Entramos no elevador e ela encarou a pequena tela lá de dentro.

"Amor, está cedo até pra mim." Ela disse e eu senti meu coração disparar por ela me chamar daquela forma. "Está escuro ainda!"

"Ainda..." Respondi quando as portas se abriram. Passei na recepção, pus água quente na garrafa térmica e levei-a para fora.

Quando passamos pela praia, Chris parecia mais alerta. Seguimos pela trilha do dia anterior e subimos até o topo onde estava a pedra que vimos da última vez. Era possível enxergar a praia e o resort inteiro de lá.

Estendi os tecidos e sentei, abrindo as pernas para que ela sentasse entre elas. Ela não pensou duas vezes, apoiando a cabeça em meu ombro.

"Se quiser, tem sachês de chá e um pequeno coador de café dentro da mochila." Disse ao enfiar meu rosto nos cachos dela.

"Você pensou em tudo, né?!" Ela virou o rosto depois de dois segundos, encarando-me. "Você decidiu ver o nascer do sol no último dia?"

"Eu decidi que quero tudo com você, Chris!" Ela me beijou e eu percebi ali que tinha sido minha melhor decisão.

O nascer do sol era algo que eu admirava muito, amava a sensação de ver um novo dia acontecer, mas não o fazia com muita frequência.

Em todas as minhas viagens, eu deixava a última manhã para ver o sol nascer em algum novo lugar do mundo. Geralmente eu ficava acordada e esperava o dia amanhecer, agradecia pelo mês no lugar e recarregava as energias para voltar à minha vida normal. Era a primeira vez que eu acordava para isso, a primeira vez que inseria alguém num ritual tão meu e permitia-me sentir tristeza pelo fim de algo.

Mesmo com uma dose de café, nossos olhos estavam lutando e decidimos retornar para meu quarto depois do sol já ter dado seu grande show. Acho que isso também era parte do ritual na minha cabeça.

A garota chegou tirando sua roupa e escalando em direção ao travesseiro. Parece que tínhamos um pacto silencioso de nunca dormir de roupa quando estávamos juntas, mesmo que fossemos apenas dormir. E foi exatamente o que fizemos.

Depois de algumas horas, Christen, enrolada na coberta, encarou-me por um tempo com os olhos semicerrados de sono. Ela conseguia ser mais bonita de manhã. Procurou pelo celular antes de falar alguma coisa comigo, sem sucesso. Eu observava a confusão da garota que acabara de acordar e me divertia com a forma atordoada que ela tentava fazer as coisas.

Não eram todos os dias que eu tinha a chance de ver a perfeita Press completamente sem rumo.

"Está tudo bem, meu amor?" Perguntei e ela focou os olhos em mim.

Uma margarita e uma lua azulOnde histórias criam vida. Descubra agora