MIDORIYA
Todoroki tinha me chamado pra conversar com ele depois da janta, e eu tenho que dizer que passei a noite toda ansioso pra essa conversa, tanto que comi tão rápido, que fiquei satisfeito mais rápido e agora, podia ter a conversa com o bicolor mais cedo.
Embora estivesse feliz pelo Shouto querer compartilhar mais as coisas comigo, eu estava preocupado com a minha amizade com o Bakugou. Não era possível que por um erro eu fosse perder o meu melhor amigo. Mas o loiro é tão cabeça dura, que ele ia fazer questão de deixar claro que ficou chateado com o acontecimento na cozinha, tanto que nem com o Kirishima estava falando.
Kaminari Denki, ele era o alvo do loiro no momento, e parece que depois de se desapontar comigo e com o Kiri, ele quis seguir em frente com seus próprios planos e à sua própria maneira. Ambos os loiros conversavam em um sofá desde que a janta estava sendo preparada.
Mas bem, pensei um pouco, e se eu resolvesse isso depois dele ter ficado com alguém, ia estar de bom humor e seria mais fácil de dialogar, então agora eu apenas iria atrás do meu alvo.
Dei duas batidas na porta do quarto do Todoroki e ouvi ele dizendo que eu podia entrar, então assim o fiz. Adentrando o quarto, vi que o garoto tinha o cômodo decorado de uma forma bem diferente dos outros, mas ia deixar pra falar sobre isso numa outra hora.
— Oi, o que você queria me falar?
— É muita coisa, quer se sentar? — afirmei com a cabeça e sentei à sua frente, apenas vendo seu rosto apreensivo — Eu tava conversando com o meu irmão mais velho, o Dabi, e perguntei pra ele algumas coisas sobre amizades. Ele disse que era algo essencial saber coisas um do outro, então quero te contar tudo sobre mim, pra que depois você me fale da sua vida, pode ser?
Eu achava bastante atencioso da parte dele, que se importasse em manter uma amizade realmente bacana comigo, mesmo que pra isso precisasse de ajuda de terceiros. Achei também muito engraçadinho sua ingenuidade por pensar que amigos apenas compartilhavam tudo sobre si em um dia só.
— Tudo bem Todoroki, pode falar. — ele deu um sorriso mínimo e começou então, a narrar sobre a falta de infância que teve, a forma que foi tratado pelo seu pai esse tempo todo, me contou sobre sua mãe e a vida dela no hospital, e muitas outras coisas, como a forma que ele conseguiu uma cicatriz em volta do olho.
Ele tem aquelas histórias de protagonista de mangá, e penso que ele seria o personagem principal em qualquer trama.
— Em conclusão, a minha falta de convivência com pessoas acabou me tornando... Como posso explicar? — colocou a mão no queixo, estava pensativo — É, virei uma espécie de vegetal.
— Nada a ver, ainda existe tempo pra você mudar e começar a se relacionar com os outros, recomeçar é bom às vezes. — eu brincava com um copo descartável que o bicolor tinha me dado anteriormente pra beber água — Se remoldar é bom.
— Hm, entendi, foi a mesma coisa que o Dabi disse. — ele citou tantas vezes o irmão na conversa, com certeza parecia inspirar o Shouto.
— Vocês são bem próximos né? Você e o seu irmão. — ele sorriu de novo e desfez a ação rapidamente.
— Ah, a gente era né, mas aí meu pai mandou ele pra estudar em outro país com uns parentes que eu nunca ouvi falar. — deu uma pausa pra respirar fundo e olhar pro teto, e me perguntei se ele estava querendo chorar — Ele era o único que se atrevia a me defender do meu pai, e quando ele foi embora, tudo ficou tão pior, Midoriya.
— Desculpa tocar no assunto... — toquei no ombro alheio tentando passar um consolo que nunca ia ser o suficiente.
— Não, tudo bem. Ele ainda me liga às vezes pra conversar, e mesmo que esteja sempre ocupado, disse que eu sou uma prioridade dele. — sorriu lembrando do irmão, e eu queria tanto que ele mantivesse esse sorriso pra sempre — Mas bem, é só isso. Acho que não tenho mais nada pra falar, sua vez.
— Bom, eu nasci sem uma p... — parei no instante em que percebi a merda que ia fazer. Mesmo que eu achasse o bicolor confiável, não podia trair a confiança do All Might, contando sobre o One for All — Poupança. Eu nasci sem uma poupança. Os médicos diziam que ia ser impossível de eu ter uma, porque aos 4 anos, todos tinham menos eu. Até a minha mãe tinha perdido a fé em mim. Mas ano passado, Shouto, eu conheci uma pessoa incrível, e essa pessoa me passou uma poupança da, hm, família dela. — ele me olhava com curiosidade e espanto, e meu deus, eu já tinha começado mal assim?
— Mas essa pessoa te deu a poupança mesmo assim? Mesmo sendo de família? — seus olhos brilhavam com a minha história, mesmo que "poupança" fosse algo estranho de se nascer com, ele ainda assim acreditava em mim. Ou será que por ser burguês, ele já tinha nascido com uma poupança?
— Sim, esse cara que eu conheci abriu as portas pra mim, porque disse que viu potencial em mim, um potencial que ninguém nunca antes tinha visto em mim. — eu parei um pouco pra enxugar uma lágrima solitária que descia pelo meu rosto — Receber aquela poupança significou tudo pra mim, ainda mais de alguém que eu admiro tanto, sabe?
— Poxa, então você se remoldou com aquela poupança? — assenti com a cabeça e ele pareceu maravilhado — Acha que eu consigo também?
— Uma poupança? Acho que sim, digo, eu poderia te ajudar com isso, mas eu ganhei a minha e não sei direito como controlar... — ele riu e então negou com a cabeça.
— Não Izuku, acha que eu consigo me remodelar também? — eu sorri e disse pra ele com a maior certeza de todas.
— Shouto, você pode mudar sempre que quiser, essa é uma das graças de errar.
— Amei, acho que eu vou tentar superar esses meus... Assuntos. — ele tava tão sorridente, era como se eu conversasse com alguém cuja a chama apagada acabara de ser acesa novamente — Então, hm, voltando a você e tudo que envolve a sua vida... Como vai o Bakugou?
É, acho que esse garoto explosivo não vai sair da mente do bicolor tão cedo...
— A gente meio que não tá mais se falando. — assim que ele perguntou o motivo, eu gelei de uma forma... — Não é nada muito interessante, até porque ele fica bravo por nada, haha! — eu até tentei fingir a risada, mas né.
— Então você não tem um melhor amigo agora? — ele realmente não sabia esconder emoções muito bem, parecia feliz com o meu possível término de amizade.
— Não sei, quer dizer, — passei as mãos pelo rosto e suspirei. Eu tinha ficado tão exausto pensando em 1001 formas de tentar explicar o que tinha acontecido na cozinha, mas nenhuma era boa, a culpa era só minha e do temperamento dele — às vezes ele consegue ser tão estúpido! Nunca conheci pessoa tão mimada quanto ele, e isso fora a maldita arrogância que ele tem.
Eu comecei a ficar inquieto, a minha respiração acelerando sem motivo nenhum, e eu não sabia o que fazer pra controlar isso. Tinha que responder a pergunta do Todoroki, mas não podia falar algo que nem eu sabia.
— É só que, o jeito dele me deixava sufocado às vezes, mas eu aprendi a lidar com isso, enquanto o ajudava a melhorar. Mas é exatamente isso, às vezes parece que uma relação de dois se construía na base de um, e eu sempre quis contar isso pra ele, dizer que desde o começo sou eu quem carrega isso tudo. Tudo. — antes que eu pudesse perceber, estava chorando, e botei tantos sentimentos pra fora, que eu quase não acreditei. Em um ato meio sem jeito, o bicolor pôs sua mão em meu ombro, apertando o local.
— Midoriya? — ele levantou a minha cabeça com sua mão esquerda, eu conseguia ver sua feição apesar das lágrimas — Ainda dá tempo de se remodelar. — sorri pra ele, e o mesmo retribuiu. Aquele pequeno gesto fez com que eu me sentisse um bobo apaixonado por alguém que já gosta de outro alguém. Resumindo, exatamente o que eu era.
— Sim... Por sorte eu tenho você! — desviei o olhar e continuei — Somos os melhores amigos que a UA já viu. — o que eu disse fez com que ele se sentisse tão bem, eu pude sentir. Shouto acabou ficando apreensivo ao me ver perdendo a calma, então falei aquilo mais pra ele que pra mim.
Em toda a verdade, um pouco de mentira faz bem, e eu não sei se seria capaz de contar pra ele um dia, mas o jeito que o amo, não é o mesmo que eu amo o Kacchan. Meu coração se alegra vendo o loiro feliz, mas não acelera e me faz sentir bobo como faz com Todoroki. Então melhores amigos é algo que eu e o bicolor nunca poderíamos ser, verdadeiramente.
Assim como eu e o loiro não poderíamos virar estranhos.
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Dazed and Confused - TodoDeku
FanfictionIzuku Midoriya não sabia que estudaria junto com seu melhor amigo na melhor academia de heróis até entrar lá, assim como não sabia que ia se apaixonar por um dos garotos mais complicados e emocionalmente difíceis da turma.