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MIDORIYA

Na nossa antiga escola, Bakugou e eu sentávamos com alguns outros amigos, mas como não conhecíamos ninguém além de nós mesmos aqui, resolvemos que ficaríamos novamente na nossa própria mesa, talvez conversando sobre outros alunos. Plano esse que eu soube, não ia progredir, e tive certeza disso, quando notei dois garotos vindo na direção da nossa mesa.

— Err, oi, eu e o meu amigo podemos sentar aqui? — era o menino de cabelo vermelho que Bakugou tinha gostado, ele estava com um amigo loiro — O refeitório tá bem cheio, sabe, e não queremos mesmo ficar perto dos banheiros. — soltou uma risadinha humorada no fim de sua frase, e eu soube que precisava acolher aqueles caras. Sentar do lado dos banheiros, nunca é uma boa opção.

Olhei pra Katsuki e pisquei ligeiramente, fazendo com que ele me devolvesse uma cara feia, já que com certeza estava tendo um momento de surto pela carne ter caído em prato de carnívoro, e eu tava pressionando ele. Voltei o meu olhar aos dois na nossa frente e deixei que se sentassem.

— Obrigado. — o de cabelo amarelo disse — Aliás, me chamo Kaminari Denki, prazer. — eu e Bakugou nos apresentamos logo após, e vendo que seu amigo não ia falar nada, Denki resolveu o apresentar — Esse é o Kirishima, um amigo de vários anos. No começo ele é quietão, mas daqui a pouco tá falando do tamanho do pau dele com vocês e... — por um momento engasguei com o suco que bebia.

— Kaminari!! Que porra? — protestou o ruivo com vergonha, o que era perceptível pelo rubor em suas bochechas.

— Tudo bem, sem problema, e na verdade, se quiser falar sobre isso com a gente, fique a vontade...

— Bakugou!! Para de ser assim! — dei um tapa em seu braço, fazendo com que parasse de rir e começasse a falar que eu não tenho senso de humor. Apenas ele e Kaminari se divertiam com mais algumas piadas sobre o assunto.

Conversa vai, conversa vem, o intervalo acabou e fomos todos juntos caminhando até a sala, estávamos os quatro no meio do corredor, quando me vêm uma vontade gigante de ir no banheiro. Assim, fiz com que os outros fossem na frente. Quando me virei — meio sem jeito — dei de cara com o garoto bicolor de mais cedo. Ele falou alguma coisa que eu não entendi, porque só então percebi que ele era bem mais alto que eu, também notei que sua cicatriz era bem grande, e seu cabelo parecia natural, algo que na minha cabeça era confuso porque-

— Posso ajudar? — perguntou o garoto. Fiquei tempo demais o olhando, ótimo, ele vai pensar que sou idiota — Oi...? — eu ainda não havia respondido, então respirei fundo e soltei o melhor que pude:

— D-desculpa, licença. — saí andando sem olhar pra trás, então quando estava a uns 4 metros do menino, parei e virei pra trás, encarando seu rosto, ele estava confuso. Eu não sabia nem como falar, mas havia acabado de perceber que não sabia onde era o banheiro.

— Tá tudo bem com você? — perguntou sériamente. A voz dele era tão bonita... — Parece perdido.

— Ah sim, perdido nos seus olhos. — até hoje não sei porque eu pensei que cantar ele seria uma boa idéia, e percebo que não tive um pingo de noção — M-MEU DEUS, DESCULPA! Eu vivo brincando assim com os meus amigos, é um hábito. — talvez o meu nervosismo tivesse entregado que a justificativa era mentira, mas depois daquela vergonha, já nem importava mais.

— Hm, okay? — incrível mesmo, era o jeito que preservava a mesma cara desde que o vi hoje cedo — Então não quer ajuda? — por um segundo pensei "oh nossa como ele é atencioso", mas acho que não é difícil reconhecer uma pessoa que está morrendo de nervosismo por dentro e por fora.

— Na verdade... Sabe onde é o banheiro? — perguntei meio sem jeito, e pelo seu rosto eu não pude saber, mas acho que ele esperava algo maior que "me mostra o banheiro".

— Não é essa porta, literalmente, do seu lado? — realmente, estava do meu lado e eu nem tinha percebido.

— Ah, eu... Obrigado... — queria lhe agradecer, e o mais adequado seria chamá-lo por seu nome. O problema mesmo era que eu não sabia seu nome — Obrigado... Pavê? — eu pensei mesmo que não existisse um jeito de sua expressão ser ainda mais neutra, o que me assustou um pouco. Murmurei um pedido de desculpas, e em passos largos, abri a porta ao meu lado.

E sim, ele me lembrou muito um pavê.

Entrei no banheiro e me tranquei na primeira cabine vazia que havia lá. Depois de fazer o que eu tinha que fazer, lavei o rosto e voltei pra sala, tendo os olhares em cima de mim a cada passo que eu dava. Só quando me sentei, soube que tamanha atenção era porque o professor me encarava.

— Você, de cabelo verde, está seis minutos atrasado. Pode se retirar da sala até a quinta aula. — Aizawa não parecia bravo, mas mesmo assim queria me colocar pra fora da sala por alguns minutos de atraso. Poxa, nenhuma piedade nessa escola pelo visto.

— Professor! — o bicolor levantou sua mão lá no fundo da sala, e quando o moreno lhe deu atenção, falou — Conversei com Midoriya agora pouco, ele tinha ido tomar remédio e se atrasou. — ainda penso muito em sua vontade de me ajudar mesmo depois da vergonha que passei com ele. Sorri pro sensei e concordei com o que o... Pavê havia dito.

— Seis minutos pra tomar remédio? Faça-me o favor e saia da sala, estamos perdendo tempo. — parei de sorrir instantâneamente e amaldiçoei até a quinta geração dele. O professor não era nenhum pouco tolerante, e parecia que era o ponto final pra aquela discussão.

— Professor, o Deku é alérgico a alguns remédios... Imagine se aconteceu de ter tomado algo que não fez bem pra ele? — o loiro à minha frente se posicionou — É sério, ele é tão burro que até hoje não sabe o que faz mal a ele nesses remédios! — a sala inteira começou a rir, e cada vez mais, eu me encolhia na cadeira.

— Tanto faz então, pode ficar agora mas não vou tolerar mais atrasos, de ninguém, ouviram turma? — o mais velho continuou a me encarar de forma estranha, como quem não acreditava em uma palavra dita pelos outros.

— Valeu Kacchan. — ele apenas sorriu levemente sem mostrar os dentes — Bakugou... — chamei baixinho — ...Como o garoto de cabelo bicolor se chama?

— Você não sabe? Não prestou atenção na chamada? — virou seu rosto o suficiente pra que eu pudesse vê-lo.

— Só esperei pra responder na minha vez e depois continuei anotando algumas coisas... Mas se você sabe, me diz, eu quero agradecer ele depois e nem sei como se chama. — na verdade, só não queria ter que chamá-lo de pavê de novo.

— É Todoroki Shouto. — o loiro se virou um pouco mais pra trás e puxou meu rosto pra perto dele, alcançando a minha orelha — Quando você for agradecê-lo, me avisa que eu vou junto.

— Por que você quer ir? — ele revirou os olhos e se aproximou de novo para cochichar.

— Porque eu gostei dele, Deku seu idiota. — eu só consegui soltar um "ah" como resposta — Na verdade, gostei dele e do tal do Kirishima, mas duvido que queira conversar comigo depois da piada de hoje no refeitório... Então eu vou tentar algo com o Todoroki primeiro. — o "gostar" do Kacchan é "achei pegável".

— Entendi... te aviso sim. — percebi que o professor havia terminado de escrever na lousa, então cutuquei Bakugo e ele virou pra frente, enquanto eu fingi que anotava outras coisas.

Dazed and Confused - TodoDekuOnde histórias criam vida. Descubra agora