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MIDORIYA

Ele piscou pra mim. O garoto com mais cara de morto que eu já conheci na minha vida, piscou pra mim. Mesmo que eu só tivesse surtado mesmo no meu quarto, no momento eu tava em choque porque talvez, só talvez eu tivesse entendido o recado curioso dele, que se baseou em lápis de cor e música. Ahh, eu passei um tempinho atrás dessa tal canção, e com um trecho que eu tinha memorizado, consegui encontrar.

Fui pegar a letra e fiquei um tempinho analisando, como se eu fosse quase um Sherlock Holmes, ou então como se eu fosse genial. O negócio era que, depois de ler e reler a letra enquanto eu me viciava naquela música, eu comecei a pensar num negócio muito bom: o Shouto gosta de mim. Eu deduzi isso por duas partes da música.

"Eu tenho estado atordoado e confuso desde o dia que te conheci"

"Atordoado
Atordoado e confuso
Atordoado"

Se o lápis laranja for o Kacchan, então ele deixa o Shouto atordoado. Se o lápis verde fosse eu, então eu o deixo confuso desde o dia que nos conhecemos. E como se fosse um quebra-cabeça, tudo parecia começar a se encaixar. Eu fiquei pensando nisso por tempo o suficiente pra concluir que, ele não só queria me beijar quando estava bêbado na festa da primeira noite nos dormitórios, como me chamava de "menino mais bonito da festa".

Na noite da festa, ele também queria me dizer algo, eu lembro claramente da minha expectativa quando ele disse "E isso nem é o pior, mas ele me deixa muito..." agora que eu tinha todas essas peças ao meu alcance, eu liguei a música ao que ele podia ter me dito, será que eu o deixo...

Confuso?

- Meu. All Might. Do céu. Quem estava começando a ficar confuso era eu. Será que tinha que me declarar? Dizer pra ele o que eu sinto? Ou apenas deixar ele quieto? Mas se eu só deixo ele confuso, então ele ainda gosta do Kacchan, será que me aceitaria? Mais importante, o pai dele me aceitaria? Meu deus, a minha mãe sabe que eu sou bi? Pera, eu nunca contei pra ela do Shinsou? Meu pai amado, mas e se a sala toda começar a me olhar torto por ser bi?? Não tem como, todo mundo parece de boas, né? Afinal são todos aspirantes a heróis.

Depois de murmurar sem parar, eu decidi por mim mesmo que ia escolher um momento menos tumultuado pra expôr o que eu sentia. Ele já me contou do quanto estava mal, enfiar o que eu sinto nisso tudo seria um erro, talvez ele acabasse me achando muito precipitado. Portanto, eu queria primeiro ajudar ele, pra depois pensar em construir algo a mais.

Fora que ainda tenho que me resolver com o meu ex melhor amigo.

[...]

- Todo mundo vai ver o filme né? - Uraraka perguntou aos que estavam na mesa jantando, ou seja, a turma toda. A maioria dizia que ia ver, então eu também disse que ia, afinal era de terror. Mesmo que eu preferisse comédia, amo filmes que me deixam com medo depois, é um tipo diferente de masoquismo, vocês não entenderiam.

- Eu vou dormir. - falou Bakugou, o curioso é que ele tinha sido um dos que disse que ia ver o filme, é só depois que eu concordei em assistir também, ele voltou atrás na escolha.

- Eu não vou ver também. - Todoroki se pronunciou pela primeira vez em tantos dias, o que fez com que quase todos o olhassem com espanto - Bom filme pra vocês. - eu até ia tentar convencer ele a se juntar a nós, mas outra pessoa fez isso por mim, o Sero - Eu preciso dormir, desculpa. - assim, todos aceitaram a saída dele sem contestar.

- Bakugou, você não ia ver o filme não?? - Ashido Mina perguntou.

- Não posso mudar de idéia não?? - Kaminari, que era conhecido por não ter medo da morte, o chamou de grosseiro e recebeu um olhar mortal do loiro - Porra, me deixem em paz! - levantou da mesa e estava quase saindo da sala, quando Uraraka se levantou e tentou uma última vez.

- A gente vai ver "Corra!" - Bakugou parou onde estava e se virou, parecia pensativo. Assim, andou até o sofá e se posicionou num lugar privilegiado de frente pra televisão.

- Okay cara redonda, eu só vou ficar porque não vi esse filme ainda. - passado um tempo quando todos já tinham terminado a refeição, nos acomodamos pra assistir o filme. Eu particularmente me sentia estranho vendo o filme "sozinho", já que por mais que eu goste de terror, normalmente eu pegava o mindinho do Kacchan pra segurar e me sentir melhor, menos tenso. Com aquela tensão toda em meu corpo, recorri a medidas desesperadas.

- Hmm, sabe Mineta, é um pedido um pouco estranho, mas você podia deixar que eu segurasse o seu mindinho enquanto a gente vê o filme?? - perguntei ao garoto que estava do meu lado e o mesmo me olhou em confusão.

- Olha cara, se você fosse mulher até dava, mas né, vai acabar com a minha reputação. - que reputação meu jovem??

- Ahh, tudo bem então. - não havia ninguém sentado do meu outro lado, já que eu estava na ponta do sofá. Suspirei em frustração e segurei eu mesmo o meu próprio mindinho. Não era a mesma coisa, e assim que o filme começou, pensei em ir ao meu quarto. Naquele momento, como se eu estivesse numa espécie de fanfic, o universo resolveu conspirar ao meu favor, e o impossível aconteceu.

Bakugou se levantou meio exitante de onde estava, e depois de quase chutar o Mineta do meu lado, ele se sentou onde antes estava o menino de cabelo roxo. Assim que estava acomodado no sofá, bufou e pegou a minha mão, colocando ela envolta de seu mindinho.

Admito que fiquei meio sem graça, não no sentido ruim, mas pela primeira vez em muito tempo, eu não sabia o que falar.

- Eu sei que você tem medo, então não ia te deixar sozinho, Deku de merda. - ele falou aquilo bem baixinho pra mim, e eu senti que o meu coração explodia em felicidade, tendo uma das pessoas mais importantes, de volta pra mim - Me considere a melhor pessoa do mundo por voltar a te aceitar, mesmo depois da merda que você fez. Não aceito menos que isso.

- Tudo bem Kacchan. - sorri pra ele e continuei olhando seu semblante sério, que logo mudou pelo menos um pouco quando sorriu de lado e, revirando os olhos, apoiou a minha cabeça em seu ombro, pra que ele apoiasse a dele na minha. Que nem quando éramos menores.

O momento foi tão bom, que inclusive pude ignorar os olhar de Kirishim em nossa direção.

O filme todo se passou e eu apesar de chocado, estava feliz e melhor do que nunca.

- Deku! - Kacchan chamou assim que eu me levantei do sofá, fazendo com que voltasse minha atenção a ele - Eu ainda tô puto, mas se fui atrás de você, foi porque eu sei o quanto você me acha sem iniciativa na amizade. Então, eu fiz as pazes, espero que cale a boca agora. - ele não parecia sério nem bravo, mas fazia questão de dizer isso pra não se sentir um extremo sensível.

Mas era exatamente isso que ele era.

- Ah, e eu sei o quanto você e o meio a meio estão próximos. Se me trocar por ele, eu juro que enfio uma bomba no seu cu. - podia ter levado a sério? Podia, mas seu pequeno sorriso denunciava que ele estava tão feliz quanto eu. Uma conversa de pedido de desculpas eu podia fazer depois, não ia estragar um momento bom daqueles com mágoa.

Os melhores amigos do mundo estavam de volta, e eu prometi a mim mesmo de checar meu celular sempre que possível.

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Feliz Natal galero ❤️

Dazed and Confused - TodoDekuOnde histórias criam vida. Descubra agora