Capítulo 7

232 47 14
                                    

HANNAH

Consegui acostumar com a rotina do trabalho, mas sair de casa continua sendo algo difícil para mim. Embora já fizesse algumas semanas que eu esteja trabalhando nos correios, parece que nunca deixo de ser novidade. Tanto entre os meus colegas de trabalho, como também quando ando nas ruas, ou vou no mercado mais próximo. Continuo comendo qualquer besteira na minha sala mesmo, ir para restaurantes para mim ainda está fora de cogitação.

Porém, não demora muito para eu enjoar das batatas chips, acabo então tendo a ideia de ir até a padaria tomar um café e quem sabe comer uma rosquinha, enquanto procuro uma na hora do almoço, quase sou atropelada por um carro, tomo um susto com o barulho do pneu freando com força, dou uns passos para trás, e quase caio sentada no chão.

Assim que me recupero e volto rapidamente para a calçada, olho rapidamente para o motorista e vejo que se trata de um homem barbudo, ele grita pela janela um pedido de desculpas, porém simplesmente o ignoro e continuo a minha procura pela padaria.

Chego a encontrar uma na esquina, peço a rosquinha e um café. Tomo primeiro o café e logo depois começo a comer a rosquinha, olho ao redor, vejo algumas pessoas dentro da padaria, ainda ter pessoas próximas me incomoda, ainda mais vendo que quase todas elas chegam a olhar para mim, disfarçadamente, mas consigo notar os seus olhares curiosos.

Depois de comer volto para o meu trabalho, encontro Adam no corredor, a caminho de minha sala, até mesmo me assusto, por não esperar vê-lo ali, sei que chego a encontra-lo com mais frequência do que o normal, acredito que ele arma esses encontros de propósito. Ele quer ser meu amigo, ou talvez queira algo mais, é uma pena, pois sei que ele está perdendo tempo.

— Oi, hoje não foi ao mercado? — ele pergunta, tentando sorrir de forma simpática.

— Não me diga que me procurou por lá? – pergunto. Realmente encontrei Adam no mercado duas vezes na mesma semana, e engraçado que parece que ele não estava querendo comprar nada, o que faz ainda mais minha teoria parecer certa, nossos encontros não são tão coincidências assim.

— Eu fui lá comprar uma batata chips e acabei não te vendo... — ele responde.

— Sei... — falo, e então entro na sala.

— O que você costuma fazer no fim de semana? — escuto ele perguntar, e me viro para ver ele entrando em minha sala, olho para ele com as sobrancelhas arqueadas, agora parecia que minha teoria está fazendo mais sentido ainda. Antes ele só estava armando encontros, agora, já está querendo dar um novo passo. Sinto que preciso cortar as suas asas.

— Fico em casa, e sei que você sabe disso... — falo e sento a minha mesa.

— As vezes é bom sair um pouco! – ele fala.

— Já saio todo dia para vir para o trabalho... — digo rapidamente, e ele nem imagina o quanto isso é torturante para mim.

— Não digo trabalho, ninguém quer vir trabalhar, mas somos obrigados, mas sair, ver gente, se distrair, já é outra coisa! — ele responde, respiro fundo e então cruzo os braços em cima de minha mesa, enquanto o olho seriamente.

É engraçado, todos acham isso uma diversão, eu também achava isso uma diversão, seria até um absurdo se eu falasse para ele, nesse momento que sair e ver pessoas é a ultima coisa que quero fazer na minha vida. Mas claro, eu só pareceria mais louca do que já sou.

— Adam... — começo, ele para de falar, e então rapidamente se senta na cadeira em frente a minha mesa, mesmo não tendo sido convidado.

E então sorri de uma forma bem convidativa, tenta forçar, ser até mesmo mais simpático do que realmente é. Mas confesso que ele não parece ser uma pessoa ruim, a questão nem é ele, mas sim eu.

Lembranças CinzentasOnde histórias criam vida. Descubra agora