Capítulo 15

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— Como você acha que é o céu? — É a primeira pergunta que Emma me faz, assim que a reencontro no sábado.

Embora Adam não concordasse, acabou fazendo o que eu lhe pedi, e realmente encontrei Emma a uma hora da tarde no sábado, ela fora pontual assim como eu, queria que eu entrasse, mas eu pedi para ela não chamar Richard, se ele me visse eu não saberia o que falar para ele, provavelmente ele pensaria que eu estaria cercando a fazenda por conta dele, afinal, que outra pessoa ficaria indo até ali para conversar com uma criança que não conhece? Não é uma atitude muito normal.

Só que eu desconfio de que ela sofra maus tratos, e me preocupar sobre isso sim, é uma atitude que poderia até ser considerada natural.

Olho para ela e penso por alguns instantes, me lembro que fora uma das perguntas que ela fez na carta para mãe dela, e com certeza seria uma das perguntas que seria muito difícil para mim responder.

— Deve ser um lugar muito bonito... — digo.

Estávamos sentadas ao chão, uma em frente a outra, com o portão trancado nos separando, percebi que ela olha para o céu, eu fiz o mesmo. Ele está bem azul, sem sinais de nuvens.

— E Deus, será que ele é bonito também? — Ela pergunta pensativa, a olho com as sobrancelhas arqueadas, pensar em Deus não é um costume, nunca fui muito religiosa.

— Acredito que sim, afinal, ele criou o mundo, tudo que tem nele, então, tem que ser alguém muito lindo, para fazer coisas tão bonitas, não é? — pergunto, ela sorri e assente com a cabeça.

— Mas você nunca teve raiva dele por ter levado as pessoas que você ama muito cedo?

— Você por acaso tem, por ele ter levado sua mãe?

Ela dá de ombros, e olha para o chão.

— Não sei, acho que ele amava muito a mamãe e aí quis a levar mais cedo! — Ela fala, e sorrio para ela, enfio a mão no portão para pegar sua mãozinha.

— Você se sente muito sozinha, não é? — pergunto.

— Já me acostumei! — diz, mas vejo que seus olhos são tristes.

— Eu sei como se sente... — falo e ela me olha. —Embora eu sou sozinha porque quis... agora você é porque não teve escolhas!

— Por que você quis ficar sozinha? — Ela me pergunta.

Penso por alguns instantes, antes de responde-la.

— Eu perdi pessoas, e não soube lidar com isso! — falo, olhando para o chão. — Eu... acho que quis me punir... que, não sou mais digna de viver no mundo! — os olhos marejam com esse ultimo comentário, sinto um pesar em minha garganta, a mão da menina segura a minha com mais força e isso alivia um pouco minha dor.

— Você é boa tia Hannah e muito bonita! — Ela fala, uma lágrima cai dos meus olhos e a retiro com dedo, enquanto sorrio.

— Você acha mesmo princesa? — pergunto.

— Sim, é boazinha que nem a tia King! — fala, trocamos sorrisos. — Você vai me visitar mais vezes?

— Você quer que eu te visite? — pergunto e ela assente com a cabeça.

— Eu posso trazer o Ted da próxima vez!

— Ah teu urso? Tem cuidado bem dele? — pergunto, vejo que o sorriso dela se desfaz.

— Posso te contar um segredo? — pergunta e eu concordo com a cabeça. — Papai acha errado eu gostar do Ted, diz que é por culpa dele que não tenho amigos e a tia Britney também, sempre tenho que esconder ele para ela não roubar!

Lembranças CinzentasOnde histórias criam vida. Descubra agora