HANNAH
— David... filho, o que você fez? — pergunto, com o coração disparando, olhando para ele apavorada, meus olhos marejavam, minha respiração ofegava e minhas mãos tremiam. Sentia como se estivesse dentro de um pesadelo, que aquele que estava parado em minha frente não era meu filho.
Não, não era David que estava me olhando com aquele olhar ameaçador, não era meu filho que estava parado em minha frente. Isso não era real, não poderia acontecer de verdade, mesmo vendo histórias em noticiários, na internet, em outras famílias. Na minha não.
Não poderia estar acontecendo...
— Aquilo que eu queria fazer há muito tempo... — Ele disse num tom frio, olhando-me com um olhar vazio, como se não estivesse ali, como se não tivesse apontando uma arma em minha direção. Senti uma lágrima escorrer, e naquele instante pensei, que o melhor mesmo era morrer.
Do que ter que conviver com isso.
E é então que eu ouço o disparo...
— Hannah... Hannah...
Tenho a impressão de que gritei, sento rapidamente na cama, e olho para meu lado, avistando Richard.
— Richard... — digo ofegante, passo a mão em minha testa e sinto o suor escorrer.
— Parece que você estava tendo um pesadelo! — Ele diz, e se senta na cama, ao meu lado. — Ouvi do corredor e vim aqui, e percebi que você estava bastante aflita! — noto que ele me olha com um olhar desconfiado. — Novamente escutei o nome de David, você estava tendo pesadelos com seu filho, não é?
Desvio o olhar para minha frente.
— Isso não acontecia algum tempo, pensei que já estava superando, mas quer dizer, acho que isso nunca se supera... — confesso, com os olhos marejados.
— A gente não supera, a gente aprende a viver com as perdas... — Ele fala, com um olhar distante, fico o observando por alguns instantes.
— E se eu disser que a questão não é apenas a perda? —pergunto, após alguns segundos em silêncio.
— Eu diria que entendo, porque acontece o mesmo comigo...
Fico o olhando sem entender.
— Você está falando da sua ex-esposa?
Ele então me olha também.
— Sim, eu perdi minha esposa em um acidente de carro... eu estava dirigindo, a gente estava brigando, e eu me distrai, e então sofremos o acidente, e ela morreu... — Ele conta, eu escuto tudo com atenção.
— E imagino que você sente culpa por isso, não é? Por que você se distraiu, não deveria estar dirigindo nervoso, e sei lá mais o que! —olho para baixo, escuto então ele rir, parece uma risada irônica.
— Por que você pensa que é isso? —pergunta e eu volto a olhá-lo.
— Porque é do ser humano, a gente costuma se culpar por toda merda que acontece com a gente...
— Você se culpa pela morte do seu filho? — Ele me olha com um olhar curioso.
— Na verdade, eu me culpo por não ter sido a mãe que eu deveria ter sido, as vezes penso que, eu deveria ter feito algo de diferente, talvez... ter dito que o amava mais, ter dado mais atenção quando visse algo errado, que eu deveria ter pensado que as coisas que eu achava pequena, não era na verdade tão pequena assim... —Eu noto que meu tom era choroso, como na maioria das vezes que eu toco nesse assunto.
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Lembranças Cinzentas
RomanceExiste algum tipo de regra para superar uma dor? Hannah e Richard estão sempre fazendo essa pergunta, duas pessoas totalmente diferentes, mas que tem algo em comum: Ambos vivem preso a uma dor muito profunda que viveram no passado. Hannah mudou-se p...