Capítulo 8

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Ainda estou com a carta nas mãos.

Repito a leitura dela, enquanto as lágrimas se acumulam em meus olhos, e me seguro, para não as derramar. Eu não sei como, mas senti naquele instante, o quanto aquela garotinha está precisando de ajuda.

~*~

Naquele dia, decido sair da minha sala, mais rápido do que de costume, assim que acaba o meu expediente. Tudo isso na intenção de encontrar Adam, o que é até um tanto engraçado, já que na maioria das vezes estou fugindo dele, mas dessa vez a minha intenção é encontra-lo. E por um motivo especifico: A garotinha da carta.

Encontro Adam, já se preparando para ir embora, ele ajeita uma mochila grande e azul nas costas, e depois arruma o boné, começa a caminhar para saída, quando apresso os meus passos para alcança-lo.

— Hei... Adam! — o chamo, ele olha para mim e no mesmo instante sorri.

— Oi! — ele fala. E então saímos juntos dos correios.

— Podemos conversar rapidamente? — pergunto, enquanto caminhávamos em direção aos nossos carros.

— Sim claro! — ele diz, depois olha para mim com um sorriso no rosto. — Eu estou surpreso, tenho impressão as vezes que você nunca quer falar comigo...

— Não, quer dizer, eu sei que sou um pouco difícil de lidar... — começo.

— Não, eu acho que você só é difícil de se misturar! — ele diz, e então paramos em frente ao meu carro, me encosto nele e o olho. Tento sorrir para tentar se simpática, mas o sorriso quase não sai. — Mas o que fez você querer conversar? Tem algum assunto especifico? Ah já sei, mudou de ideia e quer sair comigo?

— Não é isso... — falo, o sorriso dele diminui um pouco. — É... Sobre a garotinha, eu queria saber quem é ela, você sabe? — pergunto, tirando a carta de minha bolsa, novamente olho o envelope.

— A Emma Patterson... Ela e o pai mudaram para a fazenda que era antes dos Roosevelt! — ele disse. — Não faz muito tempo!

— Mora só ela e o pai? — eu pergunto.

— Isso, ele ainda tá contratando funcionários... Parece ser de uma família rica, acho que vão levantar a fazenda, ela não tá num estado muito bom, mas fica numa boa localização, logo no inicio da zona rural... — eu olho novamente para aquele envelope, enquanto penso, já fico imaginando como deve ser a garotinha. — O que tem nessa carta? — ele pergunta, parece curioso.

— Ela simplesmente escreveu uma carta para mãe, dizendo que está com saudades dela... Parece que realmente acredita que essa carta pode chegar até o céu... — falo, voltando a olhá-lo. Ainda não entendo porque quis ler a carta, foi algo de impulso, algo que senti no momento, como se um interesse que nunca fez parte de mim antes me consumisse e me fez me interessar por uma garotinha que sequer sei quem é.

— Parece um desejo desesperado então... — ele fala.

— E como, acho que ela está com problemas... — digo, depois me viro para abrir a porta do meu carro.

— E o que você vai fazer com essa carta? —ele pergunta, me fazendo voltar a olhá-lo.

— Se eu a responder, você entrega para mim? — pergunto, ele parece ficar surpreso com meu pedido.

— Está falando sério? Vai fingir que realmente a mãe da menina recebeu a carta no céu e vai responde-la como se fosse ela, para a garotinha acreditar que realmente foi a mãe que a escreveu? — ele pergunta ainda surpreso com minha atitude, eu concordo com a cabeça.

Lembranças CinzentasOnde histórias criam vida. Descubra agora