Capítulo 2

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Fora numa quarta-feira de manhã que eu decidi sair para o mundo, fazia mais ou menos uns quinze dias que eu estava dentro de casa e não tinha coragem nem mesmo de me aproximar da janela, dentro desses quinze dias eu ouvi barulhos estranhos do lado de fora, sabia que tinha gente aprontando, e até pensei em como estaria o estado do meu carro, mas não tive coragem nem mesmo de olhar.

Decidi sair de casa ás sete e quinze da manhã, comecei me arrumar exatamente ás seis e meia, mexi em meu guarda-roupa e procurei a roupa mais adequada para vestir, eu sabia que iria conversar com Donna Johnson, e o meu estado tinha que estar o melhor possível, eu me decidi por uma saia vermelha e uma blusa social branca, lembro que a ultima vez que usei esse traje fora há mais de três anos, Robert estava comigo, logo então desvio os meus pensamentos.

Ajeito a saia, enquanto me observo no espelho, os meus cabelos estão soltos, por serem curtos não tinha muito que fazer com eles, eu tive que passar muita maquiagem para esconder o meu "ar" triste e cansado. Afinal, tenho que pelo menos fingir que estou bem.

Saio do quarto, pego minha bolsa que já está na sala de estar e quando eu já estou em frente á porta de casa, prestes a dobrar a maçaneta e sair para o mundo a fora, o telefone de casa toca, e como sempre eu sinto no mesmo momento um frio no estomago. Já imagino de quem se trata, volto para trás, para pegar o telefone.

— Alô? — falo, assim que o atendo.

— Hannah... Minha filha! — escuto a voz de minha mãe Mariah. — Se eu não te ligo, você nem sequer se lembra de mim, como você está?

— Eu estou bem mãe... — respondi para ela. – Você sabe muito bem porque eu evito ligar, mas não é porque eu não me lembro de você!

Ouço minha mãe suspirar.

— Eu sei que os meus sermões te irritam, mas você sabe que tudo que eu falo é por preocupação, já faz mais de um ano que eu não te vejo, eu estou pensando em até...

— Não! — eu falo já a cortando, pois sabia o que ela ia dizer.

— Você ainda não quer me ver, não quer ver seu pai...

— Eu pedi um tempo! – falo.

— Já demos tempo demais, não acha? – ela pergunta, e sua pergunta por algum motivo me afeta, tanto que até senti as lágrimas se formando dentro dos meus olhos, já faz algum tempo que eu não choro. Isso porque parece que as lágrimas com tempo endurecem e se tornam mais difíceis de escorrer dos olhos. – Nem a sua casa de Green Ville eu conheço...

— Eu sei, mas eu quero continuar aqui sozinha... Além do mais, comprei a casa há pouco tempo e ainda precisa de algumas reformas, antes de eu receber visitas...

— Você já tem essa casa há uns dois anos! – ela fala. – Hannah, você diz que está bem, mas ás vezes eu sinto como se você estivesse precisando muito de mim, não é bom sempre estar sozinha...

— Só mais um tempo, ta? Além do mais eu não estou sozinha, estou com David...

— David... Ai minha filha! — ela fala.

— Mãe, agora eu preciso ir... — já a interrompo, pois eu sabia que se eu não a cortasse, o assunto iria se alongar demais.

— Por favor, me liga! — a escuto dizer, antes de eu desligar.

Coloco o telefone na mesa da cozinha e olho novamente para a porta, eu sabia que agora é á hora de ultrapassá-la como se ela fosse uma barreira. Eu senti-me quase fraquejar quando dobrei novamente a maçaneta e dessa vez sai de casa, assim que dei o primeiro passo para o lado de fora, eu abro minha bolsa para pegar os meus óculos escuros, coloco no rosto como se com ele fosse possível me esconder, mas eu sei que só os óculos não é o suficiente.

Lembranças CinzentasOnde histórias criam vida. Descubra agora