Capítulo 9

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Pego novamente aquele envelope, confirmo o endereço. É a casa da garotinha, e realmente é uma enorme fazenda, paro os meus olhos em um grande portão que no momento se encontra fechado, percebo que está com pequenos sinais de desgaste, precisa ser pintado.

Estou do outro lado de uma rua de terra, a parte rural de Green Ville. Bem ao lado da fazenda onde sei que vive a garotinha da carta, dou ré com meu carro, para não ficar tão visível, pois sei que Adam pode chegar a qualquer momento, não queria que ele me visse aqui. O que eu diria a ele? Provavelmente ele vai achar que estou perseguindo a garotinha, mas sinceramente nem eu mesma sei o que estou fazendo na fazenda. Quero conhece-la? Bom... Provavelmente.

Mas não sei se hoje seria o melhor momento para isso. Mas mesmo assim, não conseguiria ir embora.

Tenho que confessar que crianças ainda mexem comigo, talvez irá mexer a vida inteira...

Seria por elas me lembrarem David? Me pergunto e ao mesmo tempo meu coração dispara quando penso nisso.

Lembro que fora por causa dessas lembranças que quase tive um ataque no trabalho, o que mostra, o quanto ainda estou abalada. Embora, o que eu poderia sentir? Sinceramente pensar em David ainda me faz ficar na duvida de qual reação seria a mais normal.

Tento refletir, mas logo desisto quando noto que uma garota loirinha, de olhos claros está  parada no portão, meus olhos parecem grudar nela, e estranhamente sorrio, e fora tão automático que quando percebo, até mesmo me surpreendo.

A menina está vestida com um vestido rosa de mangas compridas, seus cabelos loiros estão soltos e ela está usando um batom rosa, bem claro.

Ela parece um anjinho, um rosto tão angelical, e também é tão pequena e frágil, mas noto que carrega um olhar abatido, um semblante vazio, não tem o brilho infantil. É um anjo, triste.

Tiro o cinto de segurança, quase abro a porta, mas desisto quando vejo o carro dos correios se aproximando, ele passa ao meu lado e continua indo mais a frente, parando ao lado do portão onde está a garotinha.

Vejo Adam descer, e se aproximar dela, ele começa conversar com a menina, e pela primeira vez a vejo sorrir, parece que Adam se dá bem com criança, pois ela parece gostar dele.

Ele de repente se agacha na frente dela e lhe entrega o envelope, o sorriso dela se alarga, e mais uma vez noto que sorrio.

Antes parecia que não existia expressão facial em mim, agora, a olhando tudo parece tão fácil.

Depois daquele dia... depois que perdi tudo, ver crianças me transmitia um sentimento esquisito, era difícil de encará-las, olhá-las e não me sentir abalada. E agora nesse momento, ao olhar para Emma, não me senti assim, apenas a olho, como olhava para as crianças quando era mais jovem... ternura, é o que sinto.

— Tchau tio Adam! — a vejo gritar e acenar para ele, enquanto ele entra no carro para ir embora, agradeço em pensamentos sua distração, pois graças a isso ele não nota minha presença, vejo o carro ir embora e a garotinha toda sorridente começa a abrir a carta. A carta que escrevi e que ela pensa que foi escrita pela mãe dela.

E em um ato impulsivo desço do carro, e me aproximo. Vejo mais de perto a menina sorrindo, enquanto parece ler a carta, agora os olhos dela brilham, e isso me transmite um sentimento bom.

— Oi... — cumprimento, sorrindo e não sabendo muito o que dizer.

— Oi! — Ela diz, seu sorriso se alarga.

Eu me agacho em frente a portão, vejo a menina dar alguns passos em minha direção.

— Quem é você? — Ela me pergunta.

Lembranças CinzentasOnde histórias criam vida. Descubra agora