RICHARD
A lua está cheia, ela ilumina aquela noite, onde o céu encontra-se lotado de estrelas, fico o observando por alguns instantes, deitado na grama, próximo ao lago, todos já devem estar dormindo, inclusive Emma, porém eu, continuo ali, longe de sentir sono, naquela tortura da insônia, perdido em meus próprios pensamentos, das quais por mais que quisesse não consigo fugir, tenho apenas a garrafa de Whisky ao meu lado como companhia, bebo pelo gargalho, enquanto sinto as lágrimas se acumularem em meus olhos.
Me pergunto: Até onde cheguei? Até onde me permiti? O que me transformei ou deixei me transformar?
É certo que ainda não consigo superar o que aconteceu, embora Hannah já tivesse ido embora algumas horas, ainda tudo aquilo se repete em minha mente, jogando em minha cara, como sou um péssimo pai.
Não conseguir perdoar é um peso difícil de carregar, e embora as vezes pareça que tudo fica mais leve, não demora para eu me dar conta de que não fica, o por que continua ali, as vezes um pouco mais escondido, mas tem outros momentos que isso retorna, e cai em nossa cabeça como uma bomba.
Era como estou agora... me perguntando do por que? Por que isso aconteceu? Porque estou passando por algo que não consigo lidar? Nunca consegui, e agora estou sofrendo as consequências disso...
Fico com aqueles pensamentos me rodeando até pegar num sono, não sei quanto tempo dormi, só que em um momento veio o rosto dela em minha mente.
Grace... o rosto que tanto queria esquecer, que tanto queria tirar da minha cabeça, que me perturba, me machuca, e que me persegue pela Emma, que me faz não conseguir encará-la, por doer demais, por me fazer relembrar tudo aquilo que desesperadamente quero esquecer.
Me sobressalto, sentando-me rapidamente, encontro a garrafa em cima de mim, percebo que bebi quase a metade, e fico surpreso ao me dar conta de que não estou sozinho.
Tem um homem sentado no banco de madeira, só há poucos metros de distância de mim, ele está olhando para o lago, mas ao me ver acordado, desvia o olhar para prestar atenção em mim.
É Michael, o caseiro.
— Está aproveitando a noite, senhor Richard? — Ele pergunta, pega uma pedra do chão e joga dentro do lago, ela pula algumas vezes, antes de afundar de vez.
— Na verdade eu acabei pegando no sono... — falo, surpreso por ele estar ainda acordado, já deve ser de madrugada.
— Aqui fora? Deve ser meio desconfortável dormir na grama... — Ele fala e olha para o céu.
— Eu estava olhando as estrelas...
— Ah sim, muito bonitas, não é? — olha para elas, e sorri. — Já as olho mais tempo que você, já que tenho o dobro de sua idade, mas acredite, até hoje nunca cansei de olhá-las...
Me levanto do chão, e me aproximo dele, sento ao seu lado e paro os olhos no lago, mesmo não o olhando sei que ele me olha.
— Cuidado com a bebida, ela não vai te livrar dos seus problemas, as pessoas as vezes bebe para esquecê-los, mas é só uma ilusão, e ilusão desaparece tão rápido quanto surge... — Ele me aconselha.
— Eu sei... — falo olhando para a garrafa. — Se as vezes insisto é porque sou só um idiota!
— Está com problemas com Emma? Ela estava doente, não é? — Ele pergunta. Me lembro que Michael desses tempos para cá até havia feito amizade com ela.
— Estou pensando no quanto fui um péssimo pai para ela todos esses anos, no quanto me afastei por ser um fraco, porém, ela não tem culpa das minhas fraquezas, dos meus problemas, ou dos erros dos outros, ela é só uma criança, e acabou sendo a mais ferida nisso tudo... — desabafo, sentindo um apertar no coração, como desejo que aquelas palavras pudessem ser o suficiente para tirar o peso de mim, mas não é.
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Lembranças Cinzentas
RomanceExiste algum tipo de regra para superar uma dor? Hannah e Richard estão sempre fazendo essa pergunta, duas pessoas totalmente diferentes, mas que tem algo em comum: Ambos vivem preso a uma dor muito profunda que viveram no passado. Hannah mudou-se p...