Tia Hannah
Eu fui no portão te ver, acho que você esqueceu do combinado, tio Adam falou que você tá ocupada, mas eu queria pedir muitão que você arrumasse um tempinho para me ver, eu estou com muita, muita saudade, queria te contar muitas coisas, mas não quero escrever, quero falar, tem como você vir me ver no sábado?
Por favorzinho!!!
Emma
— Que droga! — falo para mim mesma, releio a carta mais uma vez, sinto meu coração bater acelerado.
~*~
Sentir medo é algo que se tornou meio natural para mim, medo de sair de casa, medo de se relacionar com as pessoas, medo de cultivar amizades, medo de viver...
Mas as palavras daquele senhor ficaram se repetindo em minha mente, enquanto eu ia para o trabalho. O olhar para trás. Era isso que me fazia sentir medo, era isso que fazia o meu corpo tremer, medo cada atitude que tomava que eu já não estava mais acostumada a tomar.
Por causa do passado... o passado que sempre me perturba.
Mas eu já tinha enfrentado tantas coisas, primeiro o trabalho, depois por Emma, eu tentei me aproximar das pessoas, obtive alguns resultados, embora depois a bomba estourou. E eu não sabia se deveria tentar concertar as coisas, novamente tentar fazer algo mais por Emma...
Ela é tão carente quanto eu, e só quer uma companhia, embora eu não deva ser a melhor companhia para ela, mas parecia que é a única que ela tinha.
Entro em minha sala, sento a mesa, e tento esquecer um pouco esse assunto, porém na hora do almoço, o assunto volta a se repetir em minha mente e acabo decidindo ir a outro lugar... não ficaria mais um almoço presa aquela sala.
Estou tão agitada, que acabo trombando num funcionário na porta de entrada dos correios, ele segura meu ombro, e seu toque me faz desvencilhar rapidamente.
—Me desculpe... —Ele sorri para mim, parece querer ser amável, me recomponho, forço um sorriso, mas acho que não funciona muito.
— Eu que peço desculpas, estava distraída... — tento não olhar muito para John, somente quero me afastar, porém ele rapidamente me segura.
— Ei, você vai á festa de ação de graças? — pergunta, puxo rapidamente meu braço da mão dele, e dou um passo para trás, noto que ele fica um tanto surpreso com meu gesto.
— Ainda falta alguns dias, não tenho certeza! — digo, embora já soubesse que não iria ir.
— Poxa, vai, aqui a gente não teve a oportunidade de conversar muito... — John dá um passo em minha direção e o olho com mais atenção.
John é mais velho que Adam, provavelmente tem trinta anos, é um homem alto, magro, de cabelos e olhos escuros, tem uma pinta escura na bochecha direita, mas isso não o deixa menos feio, até que ele é um homem bonito, mas a beleza física não é algo que chama muito minha atenção atualmente.
Na verdade, quase nada chama mais minha atenção...
— Assim você pode se misturar mais, você já mora algum tempo na cidade, mas nunca fora de conversar muito com ninguém!
— Prefiro assim... acho que sou uma pessoa que não costuma muito se misturar, e garanto que nem sentirão minha falta... — digo, já ansiosa para me afastar.
— E como você pode ter tanta certeza disso? — tenta dar um sorriso charmoso, mas que não convence.
—Como sentir falta de algo que nem conhece?! — dou de ombros. — Tenho que ir... — me viro e saio rapidamente dali, antes que ele tente prolongar a conversa.
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Lembranças Cinzentas
RomansExiste algum tipo de regra para superar uma dor? Hannah e Richard estão sempre fazendo essa pergunta, duas pessoas totalmente diferentes, mas que tem algo em comum: Ambos vivem preso a uma dor muito profunda que viveram no passado. Hannah mudou-se p...