HANNAH
Durante a noite eu tento evitar falar de meu passado, embora Adam esteja bem disposto a ouvir sobre ele, eu sei que não é fácil falar sobre minha vida, na verdade até um tempo atrás não é fácil para mim falar sobre nada.
Já é bastante o que consegui até agora...
Não posso dar um passo maior que minha perna, então respiro fundo e procuro falar de qualquer coisa naquela noite que não fosse eu. Até passar o jantar as coisas vão se seguindo bem, porém, depois dele as pessoas começam a nos cercar, afinal, sou a novidade, aquela que quase ninguém sabe nada, a mulher misteriosa dos correios, então todos ficam ali, na expectativa de saber mais sobre mim, minha vida, qualquer coisa que pudessem fazer eles criarem teoria.
— Você era de Washington, não é? — diz Romilda, sentando-se na poltrona próximo a nós, e nos olhando com atenção. Ela está segurando um copo de cerveja e dá alguns goles, antes de continuar a falar. — Ah, eu sempre quis ir lá, na verdade sempre quis ir para qualquer lugar que não fosse essa cidadezinha chata!
Romilda trabalha nos correios há cinco anos, deve estar com uns trinta anos, é uma mulher que está uns cinco quilos acima do peso, usa óculos, tem cabelos pretos que vão até a altura do ombro, e olhos incrivelmente escuros.
—E por que não vai? — pergunto, e ela me olha com as sobrancelhas arqueadas. — Se você deseja ir para outro lugar, vai! —digo dando de ombros.
Hoje em dia acredito que temos que ser práticos, fazer o que deseja... melhor do que ficar pensando, "se eu tivesse feito", pois é a frase que mais me torturou nesses últimos tempos.
— Prático, não é? — Ela diz num tom brincalhão e ri. — Ah sei lá, acho que o medo me impede de tentar algo novo, é difícil sair da nossa zona de conforto...
— Isso é verdade! — concordo com um olhar distante, olho para Adam que está sentado ao meu lado, e noto que ele está escutando a conversa em silêncio, ele sorri para mim, e desvio o olhar rapidamente.
Ficar longe de homens com certeza para mim é permanecer na minha zona de conforto...
— E você Hannah, por que saiu de Washington e veio para cá? — John se mete na conversa, fica em pé, atrás da poltrona que Romilda está sentada. Sua pergunta me pega de surpresa.
Abro e fecho a boca algumas vezes, fica difícil de soltar qualquer palavra.
— É segredo de Estado? — Romilda brinca, ao ver que estou com dificuldade de respondê-lo.
— Não, a resposta é simples, ela veio para cá porque tinha que me conhecer! — Adam fala, colocando o braço em volta de meu ombro, o calor do corpo dele me faz estremecer.
Olho para ele e arqueio as sobrancelhas.
— Ah é? — falo, ele segura uma risada e assente com a cabeça.
— Olha só, que lindinho os pombinhos! — brinca Romilda.
— O que é isso Adam? Tá tendo um caso e nem conta para gente? — agora quem comenta é John.
— Não estamos tendo um caso! — eu digo já deixando claro esse detalhe.
— Ela ainda não me quer, mas sou esperançoso! —Adam responde e para meu alivio, se afasta um pouco.
— Eu vou pegar mais refrigerante! — falo, só que no intuito de me afastar um pouco, a conversa já está me deixando nervosa.
Vou a cozinha e pego um copo de soda, me sinto sufocada, então dou uma escapulida saindo da casa, paro na varanda, fico olhando a rua por alguns minutos.
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Lembranças Cinzentas
Storie d'amoreExiste algum tipo de regra para superar uma dor? Hannah e Richard estão sempre fazendo essa pergunta, duas pessoas totalmente diferentes, mas que tem algo em comum: Ambos vivem preso a uma dor muito profunda que viveram no passado. Hannah mudou-se p...