No calendário pendurado ao azulejo da cozinha – entre o balcão e o armário – a data é 23 de agosto de 2011. Antes da casa ser ocupada, Phillip e os demais moradores procuravam manter todos os calendários em dia para que quando houvesse moradores, não se esquecessem do tempo, que convenhamos, não era mais importante fora dos muros.
Vestida com o raglan longo de seu parceiro, que cobria até a região da virilha e as pernas sem calças, Vanessa depositou o calendário no balcão. Os números em negrito marcados em "xis" feito a canetão eram encarados pelos olhos verdes dela. Seu tronco foi envolvido nos braços de Han, que repousou a cabeça em seu ombro direito.
– É dia de feira? - brincou, fazendo a moça rir.
– Não, só... Só me ponderando nos dias. Vai agora? - o olha. Ele afirmou. – Quer mesmo que eu fique?
– Sim, tenho certeza. Assim eu me sinto melhor.
Ele lhe dá um selinho e desvencilha-se dela, passando pelo balcão ajeitando o coldre.
– Vai ficar bem?
– Vou.
A moça se aprontou com uma camisa bege e blusa preta, um jeans com barras dobradas e suas casuais botas de couro, deixando o cabelo preso num rabo de cavalo.
A calmaria dominava as ruas de School City. Nenhum vizinho passava pela manhã e o silêncio era absurdo. A casa do casal ficava na diagonal do cemitério atrás da igreja com torre, sendo o tanto perturbador na hora de apreciar a noite pela janela e dar de caras com túmulos enfileirados. Mas para Vanessa pouco importava agora.
Ela saiu para a varanda com o calendário em mãos, se apoiou na extremidade da madeira branca e com a canhota puxou o isqueiro.
– Eu não faria isso. - diz a voz tranquila.
Vanessa olha na direção, vendo o careca com trajes militares se aproximar do quintal com as mãos nos bolsos. Era Mitt, com um charuto na boca, agora tirado para melhor movimentar dos lábios.
– Foi ideia da Judy. Creio que ela ficaria chateada se visse isso.
– Não a conheço e pouco me importa. - acende.
– Se vai mesmo fazer, pode me entregar? Talvez tenha alguma casa faltando. - indica ao redor. – Saber os dias é importante.
Vanessa fecha o isqueiro e estende o calendário na direção dele. Mitt exala a fumaça, se aproxima e pega os folhetos.
– Agradecido. - dá meia volta.
– Diga a ela que isso não é mais relevante.
– Se você encontrá-la, eu direi. - disse sem olhar para trás.
– Como assim? - cruza os braços.
Mitt para na calçada e olha por cima do ombro. Ele umedece os lábios e vira-se para ela.
– Ela foi exilada. Foi bem no começo. Não me surpreende o Phillip não ter contado.
Silêncio.
Vanessa mantém os braços cruzados.
– Bem, tenha um bom dia. - acena, deixando o quintal.
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Era Zumbi: O Próximo Mundo
AçãoUma doença desconhecida assola o mundo, trazendo os mortos de volta a vida. Os vivos tentam sobreviver em meio a esse mundo que os deixa à beira da sanidade.