T4:C1 - 23.09.11

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No calendário pendurado ao azulejo da cozinha – entre o balcão e o armário – a data é 23 de agosto de 2011. Antes da casa ser ocupada, Phillip e os demais moradores procuravam manter todos os calendários em dia para que quando houvesse moradores, não se esquecessem do tempo, que convenhamos, não era mais importante fora dos muros.

Vestida com o raglan longo de seu parceiro, que cobria até a região da virilha e as pernas sem calças, Vanessa depositou o calendário no balcão. Os números em negrito marcados em "xis" feito a canetão eram encarados pelos olhos verdes dela. Seu tronco foi envolvido nos braços de Han, que repousou a cabeça em seu ombro direito.

– É dia de feira? - brincou, fazendo a moça rir.

– Não, só... Só me ponderando nos dias. Vai agora? - o olha. Ele afirmou. – Quer mesmo que eu fique?

– Sim, tenho certeza. Assim eu me sinto melhor.

Ele lhe dá um selinho e desvencilha-se dela, passando pelo balcão ajeitando o coldre.

– Vai ficar bem?

– Vou.

A moça se aprontou com uma camisa bege e blusa preta, um jeans com barras dobradas e suas casuais botas de couro, deixando o cabelo preso num rabo de cavalo.

A calmaria dominava as ruas de School City. Nenhum vizinho passava pela manhã e o silêncio era absurdo. A casa do casal ficava na diagonal do cemitério atrás da igreja com torre, sendo o tanto perturbador na hora de apreciar a noite pela janela e dar de caras com túmulos enfileirados. Mas para Vanessa pouco importava agora.

Ela saiu para a varanda com o calendário em mãos, se apoiou na extremidade da madeira branca e com a canhota puxou o isqueiro.

– Eu não faria isso. - diz a voz tranquila.

Vanessa olha na direção, vendo o careca com trajes militares se aproximar do quintal com as mãos nos bolsos. Era Mitt, com um charuto na boca, agora tirado para melhor movimentar dos lábios.

– Foi ideia da Judy. Creio que ela ficaria chateada se visse isso.

– Não a conheço e pouco me importa. - acende.

– Se vai mesmo fazer, pode me entregar? Talvez tenha alguma casa faltando. - indica ao redor. – Saber os dias é importante.

Vanessa fecha o isqueiro e estende o calendário na direção dele. Mitt exala a fumaça, se aproxima e pega os folhetos.

– Agradecido. - dá meia volta.

– Diga a ela que isso não é mais relevante.

– Se você encontrá-la, eu direi. - disse sem olhar para trás.

– Como assim? - cruza os braços.

Mitt para na calçada e olha por cima do ombro. Ele umedece os lábios e vira-se para ela.

– Ela foi exilada. Foi bem no começo. Não me surpreende o Phillip não ter contado.

Silêncio.

Vanessa mantém os braços cruzados.

– Bem, tenha um bom dia. - acena, deixando o quintal.

Era Zumbi: O Próximo MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora