Dentre todos os olhares em volta da mesa, Derick era quem estava mais focado a tacada decisiva na bola oito, roçando o taco entre seu polegar e indicador. Chegou a erguer o olhar para a ruiva de pontas loiras - amarrado num rabo de cavalo - na lateral da mesa, esperando com a mão no quadril e a canhota batucando a ponta do taco. Atrás dela, a multidão no convés roendo as unhas.
A tacada foi executada. A bola preta rodou em alta velocidade no canto da caçapa e quicou para o meio da mesa.
– UHHHHHH. - urram.
Sabrina se inclina, cerra os olhos num cálculo e então dá a tacada. A bola oito foi direto na caçapa diagonal esquerda, sumindo ao cair no buraco. Aplausos e euforia vieram do público atrás dela, enquanto que a plateia do loiro urrou em decepção. Um homem atarracado estapeou o ombro de Derick.
– Perdi um galão por sua causa. - passa por ele.
– Ei, Derick. - ela se inclina. – Não fique triste. Eu te deixo perder na próxima.
Os demais riem e o loiro também, forçado.
Todos se espalham levando cadeiras e bebidas. Cobranças daqueles que apostaram se afastavam junto aos passos.
– Parabéns. - aplaude Gormax do cais, levando os olhares da dupla para cima. – Foi um puta jogo, menino D. Sassa, o que acha de jogarmos com outras bolas agora?
A ruiva sorri, põe o taco sobre a mesa e concorda com a cabeça. Derick a vê seguir até as escadas.
– D, não esquece de checar os contêineres. - se afasta do parapeito.
A risada da moça é escutada lá de cima. O loiro baixa o olhar, deixa o taco sobre a mesa e se afasta, acendendo um cigarro.
No trajeto em que acende o maço, percorre pelos corredores com forte cheiro de cândida, desvia de um dos limpadores no caminho e sai pelos fundos. A cena de trabalhadores indo e voltando revela-se na claridade da tarde. Ele esbafora a fumaça e pousa o olhar na escotilha do escovém aberta, tendo a escuridão interior clareada em um lampejo de faíscas alaranjadas.
Derick atravessa o escovém em poucos minutos e para em frente as escadas que levam a escuridão. Conforme desce, o som da serra aumenta. Por um momento tem a impressão de ouvir o moer de carne e o som das solas no piso pegajoso. Ele conclui sua tese quando vira a esquerda e vê o senhor de baixa estatura, óculos na ponta do nariz e jaleco sujo de sangue fresco e enegrecido cortando metade da perna de um cadáver.
– Stefan, que porra é essa? - balança o cigarro ao mexer a boca.
O mesmo foca seus olhos pequenos e castanhos no fumante parado na entrada.
– Derick, o cigarro.
– Desculpa. - tira da boca, apaga o maço com a ponta do tênis e se aproxima. – O que tá fazendo?
– Os corpos na entrada estão apodrecendo e agora os mortos estão passando. Visto que eu só preciso do cérebro, me optei por desmembrar alguns mortos dos contêineres. Trevor disse que vai me render uma boa caixa de picles.
– Saquei. - põe as mãos na cintura. – Aqui fede. Não te incomoda? - franze o nariz.
– É meu local de trabalho. E como foi o jogo?
– Ruim. Eu perdi. - dirige-se para a mesa a direita, onde mais um corpo espera ser dilacerado.
– Oh. Que pena. - joga um pedaço do braço no balde debaixo da mesa de rodinhas. – Já que está aqui, permita-me mostrar. - vai para trás do balcão no fundo do porão, deposita dois potes sobre e chama pelo loiro.
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Era Zumbi: O Próximo Mundo
AksiUma doença desconhecida assola o mundo, trazendo os mortos de volta a vida. Os vivos tentam sobreviver em meio a esse mundo que os deixa à beira da sanidade.