O Reencontro

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Natal 2013

Ser beijada pela primeira vez por um Deus grego foi um sonho de contos de fadas, mas claramente o celular dele tinha que tocar e com um "volto logo" Ele saiu da sala me deixando sozinha, meu rosto estava quente e eu estava ardendo em desejo e pensamentos impuros quando a porta da sala se abriu e eu sorria esperando por mais beijos.

- Clara? - Era meu pai. Apesar da minha pele ser um pouco mais clara, eu parecia mais meu pai com sua pele negra e seus cabelos crespos com trancinhas começando a ficar grisalhos. - Te achei filha, vamos. Esta ficando tarde.

E assim minha noite acabou com incríveis lembranças de um homem perfeito.

Natal 2019

- Levanta sua bunda dai Miguel!

- AH CHUPA MEU PAU! - Este era Miguel, meu maravilhoso irmão mais velho tendo uma discussão com nossa prima antes da ceia natalina.

Depois que nossos pais tentaram reatar e mamãe voltou para o Brasil nos esforçamos para todos os natais serem comemorados em família e isso incluía todos os parentes possíveis.
A única diferença era que nem eu nem Miguel queríamos passar por isso novamente.
A família do meu pai era somente ele e um irmão enquanto o da minha mãe era bastante enorme e horrível. Do tipo primos nazistas que queimam seu cabelo por achar você esquisita por não ter cabelo liso e loiro igual ao resto da família.
Bem tranquilo.

- Miguel, vou comprar refrigerante quer vim?

- Já temos refri, Clara. - Disse nossa prima Eduarda e eu sorri educadamente.

- Não tem do que eu gosto. - Miguel entendeu a minha tirada e saímos da grande casa de condomínio da nossa avó e fomos para meu carro, eu dirigia um corolla 2016 desde que terminei a faculdade de história da arte, ainda estava em bom estado e servia para fugas como aquela.

Meu irmão me acompanhou no banco do passageiro e saímos do condomínio, comecei a dirigir sem rumo, somente nos afastando cada vez mais.

- Ainda mato aquela insuportável. - Para um homem de 25 anos, meu irmão tinha um rosto jovial e um porte Atlético que fazia todos os seu namorados apaixonados desde o início. - Como ela pode dizer uma coisa daquela?

- Você sabe como a família da mamãe é horrível.

Virei o volante para a esquerda seguindo o caminho para o Carrefour.
Era extinto seguir aquele caminho, podia passar horas vasculhando aquele hipermercado. Um dos meus passatempos favoritos.

- Mesmo assim, não é por que sou gay que nunca vou poder filhos. Não acredito que a mãe ainda nos faça vim para estes natais.

- Você sabe a razão.

E ele sabia, o divórcio tinha sido um impacto grande, principalmente por que um dos motivos foi que meu pai acabou afastando a nossa mãe da família dela, compreensível já que ele não se sentia confortável em um lugar que o julgava pela cor de pele e dizia que ele não era bom para ela, mesmo após ter lutado conseguindo a carreira de jornalista e agora era o apresentador do tele jornal mais famoso do nosso país.
Mas ainda assim, doeu na nossa mãe ter se afastado dos pais. Acho que eu sentiria o mesmo.

Levei meu irmão para o hipermercado e começamos a andar empurrando um carrinho, passamos por uma sessão de salgados pegando tudo que tínhamos direito, afinal ele pagaria com o salário de TI, ele tinha sido promovido esse ano enquanto eu lutava para conseguir uma vaga no Museu e fazia bico em um colégio particular dando aula pro fundamental. O salário é bom, as crianças não.

- Vamos pegar bebidas, quero encher a cara.

- Nada de pagar mico na festa. - Avisei.

- Não sou eu que trai o namorado bêbada.

ARG! Ele tinha que me lembrar disso, ainda tinha vergonha.
Estava no início da faculdade desconfiando que tinha algum tipo de esquizofrenia por ainda sonhar com um homem imaginário que não podia existir ou se existia eu fora estúpida em não perguntar seu nome.
Namorava um rapaz legal, se tirar o fato que ele brigava comigo para eu manter o cabelo sempre avisado, o rosto maquiado, as unhas pintadas e todo tipo de coisa que um cara tóxico Chernobyl podia te obrigar.
Eu até tive distúrbios alimentares para perder peso e estar no padrão de mulher que ele gostava, até que um dia eu cansei e enchi a cara em uma festa com minhas amigas e quando vi já estava beijando um dos meus colegas do curso. Não nego que foi só melhor decisão que fiz, meu namoro abusivo terminou e cá estamos.

- E não me arrependo. - Brindei com ele quando chegamos na sessão de bebidas, segurando uma garrafa de vinho e ele uma de tequila. - Para todos os babacas que transamos e aos próximos que virão.

- Amém irmã! - Miguel disse e eu dava uma risada balançando a cabeça, coloquei a garrafa no carrinho e quando ergui a cabeça eu vi um fantasma.
Bom, não um fantasma, mas alguém que poderia muito bem ser.
Ali estava no corredor de bebidas usando um termo de alfaiataria escolhendo um vinho, eu reconheceria aquele perfil em qualquer lugar e só podia ser ele.

Meu Deus! Estou ficando louca tento alucinações novamente, olhei meu irmão e puxei a manga de sua camiseta.

- Você tá vendo aquele cara? - Sussurrei aguardando sua resposta.

- E tem como não vê? - A resposta dele me deixou mais abaladad o que queria, virei novamente olhando para o homem que então estava olhando para nós e começou a andar em nossa direção.

- Ele ta vindo. - Sussurrei.

- Ele é um gato.

- Cala a boca.

- Oi. - Aquela voz! Aquela maldita voz rouca. - Vocês sabem me dizer se é melhor eu levar vinho ou uma bebida mais forte para um natal que fui convidado de última hora?

- Vou desmaiar.

- O que disse? - Ele perguntou novamente olhando diretamente para mim, ele não me reconhecia? Puta merda.

- Acredito que tequila, vinho meio que todo mundo já comprou para a ceia. - Meu irmão respondeu educadamente, o homem sorriu e então olhou para mim novamente e desta vez podia ver uma luz brilhar em seus olhos.

- Eu te conheço.

- Não! Nunca nem vi. - Respondi rapidamente me escondendo atrás do meu irmão. O estranho deu uma risada.

- Conheço sim, eu te beijei em 2013 não foi? Você nunca me disse seu nome. - Vou morrer! Pode enterrar Deus.

- A Clara? Em 2013? - Miguel estava espantado e olhou pro estranho. - Você tem tipo o que? Uns 40? Minha irmã só tinha 17 naquele ano. Acho impossível.

Ai! Cala a boca Miguel! Por favor.

O estranho ergueu uma sobrancelha e depois me encarou ainda um pouco escondida atrás de Miguel e então suas bochechas ficaram rosadas.

- Eu não sabia.

- Clara? - Miguel me chamou e eu tive um ideia idiota, corri para o lado do estranho pegando seu pulso o puxando comigo e por sorte ele começou a andar me seguindo até outro corredor e eu falei.

- Oi, meu nome é Maria Clara, desculpa por isso.

- Eu que me desculpo, agora que me lembro bem. - Seu rosto parecia desolado e preocupado. - Você tinha correspondido, eu acho.

- Óbvio! Quer dizer, sim, não tem problema eu já tinha 17 não era contra lei, eu só não acredito que se lembre. - Mordi o lábio mexendo em um fio solto do meu blusão moletom de Harry Potter. Merda! Não tinha roupa melhor?

Um silêncio caiu sobre nos e então ele respondeu.

- Como podia me esquecer. - Seu sorriso continuava radiante fazendo meu coração da pulinho, então ele tirou do bolso o celular e pediu meu número. Acabei falando por automático. - Espero te ver novamente.

Com isso fui deixada novamente sozinha por ele, mas desta vez com uma certeza de que o veria novamente.

O Chefe do meu pai (+16)Onde histórias criam vida. Descubra agora