Malditas borboletas

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Quando o filme acabou, resolvi ir pra casa.Então Lauren me deu uma carona, após eu insistir que ia de ônibus, várias vezes.

--Eu adorei o seu poema.Mas fiquei preocupada com a forma de se designar tão inferior.Posso te oferecer um conselho?

--Sim.

--Precisa amar a si mesma, antes de tudo.Porque se você se colocar em primeiro lugar, será a protagonista.
Não seja coadjuvante da sua própria história.

Engoli em seco, sentindo a mão segurando o meu queixo, e as pupilas se dilatarem em frente ao meu rosto.

Quase desfaleci como uma rosa soltando as pétalas.

Desviei o olhar, tentando disfarçar as bochechas queimando.

Soltei o cinto para sair do carro, pois estava quase em casa.Ao destravar a porta senti uma mão fria agarrar o meu braço.

Uma mistura de medo e euforia tomou conta das minhas veias.

--Camz, você ia descer do carro sem se despedir?--Sussurrou perto do meu ouvido, com uma voz rouca e envolvente.

Em seguida beijou meu rosto demoradamente.

--Obrigada, Lauren.

--Até segunda , Camila.Te pego as 7:30.

O perfume inebriante não saía das minhas narinas.As borboletas no estômago, as malditas eram reais.

Entrei em casa e minha mãe estava me aguardando, com um semblante tristonho

--Precisamos conversar.

***
25 de fevereiro de 2019

Faltava menos de uma semana para eu completar 18 anos, e a notícia que a minha mãe havia contado no final de semana, poderia mudar meu destino completamente.

--Bom dia Camz, aconteceu alguma coisa ruim?--Lauren perguntou, logo que entrei no carro.

--Não.Só não dormi muito bem hoje.
E o Harry, ele não vai pra aula hoje?

--Levei ele antes.Meu bebê é muito nerd, ele tinha uma reunião com o clube de xadrez.

Enquanto dirigia, a mulher desviava o olhar em minha direção, buscando descobrir a razão da minha infelicidade.

--Não sei o que aconteceu com você, meu anjo.Mas se precisar conversar estou aqui.Não quero ser invasiva.

Meu mundo antes tão azul, havia perdido a cor, a angústia era tão avassaladora.

As lágrimas escorreram silenciosamente, não consegui abrir a boca, apenas deitei a cabeça no ombro da Lo e chorei.

A mãe do meu amigo estacionou em frente à escola, me abraçou forte, deslizou a mão suavemente entre meus cabelos, tentando me acalmar.

Eu me sentia em pedaços.

--Camz, alguém fez mal à você?Me conte e eu juro que mato.

--A pessoa que eu mais amo no mundo, a mulher mais guerreira que desistiu de uma carreira promissora em Cuba para lavar pratos nos EUA, com o intuito de oferecer uma vida melhor a mim e a minha irmã;
está muito doente e eu não posso fazer nada a respeito.

--É a sua mãe?O que ela tem?

--Lo, eu não quero falar sobre isso.Apenas por favor, não comente com o Harry.Eu nem devia ter te contado.

--Camz, sinto muito.Eu não vou contar a ninguém...Desculpe se te pressionei a se abrir...Te conheço a pouco tempo, todavia sinto uma necessidade de cuidar de ti.

Amor maternal?Compaixão?Empatia?
Que tipo de sentimento ela me oferecia?

Um turbilhão de emoções passou pela minha corrente sanguínea.

--Obrigada, Lo...pela carona e pela conversa.Às vezes é bom dividir com alguém.

Naquele dia eu tinha prova de cálculos.E não era bem o meu forte.
Devido aos problemas de saúde da mamãe, minha concentração se foi.

Entreguei a prova sem nem ao menos tentar, fui até o banheiro para lavar o meu rosto.Lá encontrei Ariana.

--Ei que carinha é essa?Posso te ajudar?

--Vou levar bomba em matemática, entreguei o teste em branco.

--Mila, eu sou ótima com os números.Posso te ajudar a estudar para a recuperação.

--Obrigada.-Respondi, forçando um sorriso .

--Com apenas uma condição, Mila.
Você vai até a minha casa, porque a minha mãe não deixa eu ir na casa de ninguém.

--Ok.

Passei os próximos minutos ouvindo a garota falar.Depois saí a procura do meu amigo.

--Ei alguém viu o Harry?--Perguntei as pessoas que saíam da sala.

Todos os estudantes respondiam que não sabiam onde ele estava.

Fui até o local onde o clube de xadrez se reunia e o encontrei caído, todo ensanguentado.

--O que aconteceu?-Falei tentando levantar o menino do chão.

--Uns brutamontes me bateram, chamaram de "bichinha" "veado" e me bateram.

--Eu vou te carregar até o ambulatório.Você quer que eu chame a polícia?

--Não.Eu já liguei pra minha mãe, ela vai saber lidar com a situação.

--Quem são os demônios? Eu vou arrebentar os miolos deles!

--Camilita, você é a melhor amiga do mundo.Mas...sério!Não se resolve a violência com mais violência!

Assim que Lauren chegou, nos direcionamos ao hospital, pois o Harry tinha hematomas na cabeça.

A mulher estava realmente furiosa, e prometeu colocar na prisão os "valentões" responsáveis por deixar o menino naquele estado.

Código LaurenOnde histórias criam vida. Descubra agora