19. Vítima indefinida

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E foi isso. Retornamos ao refeitório e terminamos de comer. Nem nos demos ao luxo de ficar triste pela Hinato ter mudado as regras em cima da hora e nos impedir de fugir daquele pesadelo. Estávamos mesmo frustrados, irritados! Toda vez aquilo acontecia! Eu sentia como se já tivesse aceitado que o único jeito de terminar todo aquele sofrimento era jogando o jogo delas.

O maior problema, como se já não tivesse vários, é que quanto mais jogamos, menos sobramos. Começamos com dezesseis e agora somos apenas seis e um ferido. Era uma situação humilhante, principalmente porque elas se divertiam com isso, com a nossa desgraça. A raiva consumia todo o meu ser nesse momento.

A única pessoa que eu pensei que não veria triste estava triste. Chinatsu encarava os restos quebrados do aparelho que se esforçou tanto para construir. Em vão. Ela fazia cara de choro, mas parecia engolir todas as lágrimas, como se quisesse se mostrar forte, já que sempre havia sido a mais otimista e animada do grupo.

Tudo isso estava pirando até mesmo a Chinatsu.

- Eu vou para o meu quarto. – Haruo se retirou logo.

Os outros o seguiram de pouco a pouco. A engenheira foi arrastando os seus pedaços de metal.

Quando Yoshiro saiu, eu me levantei para segui-lo, mas Saki instantaneamente me chamou.

- Saki? Algum problema?

- Vai fingir que ainda não tem traidor? Vamos observar quem hoje? – Ela se aproximou.

- Olha... Depois do que aconteceu hoje, eu não sei se eu tô no clima. Na verdade, nem sei mais se é uma boa ideia. O que faremos depois que descobrir quem é o traidor?

- O que você faria? – Ela retrucou com uma pergunta.

- Eu não sei. Mas eu não me tornaria uma assassina pra escapar daqui. Tem que ter outro jeito. – E então virei as costas para ela e fui correndo atrás do Yoshiro.

Ele já estava entrando em sua cela quando o abordei.

- Shiro!

- Akemi? Tudo bem? – Ele se espantou com minha chegada repentina.

- Eu que te pergunto. Como acordou hoje?

- Melhor, eu acho. – Ele suspirou. – Quer entrar?

- Claro. – Sorri.

Era um lugar muito estranho para se convidar alguém para entrar: uma cela com uma cama super dura e um vaso sanitário mal cheirando no canto. Mas mesmo assim, aceitei e entrei.

Sentamos na cama dele, um ao lado do outro, para conversar.

- Sabe... Eu vi que você tá certa. Eu posso ser um clone, mas já sei que essa versão de mim é melhor do que aquela que estava na câmara criogênica.

- É? E por quê? – Perguntei.

- Porque eu não conhecia você antes disso tudo. – Ele me abraçou.

- Assim eu fico vermelha... – Falei, sorrindo para ele.

- Além disso, eu prefiro viver como todo mundo. Só com uma vida. Mesmo que eu já tenha vivido umas três... Mas agora eu não posso ser clonado de novo e a sensação de mortalidade me faz sentir... Humano.

- Entendo.

- Fora que eu não queria ser clonado de novo caso morresse nessa versão porque aquele corpo não ia ter nenhuma lembrança do que nós vivenciamos.

DanganRonpa: Hello DespairOnde histórias criam vida. Descubra agora