37. Meu hotel

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22 de agosto, 23:17

— Como assim ele não avisou nada? Nem que chegou bem, ou que tá vivo? — Samira andava desesperada pelo meu quarto.
— Talvez as coisas estejam mais difíceis do que ele pensava, eu não quis nem incomodar, estou esperando ele me procurar. — Eu olhava o celular desesperançosa.
— Isa, ninguém diz que te ama e some por dois dias. — ela sentou na cama, porém sua perna balançava inquietamente.
— Talvez alguém que não tenha tido uma resposta, sim. — bloqueei o celular e comecei a procurar algum filme na televisão para assistirmos.
Acordei de madrugada com quarto vazio, apesar de saber onde a Samira estaria, no quarto do meu pai, senti uma falta dela. Por mais que ela estivesse no calor da paixão com o Ricardo, nesses dois dias eu tinha sido a prioridade dos dois, ela passava a maior parte do tempo no meu quarto, os dois praticamente só se vinham depois que eu dormisse, que era quando ela saia sorrateiramente para o quarto dele. Ele me encarava com um olhar preocupado toda vez que passava pelo quarto, mas não me falava muita coisa, apenas me acordava com o café da manhã na cama. Peguei o celular na esperança de ter alguma mensagem ou uma ligação não vista, mas não tinha nada. Por mais que eu passasse de uma pessoa super-compreensiva para a Samira, por dentro eu também não entendia o porquê do Téo ter sumido de vez.

23 de agosto, 07:43

— Bom dia, minha linda! — uma xícara de café preto e mais nada, era incrível como meu pai sabia exatamente o que eu precisava.
— Espero que esse café tenha a energia que eu preciso.
— Se quiser posso arranjar dois ou três. — ele levantou uma sobrancelha, como se a proposta fosse séria.
— Vou visitar o hotel hoje. — disse tomando o resto do café em um único gole.
— Você vai sumir de novo? — antes que ele respondesse alguma coisa a Samira apareceu na porta.
— Não aquele hotel, mas o daqui, o que tem meu nome. — levantei já procurando uma roupa.
- Ah, o seu hotel. — ela abriu um sorriso animado.
— Aquele hotel não é meu. — respondi já a caminho do banheiro.
— Não sabemos nem se ainda tem o nome dela. — o Ricardo respondeu apreensivo.
— Eu ouvi isso, cruel! — gritei antes que fechasse a porra do banheiro.
Tudo parecia a mesma coisa quando o táxi estacionou, era como se eu não tivesse saído daqui, desde a última vez que vim. Por um momento, pensei se o que eu estava fazendo era certo mesmo, até mesmo o taxista ficou receoso e não sabia se tinha me levado ao local certo. Após poucos minutos olhando para a fachada, agradeci, paguei e desci. Tudo estava tão vazio, a quantidade de trabalhadores tinha diminuído, até porque agora não teria tanta pressa para inaugurar, fiquei um tempo parada até que um dos trabalhadores falou educadamente.
— Uma pena, né? Ele estava tão animado em te surpreender.
Me assustei pois pensei que ele iria me colocar para fora, ou me chamar de doida por encarar tanto aquele nome, mas nunca imaginei que ele saberia quem eu sou, ou a minha relação com o Téo.
— Como assim? Como você sabe disso? — perguntei ainda assustada.
— Do pedreiro ao decorador de interiores todos sabem da grande inspiração desse hotel, o Sr. Téo falava sempre "Vocês só estão trabalhando, pois eu quero presentear a mulher da minha vida, vocês têm que ver o quanto ela é linda". — seu olhar parou sobre mim.
— E ele tinha razão! — Antes que eu respondesse alguma coisa ele completou.
— E-eu não sei o que responder. — era como se eu estivesse em um sonho, ao ouvir tudo aquilo que ele falava de mim.
— Bom, eu sou o André, prazer! — ele tirou o capacete e estendeu a mão para que eu pudesse apertar.
Foi só nesse momento que eu reparei nele, parecia ser um ou dois anos mais velho que eu, era tão alto quanto o Téo, os dois pareciam bastante por conta dos músculos salientes na camisa, porém nada exageradamente. Mas era só isso, seu cabelo era bem curto, raspado e seus olhos escuros iluminavam a sua pele negra.
— Bom, acho que você já sabe sobre mim... — respondi assim que apertei sua mão.
— Heloísa, a inspiração do prédio que eu construí, sim sou o engenheiro do seu hotel. — ele sorriu orgulhoso e eu também, era a segunda vez que alguém me dizia aquilo.

Eu não lembro o que fiz na noite passadaOnde histórias criam vida. Descubra agora