29. Quase perfeito

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17 de agosto, 15:48

O cara por algum motivo não revidou, apenas resmungou alguns xingamentos e saiu andando, talvez tenha sido porque o Téo já estava pronto para a luta. Sua postura era firme, seus olhos estavam semicerrados, e sua mandíbula tão rígida que eu não sabia o que fazer.

— Ei, tá tudo bem! — passei a mão pelo seu rosto.

— Tudo bem nada, eu vou atrás dele até ele entender que não se pode falar isso assim. — ele encarava o caminho que o cara tinha seguido.

— Ele foi um babaca, mas você tem que entender que essa situação de já chegar na violência não é para se orgulhar. Se isso começar a virar rotina eu vou passar a ter medo de você. — tentei fazer com que ele se virasse para mim.

— Sabia que isso alguma hora ia acontecer — o Téo saiu andando para a mesa onde estávamos, sem nem olhar para trás.

— O que você quis dizer com isso? — disse-lhe quando finalmente consegui encontrá-lo já na mesa.

— Você não queria saber o meu defeito? Aí está, eu tenho problemas para controlar a minha raiva, e eu não estou dizendo isso para parecer mais corajoso ou coisa do tipo. Logo quando minha adolescência iniciou vieram também as brigas na escola, então meu pai achou que se me colocasse para praticar algum esporte melhoraria. Eu fazia boxe, judô e até capoeira, estava pensando que poderia seguir carreira entres as lutas marciais quando conheci uma galera da pesada. — ele interrompeu a história pra tomar uma copo d'água.

Eu não tinha nada a dizer, fiquei calada até que ele continuou.

— No início era só um grupo de jovens saindo pra curtir durante a noite, mas uma dessas noites a gente tava saindo da balada e tinha um grupo de caras em volta do meu carro, naquela época não era esse que uso, mas era o primeiro carro que meu pai tinha dado. Eu pedir pra que afastassem pois estávamos de saída, e os caras começaram então a pirraçar, diziam que eu estava nervosinho demais, mesmo depois de tentar conversar, um deles começou a se alterar e eu também já não estava mais calmo. Foi quando um deles vendo a minha situação, pegou uma chave e passou na porta do carro, eu não consegui evitar e parti pra cima dele com toda raiva que tentei me livrar com os esportes, o problema foi que eles eram 3, e nós 5, sendo que eu não sou estava muito irritado como também tinha os golpes que eu treinava do meu lado, pouco tempo depois eu vi a sirene se aproximar e percebi que era a polícia, já não tinha mais nada a fazer, mas foi a sorte daqueles caras, e minha pois se não fosse pelos policiais, era bem capaz de eu ter matado um. — ele parou, tomou mais um pouco da água e me encarou, esperando alguma reação.

— Foi por isso que o seu pai te mandou embora? — questionei ainda tentando assimilar as coisas.

— Sim, ele foi na delegacia, pagou minha fiança e no caminho de casa disse que só não tinha me deixado lá, pois daria uma oportunidade para recomeçar, mas que se algo assim acontecesse novamente, eu não poderia mais contar com ele. — foi quando seu olhar se perdeu na paisagem.

— Tenho certeza que hoje ele se orgulha do homem que você está se tornando — ele se assustou quando ouviu minha voz.

— Não tenho muita certeza, nem eu mesmo confio em mim. É como se estivesse tudo bem, mas de repente algo tomasse conta do meu corpo de forma que eu não tenho não controle, e depois que você apareceu na minha vida isso tem piorado de uma forma que você não faz ideia. Naquele dia na sua casa eu ainda não sei o que aconteceu para que eu não revisasse o soco que o seu pai me deu. — agora ele esfregava a mão sobre o rosto, impaciente.

— Eu agradeço por isso! Mas se você quer saber, esse seu defeito não vai te afastar de mim, pelo contrário, agora eu quero estar ao seu lado para te dar a segurança que você pode sim ter o controle sobre si mesmo. — peguei novamente o seu rosto para que os nossos olhares se encontrassem.

— Você é a razão da minha tranquilidade, mesmo sendo o motivo de algumas confusões. Eu já disse, um dia ainda vou ficar louco desse jeito. — ele balançava a cabeça negativamente enquanto falava.

— Mas se prepare para descobrir os meus defeitos, não são tão emocionantes assim, mas irritam que é uma beleza.

— Eu farei esse sacrifício, mas com uma condição. — suas sobrancelhas arquearam-se.

— E qual seria ela? — franzi a testa sem entender a situação.

— Namora comigo? — e o seu olhar pairou sobre o meu, num mix de expectativa e insegurança.


Eu não lembro o que fiz na noite passadaOnde histórias criam vida. Descubra agora