Capítulo 27

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Paige

Você não sabe que precisa de descanso até que seus pés ameaçam explodir de suas pernas. Minhas costas gritam a cada passo que dou e até simples movimento de ir do forno ao freezer se tornou cansativo e doloroso, está grávida de 8 meses pode ser um pouco exaustivo. Apesar de não está mais frequentando o restaurante, ainda continuo fornecendo tortas e doces. No último mês contratamos uma garota para nos ajudar a servir e organizar, enquanto tiro minha licença, mais do que merecida.

Raze está movendo aos poucos para minha casa, fazendo valer sua promessa que permaneceria ao meu lado. Ainda espero acordar durante a noite e perceber que tudo não passou de um sonho ruim, mas sempre que sinto seu toque contra minha pele começo a imaginar que estamos nos tornando real.

Manda e Raze parecem compartilhar um segredo antigo, que eu não estou incluída. Apesar de não me incomodar, não posso deixar de me sentir desconfiada com a mudança na relação deles. Mesmo que Raze esteja cada vez mais presente, ele ainda continua distante com relação ao seu passado, tudo o que envolve a morte de Abel e os próximos oito anos são o suficiente para mantê-lo afastado durante uma conversa.

Aos pouco venho tentando chegar a essa barreira de proteção que se alojou ao seu redor e por mais difícil que seja penetrá-la, não estou disposta a desistir tão facilmente. Posso não recuperar o garoto de quinze anos que conheci, mas pretendo recuperar meu melhor amigo de volta e não uma versão atormentada dele.

— Querida, cheguei! — Escuto a voz de Manda na sala ao mesmo tempo em que temporizador avisa que a fornada de cupcakes está pronta.

— Aqui — grito colocando a forma sobre a bancada de mármore, puxo uma longa respiração começando a sentir minhas costas formigarem pelo menor esforço possível.

— Hey, como você está hoje? — Perguntando dando-me um rápido abraço antes de ir até ao freezer buscar os ingredientes para a cobertura. Graças a Deus por ela.

— Como se fosse rolar a qualquer momento nesse chão. E a Abbi? Está conseguindo se adaptar ao trabalho?

Além da entrevista, não tive oportunidade de ter muito contato com a nossa nova funcionário. Tudo o que sei sobre ela é através dos relatórios que Manda dá sempre que vem buscar as sobremesas para o restaurante.

— Apesar de ser completamente calada, ela não parece que vai surtar sempre o senhor Jeremy grita com ela. Você percebeu a falta de diálogo na entrevista?

— Claro. Você era a única a falar durante todo o momento. — Tiro o creme de leite de suas mãos. — Por que Jeremy está gritando com ela?

— Acredito que ele acha que a pobre garota está tomando seu lugar. — Não posso deixar de sorrir pelo sentimento de conquista, Jeremy não parece tão durão quanto antes.

— Vou com você fazer uma visita.

Ligo a batedeira misturando todos os ingredientes, completamente perdida em pensamentos aleatórios, que não percebo Manda encarando-me com um olhar completamente estranho.

— Tudo bem com você? — Coloco a mistura no saco de confeitar voltando a me arrastar até a mesa em direção, seus olhos parecem molhados, mesmo que nenhuma lágrima caia pelo seu rosto.

— Nada, você apenas me lembrou de uma pessoa agora. — Sorri, mas a expressão de saudade não chega aos seus olhos.

— Bom, tenho certeza que essa pessoa não é meu irmão — brinco, mas ao contrário do que esperava parece trazer mais lágrimas aos seus olhos, misturada com um soluço. Deixo minhas mãos caírem contra bancada sentindo-me completamente inerte. Manda nunca foi uma garota sentimental, eu sempre ocupei esse papel. — Manda...

— Desculpa....eu só preciso ir ao banheiro. — Corre em direção as escadas o que me deixa encarando o lugar em que até poucos segundos estava ocupada por ela. Olho para escada, fazendo um cálculo rápido de quanto demoraria até chegar lá em cima, mas desisto no meio do caminho e vou até ela. Não importa se Manda provavelmente vai me encontrar no meio das escadas ela precisa de mim, e mesmo nos meus piores momentos ela esteve comigo, nesse momento só posso fazer o mesmo por ela.

Quando alcanço o último degrau, seguro o parapeito da escada sentindo-me completamente sem fôlego prestes a vomitar meu café da manhã, puxando respirações profundas avanço até o banheiro, mas ao invés de encontrá-la lá. Encontro a porta do quarto de Abel entre aberta e sua figura parada em frente a estante encarando os portas retratos, ela segura um deles em suas mãos. Uma foto de Abel sorrindo com o uniforme do exercito para em frente a um carro. Foi a última foto que enviou antes do acidente.

— Não imaginava que você ia conseguir subir as escadas tão rápido. — Sussurra com a voz entrecortada pela lágrimas.

— Acho que posso participar de maratona de grávidas. — Aproximando lentamente ficando ao lado dela, apesar da dor ainda existir, não sinto mais como uma ameaça querendo arrancar meu coração. Cruzo os braços sobre a barriga, olhando para os poucos momentos congelados que compartilhamos, apesar de ainda ser completamente claro em minha memoria todas as nossas aventuras. Seus rosto ainda ameaça desaparecer da minha mente a cada dia que acordo.

— Ele realmente se parece com você, não tinha notado antes.

— Não tinha como você saber — minhas palavras parecem trazer mais lágrimas para seus olhos. — Manda...

— Desculpa, desculpa — enxuga o rosto com o torso da mão, mesmo que as lágrimas insistam a cair. — Acho que esse lance de hormônios deve ser contagioso.

Puxo seu corpo para um abraço meio estranho com minha barriga em nosso meio. Ela aceita sem relutância, deixando-me ainda mais preocupada, mas deixo minhas perguntas para outro momento. Minha amiga precisa um abraço, não de um interrogatório.

Ás vezes as piores dores são compartilhadas em um abraço, ao invés de palavras.

***

Raze

— Isso precisa acabar.

— Ainda não estamos prontos. — Aperto minhas mãos em meu joelho para evitar atacar o cretino ao meu lado.

— Temos prova de que ele encomendou a minha morte e a morte de Paige. Por mais que eu tente, eu não vou conseguir mantê-la grávida para sempre.

— Ainda não descobrimos o motivo para tudo isso.

— Interrogatórios costumam funcionar mais do que deixar a vida de dois inocentes em perigo.

— Nada vai acontecer com eles, eu prometo. Mas não podemos prender Ivan sem nenhuma prova concreta.

— A morte de Paige vai ser a prova final que você precisa — levanto para ficar ao seu lado encarando o túmulo de Abel.

— Não, Paige e o bebê nunca vão estar em segurança enquanto não soubermos o verdadeiro motivo. Ivan não precisa ser apenas preso, — vira seu rosto marcado com cicatrizes para mim, — ele precisa ser morto. Só você pode fazer isso.

— Isso é suicídio. Estamos lidando com uma organização criada há anos.

— O MC pode ajudar vocês.

— Eles estão procurando negócios legais, não envolvimento com a morte de um criminoso. — Murmuro chutando a grama do túmulo.

— Tenha respeito pelos mortos. — Repreende.

— Ás vezes prefiro que ele realmente esteja morto. — Ele não fica chateado, apenas sorrir enrugando as cicatrizes em seu rosto. Um sorriso que senti falta por um bom tempo.

— Você prometeu, Raze. Você prometeu. — Com isso ele sai mancando e eu o perco mais uma vez em meio as sombras. Olho para a foto do túmulo me encarando como se zombasse de mim.

— Sim, eu sei. Eu e minhas malditas promessas. — Reviro os olhos dando as costas para o túmulo. 

Promessas Quebradas ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora