Capítulo 12

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Paige

— Ainda acho que você deveria passar alguns dias lá em casa. A ideia de deixar você sozinha não me anima.

Essa tem sido sua fala desde que saímos do hospital. Depois de passar dois dias em observação, os médicos finalmente me deram alta para que eu pudesse voltar para casa. Ficar longe do quarto de Abel foi desesperador, mas consegui superar meu pânico ao pensar que era um sacrifício para o bem estar do meu bebê.

— Eu não posso. — Apesar do seu suspiro, Manda aceita minha resposta. Ela sabe o quanto sou impassível em relação a dormir fora de casa.

Ryan entra logo atrás de nós carregando algumas sacolas do supermercado com comidas, que de acordo com a médica, fariam os enjôos diminuírem. Apesar deles terem cessados desde que passei a tomar a medicação, eles não terminaram completamente. Mas prefiro esconder isso de Manda, não quero que ela fique ainda mais preocupada.

Ajudando-me a sentar no sofá, ela coloca uma manta sobre minhas pernas, antes de sentar ao meu lado e ligar a televisão em um programa que não prende minha atenção. Minutos depois Ryan volta a sair de casa, retornando com algumas correspondências e deixando-as sobre a mesinha de centro.

— Nós precisamos contratar mais uma pessoa — resmungo aleatoriamente. Apesar de me dar bem tralhando apenas com Manda, não podemos deixar o restaurante fechar quando tivermos problemas pessoais. Isso não é bem aceito pelos clientes e não podemos nos dar o luxo de perder freguesia quando estamos com planos de aumentar as filiais.

— Podemos lidar com isso mais tarde. Agora aproveite e relaxe. — Apesar de tudo conseguir relevar meus pensamentos focando apenas no momento, até que Ryan e Manda precisaram voltar para sua casa um pouco depois da meia noite. Fechando todas as portas e ligando o alarme, pego um copo com suco de maçã na geladeira, antes de recolher as cartas e subir para o meu quarto. Tomo um gole lentamente ao mesmo tempo que dou uma olhada rápida nas cobranças, até que minha mão esbarra em um papel amarelado. O mesmo papel que tenho recebido nos últimos meses desde minha visita a Raze.

As vezes me pergunto se é muita coincidência o fato de ter pedido ajuda a ele tenha influenciado nas ameaças. Indo contra todos os meus instintos de sobrevivência começo a abrir lentamente deixando o copo vazio ao lado da mesa.

As palavras fazem a ânsia de vômito voltar, mas consigo controlá-las com respirações fundas.

Parabéns, mamãe.

As letras tiradas do recorte de jornal tornam a mensagem ainda mais assustadora. Nesse momento eu não sei mais o que fazer, a mensagem é clara. Eles estão me observando. Mesmo depois de dois meses, ainda não parece o bastante para que confiem em mim, eu só espero que essas ameaças parem, pois algo me diz que falar com Wiliam não é uma opção segura quando ficou claro que qualquer contato com policial é o fim para mim. Agora com outra vida para cuidar, eu já não sei mais qual é a melhor opção.

* **

— Querida você....

Grito assustada derrubando todas as formas da prateleira de cima do armário. Pressionando uma mão no meu abdômen, afasto da confusão que se formou no chão até que meu quadril esbarra na bancada.

Manda está com a boca aberta, ainda parada na entrada da cozinha tão sem reação quanto eu. Gostaria de dizer que esse tem sido um quadro único, mas desde que recebi a mensagem me parabenizando sobre ser mãe, outras mensagens não tem parado de chegar. Agora elas se tornaram cada vez mais assustadoras, em algumas delas a imagens de fetos mortos e até mesmo tinta vermelha para representar sangue manchavam o papel.

O medo e a insegurança estavam me deixando no auge do estresse, aumentando ainda mais minha culpa por não estar tendo sentimentos seguros para o meu bebê. Manda acredita que os sustos que venho tendo com frequência está relacionada aos hormônios da gravidez, ela até me aconselhou a procurar ajuda psicológica, mas as inúmeras cartas que tenho escondidas na parte debaixo da minha cama provam o contrário. O pior é que eu me sinto completamente perdida, por não ter ninguém com quem falar. No início eu imaginei que estava fazendo certo ao ignorar a polícia recusando a fazer ao BO. Mas as ameaças nunca pararam de chegar e estão se tornando cada vez pior.

Promessas Quebradas ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora