Capítulo 18

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Paige

Por mais que eu tentasse não conseguia ignorar o sentimento de decepção que se alojou dentro do meu peito depois da partida de Raze.

Pelo menos uma vez queria que Manda não estivesse certa sobre algo. Suspirando tiro a última fornada de cupcakes do forno para começar a confeitá-los. Faltam menos de 15 minutos para o restaurante abrir e a vontade de abandonar tudo e me esconder dentro das cobertas fala mais alto.

Minhas pernas estão inchadas e minhas costas doem. Cuidar de um restaurante sozinha carregando uma barriga de 6 meses é mais difícil do que se pode imaginar. Pressiono meu pescoço com a mão tentando aliviar a tensão, enquanto ando lentamente até a entrada onde viro a placa de aberto e destranco a porta. Uma parte interna está torcendo para que o lugar fique vazio hoje, ao mesmo tempo que a culpa bate, pois com a ampliação do restaurante para mais duas filiais e o bebê a caminho vão deixar as despesas apertadas.

Sento atrás do balcão olhando rapidamente para o meu celular na esperança que Raze possa ter enviado alguma mensagem, mas assim como eu ele apenas liga e ficamos em silencio até que eu adormeço.

O tempo passa e os clientes vão chegando aos poucos, é um pouco antes do meio dia quando a exaustão domina o meu corpo e decido voltar para a casa mais cedo. Manda está fazendo mais falta do que eu gostaria de admitir. Respirando fundo, arrasto meu corpo até a cozinha, desligando, estou trancando a porta do fundo quando o sino anunciando a chegada. Um gemido escapa dos meus lábios ao lembrar que esqueci de fechar a entrada, retornando, encontro um homem alto e moreno parado na em frente ao balcão. Seus dedos batucam o granito ao mesmo tempo que olha ao redor desconfiado. No momento que nossos olhos se encontram, seu rosto divide em um sorriso amarelado deixando-me desconcertada. Encara minha barriga fixamente quando paro atrás do balcão, esperando-o fazer seu pedido.

— Quanto você quer? — Inclino minha cabeça para o lado confusa com sua pergunta, normalmente ela deveria vim de mim.

— Desculpa, senhor. Mas você pode repetir?

— Vamos de números — inclina seu corpo deixando seu rosto próximo ao meu e seu hálito azedo próxima do meu olfato deixando-me ansiosa. — Eu quero esse lugar, mas para isso você precisa sair. Qual é o seu valor?

— O restaurante não está a venda, senhor. — Aponto para a saída. — Você pode sair.

— Acho que você não entendeu.

— Eu entendi muito bem. O restaurante não está a venda e você não é bem vindo aqui.

Mantenho minha voz firme me parabenizando por dentro. Vovó estaria orgulhosa de mim nesse momento, não é a primeira vez que alguém oferece dinheiro para vendermos o lugar. O restaurante está localizado em um bom ponto em uma ótima avenida na cidade, com a urbanização está cada vez mais disputado, e recusar propostas se tornou inevitável. O último ponto com ótima localização foi comprado pelos donos da boate "Breath" o lugar está sempre lotada para a nossa felicidade desde que jovens universitários bêbados estão em busco de algo gorduroso e forte para curar a ressaca.

— Por pouco tempo. — Bate mais uma vez na bancada, antes de virar de costas e sair batendo a porta com muita força fazendo-me estremecer. Respirando aliviada, mas ainda preocupada, pego minha bolsa e celular e saio fechando a porta atrás de mim indo para o único lugar que será capaz de me confortar.

***

Raze

— Não posso continuar fazendo isso.

— Você precisa — a voz rouca me responde por telefone.

— Não, eu não preciso. Já se passaram oito anos e tudo o que fazemos é destruir vidas e rodar em volta de um circulo de sangue e morte. Isso precisa acabar.

— Ainda não temos o suficiente, não se deixe levar pelas emoções, Raze. Você sabe melhor do que ninguém o quanto isso pode nos atrapalhar.

— ELA PODE MORRER!

A pessoa do outro lado fica mudo, não é como se eu esperasse algo diferente dele. Sempre calmo, sempre inerte.

— Já terminou? — Meu corpo retrai em um grito interno, sem sair qualquer som dos meus lábios para sua pergunta. — Falta pouco, muito pouco, não ouse estragar isso ou o matarei com minhas próprias mãos. — Desliga após sua ameaça deixando a raiva tomar conta do meu corpo, jogo meu celular contra estante em um ataque de raiva. Deixo minha cabeça cair entre meus ombros, apoiando minhas mãos sobre a mesa.

A ideia de perder Paige é assustadora mesmo tendo certeza que a estou perdendo todo dia um pouco mais. Depois da minha reunião com Ivan foi impossível retornar para sua casa, principalmente quando ele não pode desconfiar da nossa relação, se ele ao menos souber que o filho de Paige é meu, nunca vou poder salvá-los desse pesadelo. Mantendo-me afastado me faz quebrar uma promessa mais uma vez. Acredito que estou ficando especialista em promessas quebradas.

***

— A conversa não parece ter ido muito bem — Ignoro a chegada de Asafe concentrando-me em recolher os cacos quebrados da estante que se partiu quando meu celular a atingiu. O cheiro de bebida se mistura no ar deixando-me ainda mais enjoado e culpado. — Como vamos prosseguir?

— O plano continua o mesmo — consigo responder depois de recolher todos os cacos visíveis. Levanto e encaro a mancha que se formou no tapete vermelho.

— Quando você vai visitar sua mulher e filho?

— Já faço isso.

— Ficar vigiando no restaurante, ou obrigando as enfermeiras a te darem uma cópia de cada ultrassom não é exatamente uma visita. Você sabe disso.

— Eu durmo com ela todas as noites.

— Ela sabe disso? — Não, com certeza não. Depois que Ivan encomendou sua morte eu não pude voltar para sua casa, por isso passei a visitá-la durante a noite enquanto ela dorme. Sua barriga está ficando cada vez maior e nosso filho parece me reconhecer, pois sempre que toco seu abdômen ele me reconhece dando pequenos chutes para evitar acordar sua mãe, mas ao mesmo tempo me reconhecendo.

Tudo isso me faz sentir um grande idiota por estar tão perto e ao mesmo tempo tão distante da única pessoa que eu deveria querer manter por perto. A ideia de que em breve tudo vai se resolver e em breve eu serei capaz de me aproximar novamente faz com que eu me torne um inocente garoto que acredita em contos de fadas, porque no fim de tudo eu sei que Paige não vai me perdoar novamente.

— Eu sou o cara assustador aqui, Raze. Não tente roubar meu posto, ou estarei roubando sua garota.

Colocando um cigarro na boca, Asafe sorrir voltando a me deixar sozinho no escritório. Uma nova onda de raiva ameaça transbordar, mas consigo controlar tomando algumas respirações profundas. Jogo meu corpo cansado na cadeira e encaro o porta retrato sobre a mesa.

Uma foto minha e de Paige foi tirada por Abel dias antes do nosso alistamento. O sorriso dela era brilhante, enquanto olhava para câmera em seu vestido roxo brilhante. Nesse dia não consegui me segurar, tudo o que conseguia fazer era encarar seu rosto, como um idiota apaixonada pela única mulher que eu não poderia ter.

Depois da foto Paige foi chamada por sua vó para ajudá-la a assar algumas tortas, quando a imagem instantânea saiu da câmera Abel me jogou no chão com um soco antes de deixar que a foto caísse sobre mim. Apesar da dor em meu rosto era impossível desfazer o sorriso que se formou em meu rosto ao encarar aquela foto.

Traçando o sorriso de Paige com os dedos a duvida de que um dia vou conseguir fazê-la sorrir assim novamente me bate como um trem desgovernado. A ideia de vingar o acidente de Abel foi o que me afastou dela, porque imaginei ser o melhor para os dois, mas nunca realmente me perguntei se era isso o que ela iria querer. 

Promessas Quebradas ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora