Capítulo 11

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Paige

— Ei, você não acha que já está na hora de ir ao médico? — Manda pergunta tentando afastar a manta que cobre meu rosto. Meus olhos estão sensíveis pelas lágrimas que tenho derramado nos últimos meses, a luz que entra pela janela só piora meu enjoo.

— Eu estou bem, é só uma virose. — Murmuro sentindo todas os ossos do meu corpo gritando de dor por qualquer movimento que eu faça. O homem encapuzado continua fazendo ponto em frente ao restaurante, apenas observando, o meu nível de ansiedade tem aumentado cada vez mais, pois é assustador não saber o que está acontecendo. Quem é ele? Ou qual é o seu interesse no restaurante? Ou em mim? Na última semana comecei a receber algumas cartas com apenas uma letra escrita no papel. Juntando-as formava a palavra silêncio.

Não precisa ser muito esperta para saber o que significa, depois delas passei a pedir para que Wiliam não aparecesse com tanta frequência, ele continua com as rondas, mas não frequenta o restaurante. É difícil saber por quanto tempo vão continuar mandando esses sinais, as lembranças da noite em que Raze me encontrou na boate e a presença daqueles homens só piora minha paranoia, precisar lidar com isso sozinha tem me definhado aos poucos e agora com a chegada intrusiva dessa virose, tudo o que sinto é que vou surtar a qualquer momento.

— Você nunca faltou um dia de trabalho, mesmo quando bolas de catarro saindo do seu corpo. — Ânsia de vomito domina meu corpo pela imagem mental que Manda colocou na minha cabeça. Coloco minha cabeça para fora da cama tentando achar o balde, mas apenas um bile incolor sai. Manda esfrega minhas costas e eu volto para o meu lugar dentro do refugio do meu cobertor.

— Isso não é verdade, eu já faltei antes. — Consigo falar mesmo que minha voz saia fraca.

— Sim, mas você pelo menos fazia bolos ou tortas, quando foi a última vez que entrou na cozinha? — não é minha culpa que até mesmo cheiro do azeite me faz querer vomitar.

— Não quero falar sobre isso, Manda. Eu só preciso dormir...— Minhas pálpebras vão fechando permitindo que meu corpo relaxe.

Quando acordo novamente, estou me sentindo um pouco melhor, o sol já deu lugar para a lua e todo o quarto está escuro. Pego meu celular para me orientar até o banheiro, começo a tirar minhas roupas mas sou atingida por uma nova onda de vomito. Meus braços se agarram ao vaso, sentindo meu corpo doer pelas ondas violentas. Meu estômago está vazio, o que só provoca mais dor em meu estômago, lágrimas escorrem pelo meu rosto em desespero, conseguindo controlar meu corpo, faço uma ligação rápida para Manda.

— Eu preciso de ajuda — choro e logo volto a vomitar apenas um bile branco. Meu corpo começa a se sentir leve ao mesmo tempo que sinto meus membros formigando. Luzes piscam através dos meus olhos levando-me para a escuridão, tento permanecer acordada, mas não estou forte o suficiente para isso.

— Ryan! Me diz que ela não está morta — escuto um grito distante, mas é difícil reconhecer de onde vem. Sinto um toque suave no meu pulso e pescoço , antes de ser levantada e voltar para escuridão.

***

Um bip incessante atrapalhava meu sono, meu corpo está tão exausto e tudo o que mais quero nesse momento é voltar a dormir. Mas o bip irritante não para de causar mais dores de cabeça, levanto meu braço em busca da mesinha para desligar o despertador, mas sou impedida por uma mão quente que segura meu braço no lugar.

— Você vai acabar se machucando, há um IV no seu braço. — Franzo meu rosto ao escutar a voz de Manda. Meu raciocínio ainda está lento para tentar entender o que ela está fazendo na minha casa tão cedo, mas solto apenas um resmungo voltando a me recostar no macio da minha cama, mas não estão tão confortável assim.

Forço meus olhos a abrirem e eles demoram um pouco para se adaptarem a luz local. No momento que consigo ficar, o rosto sério de Manda é a primeira imagem que vejo. Forço um sorriso, mas meu corpo parece pesado demais para responder os meus sinais.

— Eu não lhe dei a chave para que você pudesse me observar durante meu sono. — Resmungo com a garganta seca e dolorido. Parece que corri uma maratona sem nunca ingerir um gole de água.

— Como você está se sentindo? — Talvez se ela não estivesse cobrindo a luz eu a mandaria sair do meu quarto, mas não quero ser atacada pela luz dolorosa em meus olhos.

— Cansada. Você pode fechar a porta quando sair?

Quando não recebo uma resposta volto a abrir meus olhos e agora mais atenta percebo que há lágrimas banhando seu rosto.

— Nós não estamos na sua casa, Paige.

— Não? — Tento levantar mas meus braços não aguentam o peso do meu próprio corpo.

— Você desmaiou ontem a noite. Eu e Ryan encontramos você no banheiro, próxima ao vaso sanitário.

As memórias começam a voltar aos poucos e alguns flash surgem dando imagens ao que Manda está falando.

— Os médicos fizeram alguns exames para confirmar se você está com está virose...— sua voz falha antes de voltar a falar. — Além da desidratação severa, eles descobriram que você está grávida. Oito semanas.

— Hum... não. Impossível, isso....

Mas as palavras somem ao lembrar do dia que me entreguei a Raze. Foi tudo tão intenso e rápido, que em nenhum momento lembrei sobre proteção. Naquele instante tudo o que eu precisava era do seu toque, do seu corpo, da certeza de que tudo ia terminar bem.

Só que nesse instante a minha única certeza é que há um filho dele nascendo dentro de mim e eu não tenho a menor do que fazer com essa informação.

— Quem é o pai, Paige? — Quem é o pai? A lembrança do seu sorriso e do seu cabelo bagunçado retornam para me tirar o fôlego. Não posso simplesmente voltar para aquele lugar avisando que estou grávida, eu nem ao menos sei no quem ele é.

— Não tem pai.

— Baby, você precisa entender que na biologia...

— Não tem pai, Manda. Assunto encerrado. — A olho com olhos firmes pronta para rebater, mas ela deve entender a dor atrás dos meus olhos, pois apenas acena voltando a sentar em um banquinho ao lado da minha cama.

— Por que não me falou sobre isso? — Traça os fios soltos da cama com seus dedos finos.

— Não tinha nada para contar. — Porque daquele dia tudo o que eu queria era esquecer.

— Eu e Ryan estaremos aqui para você. Não importa qual será sua decisão.

— Obrigada — alcanço sua mão. — Desculpa por está sendo uma cretina, — meus olhos queimam com lágrimas que insistem em sair.

— Você está aprendendo com a melhor. — brinca no mesmo momento em que Ryan entra trazendo um enfermeiro consigo.

— Bom dia, mamãe. Pronta para escutar o coraçãozinho do bebê?

Com olhos cheios de lágrimas aceno e busco a mão de Manda como apoio. Ela sorrir para mim e no momento em que a médica espalha um gosma gelada no meu estômago, estremeço e Ryan aperta minha perna em apoio. Sorrio para ele, que me devolve um sorriso brilhante.

No momento em que a médica percorre meu abdômen com uma varinha, uma batida rápida e acelerada preenchem o ambiente. De repente o vazio que esfolava meu peito é preenchido pelo som mais lindo do mundo.

Eu não me sinto mais sozinha, porque um pequeno milagre está nascendo dentro de mim.

Olho para Manda que tem o rosto coberto pelas mãos, enquanto tenta segurar as lágrimas. Ryan parece orgulhoso, impressionado e ao mesmo tempo assustado. De repente aceitei que nos quatro formamos algo que não consigo descrever.

Promessas Quebradas ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora