Capítulo 19

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Paige

— Deixa que eu levo isso — Ryan me intercepta na entrada da minha casa, antes que eu consiga descer as escadas em direção ao carro. Pega o bolo da minha mão e as sacolas com cupcakes dentro de algumas vasilhas. Ele consegue fazer todo o caminho até o meu carro, enquanto ainda estou tentando descer o segundo degrau. — Podemos construir uma rampa em algum momento para facilitar esse processo. — Brinca.

— Ha! — Reviro os olhos aceitando sua ajuda para descer os degraus que faltam. Apesar de saber que é apenas uma brincadeira estou começando a considerar essa ideia, não só pelo meu abdômen inchado, mas pelas minhas pernas que gritam por um pouco de descanso. A médica não proibiu nenhum esforço físico por isso continuo fazendo minhas atividades normalmente, desde a chegada de Manda da sua lua de mel, meu tempo no restaurante diminuiu e passei a voltar a ficar mais tempo no cemitério.

A ideia de ficar em casa sozinha é assustador, pois a sensação de estar sendo vigiada está cada vez mais presente. Não só pelo homem encapuzado, mas por sentir a presença de um estranho durante a noite dentro do meu quarto. As cartas que Asafe desapareceram, assim como a presença de Raze. Não quero deixar os sentimentos negativos caírem sobre mim, principalmente quando estou carregando um pedaço do homem que amo. Mas é impossível afastar a ideia de quanto fui burra ao me entregar a ele de primeira, nem por um momento me perguntei se ele poderia estar casado, ou com filhos, ou se muito menos ele me queria de volta a sua vida.

Tudo o que queria nesse momento era voltar no tempo, mas há uma parte minha insistindo em dizer que estou mentindo, por mais doloroso que possa ser, ainda é reconfortante ter algo para lembrar de Raze.

— Se Manda encontrar você com essa cara triste ela vai querer cometer uma assassinato. — Deixo escapar um pequeno sorriso para o comentário de Ryan ao entrar no carro.

— Talvez eu deixe ela cometer esse crime. — Gargalhando, ele fecha a porta e dirijo em direção ao restaurante com ele me seguindo. Quando chegamos o mesmo processo se repete e me ajuda a sair do carro levando tudo para dentro, a presença de um homem chama a minha atenção no restaurante e não demora muito para que o mesmo homem que esteve aqui mês passado sorria na minha direção. Dessa vez está carregando uma pasta e vários papéis estão espalhados sobre a bancada, onde uma Manda furiosa está posicionada na parte de trás.

— Como eu disse: nós não temos interesse em vender o estabelecimento. — Manda fala encarando o homem que tem toda a sua atenção no meu abdômen. Desprezando-a com um aceno ele pega os papéis entregando com o mesmo sorriso insolente em seu rosto.

Já perdi as contas de quantas vezes precisei lidar com a visita insuportável e das suas propostas. Os valores aumentam cada vez mais, mas não preciso dizer que o valor nunca foi o problema, eu nunca vou ser capaz de desfazer daquilo que me ajudou a superar a morte da minha família. Tirando os papéis de sua mão, ando em passos rápidos, o mais rápido, que minha barriga possa permite em direção a cozinha. Não demora muito para que eu encontre o que estou procurando sobre o balcão próximo ao forno e retorno para a entrada, onde Ryan e Manda encaram o idiota de terno.

Parando na sua frente dou-lhe o meu melhor sorriso antes de acender o isqueiro e queimar os papéis na sua frente. Há uma leve oscilação em seus olhos, enquanto encara os papeis virando cinzas. Sentindo-me confiante o suficiente, jogo os papéis em sua direção, mas para a minha decepção eles apagam ao invés de queimá-lo juntos com ele.

— Sua cadela louca! — Ryan se coloca na minha frente quando ele ameaça vim na minha direção e Manda parece segurando um cabo de vassoura.

— Apareça no meu restaurante novamente e eu estarei com um lança chamas lhe esperando seu velho idiota fedorento!

Ter um grande homem na sua frente e sua melhor amiga fazendo guarda parece ter me dado confiança suficiente para ameaçá-lo.

— VOCÊ ESTÁ SURDO? — Manda grita o enviando em direção a saída sem nem ao menos olhar para trás. Um grito estrangulado escapa dos meus lábios quando jogo o esqueiro no chão procurando uma cadeira para me sentar. Ameaçar alguém enquanto está grávida pode ser cansativo.

— Não está na hora de abrir uma ordem de restrição contra ele? — A ideia de Ryan parece animadora, até que lembro da ameaça de Asafe sobre meu contato com a polícia e começo a balançar a cabeça em negativa.

— Pessoas como ele não se cansam até terem o que desejam, minha vó lutou sua vida toda contra esse tipo de pessoa. Acho que esse vai ser meu carma.

Massageio levemente meu abdômen sentindo meu bebê mexer, olho rapidamente para fora só para encontrar o homem encapuzado montando guarda novamente. Nem um pouco incomodado em ter 3 pares de olhos o encarando, nenhum de nós teve coragem de intervir desde que ele não trouxe nenhuma ameaça para o lugar.

— Será que conhecemos? — Manda questiona olhando através da janela.

— E se chamássemos para tomar um café?

— Ele vai embora, sempre vai embora. — Suspiro. O único que parece gostar da sua presença é o bebê em meu ventre. Olho para baixo massageando e no momento que volto a olhar para cima encontro o homem com a cabeça entre os ombros parecendo cabisbaixo. Por um breve momento sinto meu coração apertar em preocupação por aquilo que pode tê-lo deixado tão triste, então me lembro que ele é apenas um desconhecido nos vigiando. 

***

Volto mais cedo para casa depois de deixar alguns bolos prontos, marcamos duas entrevistas com futuras funcionarias e começo a me sentir aliviada pelo satisfação de ter uma das minhas metas se concretizando.

Com a presença de mais um funcionária, vou poder me dedicar mais tempo ao meu bebê podendo respirar mais aliviada. Antes que eu consiga abrir a porta um arrepio percorrer meu corpo e o sons de passo faz com que eu olhe rapidamente para trás.

— Hey, mamãe.

— Eu não fui a policia. — Falo rapidamente pressionando meu corpo contra a parede.

— Eu sei, — diz colocando um cigarro na boca, mas não acende. — Você é uma garota inteligente. Vai saber fazer a escolha, se não souber, eu vou ter o prazer de te colocar no lugar certo.

— Do que você está falando. — Ele não responde, apenas sobe em sua moto e volta a desaparecer na escuridão. Eu que sempre fui tão paranoica nos ultimas dias não notei sua presença. Abro a porta rapidamente fechando atrás de mim e ligo para primeira pessoa que vem a minha mente.

— EU NÃO O QUERO PERTO DE MIM! — Não era a minha intenção gritar, mas eu já não consigo manter o controle.

— Quem, baby?

— Não me chame de Baby, quando você não se preocupa em ficar ao meu lado e se você pode eu não quero Asafe perto também. — Minha respiração está ofegante e preciso sentar para me acalmar. — Eu estou com medo.

Sussurro começando a ceder ao medo. Estive guardando isso por tanto tempo que eu só preciso falar, antes que isso me mate por dentro. 

Promessas Quebradas ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora