𝔱𝔴𝔬

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"Se um dia o silêncio tentar te calar, saiba que o amor te dará palavras para agir"

Aristides Wanderley

— Aristides Wanderley

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𝕮𝖆𝖗𝖔𝖑𝖎𝖓𝖆

— Já posso sair, mamãe? — Anthony fica batendo os pezinhos no tapete da porta, ansioso para sair.

— Espera aí Thony, você virar gelo se chegar lá fora com essa blusinha fina. — Eu olho para seu corpinho minúsculo, se remexendo de ansiedade.

— Mas é impossível mamãe! A gente não pode virar gelo! — Ele balança a cabeça, incrédulo. Eu reviro os olhos e dou um sorriso.

Anthony sempre foi muito espertinho para sua idade. Fala mais que o homem da cobra, e já sabe ler a palavra "mamãe".

Tirando os olhos, tudo nele lembra seu pai. Ele é um clone. Se seus olhos fossem castanhos escuros, iguais aos do pai dele, ele seria um Arthur versão criança.

Ao longo de todos esses anos em que tive Anthony, — Nos três anos, — eu fui muito mais feliz do que um dia achei que ia ser de novo.

Era como ter Arthur do meu lado. E agora, tem um fruto do nosso amor, me alegrando todos os dias. Eu vivo me pergunto o que ele pensaria sobre isso, se ainda lembrasse de tudo.

Será que ele seria um bom pai?

Não sei. Só de lembrar de que ele não está mais aqui, um calafrio passa pelo meu corpo. Ando evitando lembrar das coisas que aconteceram, e substituir por lembranças boas e felizes.

Eu amo Anthony, e não pensaria duas vezes entre tê-lo, ou continuar no mar de espinhos em que eu vivia.

Anthony Ramos Marzin. Não sei porque dei o sobrenome de Arthur primeiro. O motivo é óbvio, mas eu poderia ter dado meu sobrenome primeiro.

— Mãe? — Anthony cutuca minha perna, chamando minha atenção.

— Ah, desculpa. — Eu pego seu casaco pequeno e envolvo em seus bracinhos.

— De vez em quando você fica pensativa assim, mamãe. — Diz ele, com os olhos claros. Todas as pessoas que o veem, concordam que ele parece comigo. Isso porque não conheceram o o dono do esperma.

Anthony não sabe sobre Crusher. Ele já me perguntou algumas vezes, mas eu sempre o proibia de falar sobre aquele assunto, ou o distraia com alguma outra coisa.

— Ah é? — Eu sorrio, o pegando no colo e passando a chave do lado de fora do apartamento.

— É. Tipo assim ó — Ele faz uma cara de pensativo. Eu dou risada, e então pegamos o elevador e descemos.

Quando chegamos no saguão, eu coloco Anthony no chão, que vai correndo para fora da porta automática de vidro.

Como sempre, a neve o encanta. Alguns floquinhos de neve caem em seu cabelo castanho quando ele corre para frente do prédio. E eu, dando a de mãe paranóica, vou atrás dele, com medo de que aconteça alguma coisa.

— Temos que ir, Thony! — Depois de ter brincado alguns minutos e jogado neve na minha roupa pela quarta vez, eu me levanto do banco e estendo a mão.

— Nós vamos pra vovó? — Ele pergunta, enquanto pula ao meu lado, chutando a neve fofa.

— Sim. Você vai ficar lá enquanto a mamãe trabalha. — Eu digo.

— Depois você vai me pegar, né mamãe? — Ele pergunta.

— Claro! O que você quer fazer hoje? — Eu pergunto. Já sei bem a resposta: sopa de letrinhas.

— Sopa de letrinhas! — Ele grita, soltando sua mão da minha para bater palma. Eu sorrio e rio, enquanto andamos até a casa da minha mãe.

Quando chegamos, o carpete está cheio de neve. Eu mando Anthony limpar os pés antes de entrar, mas ele sai correndo para dentro.

— Olha quem chegou, Fred! — Minha mãe grita, ao receber Anthony em seus braços.

Eles ficaram um pouco surpresos pela minha gravidez, e foram as pessoas que mais me ajudaram durante meu período ruim. Mas mesmo assim, se tem alguma pessoa que ame Anthony mais que tudo, são meus pais — Depois de mim, obviamente. —

Meu pai desce as escadas e dá um abraço em Anthony.

— Ele anda mais magro do que o normal. Você está alimentando esse garoto, Carolina?! — Minha mãe mede o braço de Anthony, fazendo uma careta.

— Ele não está magro mãe, e mesmo que tivesse, seria saudavelmente magro. — Eu digo. Ela dá de ombros e vai até a cozinha junto com ele.

— A mamãe e eu vamos fazer a noite da sopinha de letrinha em casa! — Ouço Anthony contar, entusiasmado.

Eu dou um sorriso.

— Como anda o dinheiro? — Meu pai começa a perguntar.

— Eu já disse que eu estou bem, pai. Estou ganhando meu próprio dinheiro, e não quero que fiquem me ajudando demais. — Eu digo. —Vocês já cuidam do Anthony.

— Carolina, se tem uma coisa que faríamos mil vezes sem pensar, seria te ajudar, de qualquer forma. — Diz ele.

— Obrigada pai. Mas no momento, não vou aceitar nenhuma doação de vocês. — Eu retruco. Ele revira os olhos e me abraça.

— Eu já vou indo. Não quero chegar atrasada no trabalho. — Eu pronuncio, me soltando dele.

— Mamãe,  a vovó vai fazer chocolate quente com marchimalou! — Anthony vem correndo da cozinha.

— Que bom, filho! — Eu o abraço. A sensação de o chamar de meu filho ainda é nova, mas eu me sinto orgulhosa toda a vez que pronuncio esta palavra. — E é marshmallow. — Eu soletro, para que ele aprenda.

Ele faz uma careta.

— A mamãe vai trabalhar. Eu te amo. — Eu dou um beijinho na testa dele. — Não tire o casaco, obedeça o vovô e a vovó, e não coma muitas besteiras. Ouviu mãe?! — Eu grito.

— Pode deixar! — Ela grita de lá. Thony me abraça com seus bracinhos pequenos, e depois sai correndo para a cozinha de novo.

— Eu vou indo, pai. — Pronuncio. Ele balança a cabeça, eu saio pela nevasca, correndo para dar tempo de eu pegar o metrô.

Empty Space | Volsher. [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora