Pernoite | 27

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Só uma pequena nota, pra quem não sabe (eu tb n sabia) pernoite é quando você vai dormir/dorme na casa de alguém. É que em alemão é uma palavra bem comum, todo mundo usa, ao contrário da em português.

Izuku's POV

Desconfortável, saí do banheiro e fui em direção ao quarto de Todoroki. Eu tinha a leve esperança de que ele ainda estivesse sentado lá embaixo conversando com seus irmãos, mas essa foi imediatamente destruída quando entrei no quarto dele. Ele estava sentando na cama dele, mexendo no celular, monótono como sempre. Quando ele me viu, sorriu levemente, até que sua expressão ficou séria de repente. Ele veio em minha direção, devagar e ameaçador. Como um caçador que tinha acabado de encontrar a sua presa. Eu sabia que Todoroki nunca me machucaria, mas me arrepiei e engoli o medo. Medo do rosto decepcionado que ele iria fazer quando eu confessasse o que eu tinha acabado de fazer. Chorado porque eu era muito fraco. E eu não tinha como mentir sobre isso, pois meus olhos ainda deveriam estar vermelhos por causa disso. Quando ele só estava a alguns centímetros de distância de mim, ele ergueu a mão. Por reflexo, fechei meus olhos. Quando Kacchan se aproximava de mim assim antigamente, a primeira coisa que eu fazia era fechar os olhos. E também era o único movimento que eu fazia quando eu apanhava. Eu nunca tinha me interessado muito, mas os socos sempre doíam novamente quando eu me lembrava deles. Mas hoje não foi assim, hoje foi diferente. Ao invés de sentir uma dor aguda, eu senti a mão quente de Todoroki na minha bochecha. Confuso eu abri os olhos. O que tem de errado com ele? Por que ele estava olhando preocupado se eu estava mostrando fraqueza? Eu tinha deixado a minha fachada cair. Normalmente ninguém me perdoa por isso. Até a mínima coisa que fizesse minha fachada cair me fazia ser castigado. Pela minha mãe, quando ela chorava e perguntava por que eu eu não era como todos os outros. Pela Uraraka, quando eu me comportava diferente e recebia olhares estranhos dela por isso. Mas aqui tudo é tão diferente. Ele é tão diferente. Mesmo sendo que ele só me conhecia faz pouco tempo. 

"Tome seus remédios e vá para a cama, princesa.", o mais velho sussurrou e passou a mão na minha bochecha, subindo até os meus cabelos. Meus olhos se arregalaram quando ouvi o que ele falou. Ele estava querendo que eu dormisse aqui? (aq ele usou a mesma palavra do título) Eu nunca tinha dormido fora de casa antes. Eu nem ia em passeios da escola, já que me faltava a motivação para isso. Eu sempre ficava deitado na cama, sem sono e esperando que eu dormisse, não conhecia outro jeito. Quando isso não funcionava em uma noite, eu tentava na outra. Quando não funcionava de novo, eu tomava logo três, o invés de um sonífero. Eu nunca tinha considerado passar a noite fora das minhas próprias quatro paredes. Especialmente não junto com o de cabelos vermelhos e brancos. Mas logo agora eu reparei em uma coisa.

"Mas eu não posso simplesmente dormir-" ('na sua cama', em alemão fala o advérbio antes do verbo)

"Sim, você pode. Está tarde e o meu velho vai chegar hoje à noite do trabalho. Eu não quero que vocês se encontrem de alguma forma.", o maior respondeu, severo e decisivo. Convencê-lo ao contrário parecia não ser uma opção, já que ele nem estava me escutando mais. Ele pegou uma coberta do quarto ao lado e a colocou em cima de sua cama. Um travesseiro longo já tinha lá. Sem perceber nada, ele me jogou a minha jaqueta, onde eu tinha colocado meus comprimidos. Pelo jeito ele sabia exatamente como eu pensava. E isso me dava medo. Quando pensei na minha ação de uns dias atrás, entrei em pânico. E se ele descobrisse que eu tinha cometido um assassinato? Ele ia me chamar de louco, me odiar! Então eu precisava ser muito cauteloso. Pelo menos por enquanto. Ele via as minhas intenções em questão de segundos e me tratava como um velho conhecido. Estranho ele era de qualquer forma. Mas quem era eu para falar isso? 

Depois da ordem dele eu tomei os comprimidos, vesti uma camiseta dele e me deitei na grande cama. Antes que eu soubesse ele tinha se jogado do meu lado. Eu corei fortemente e me virei de costas para ele. Eu sabia que ele também não queria encontrar com o pai dele de alguma forma e por isso estava dormindo aqui. E eu sabia muito bem que dois amigos podiam dormir na mesma coisa sem que isso fosse nada de mais. Mesmo assim eu estava me sentindo em um filme clichê muito ruim. 

"Não se preocupe, princesa. Eu não vou tocar você, a não ser que você queira." Eu me enfiei entre as cobertas e virei de volta para ele. 

"Ma-mas só porque está frio!", eu me defendi e o deixei chegar mais perto de mim. Esse era um dos poucos momentos em que eu ficava feliz por existir. O mais velho colocou um braço em volta de mim. Suave e devagar, como se eu pudesse quebrar com isso. Ele me observava o tempo todo, para tirar o braço se eu mostrasse algum sinal de desconforto. Como ele podia ser tão cuidadoso comigo? Como ele conseguia olhar com tanto carinho nos olhos de um assassino, mesmo sendo que ele não sabia que eu era um? Como ele conseguia confiar tanto em mim e me deixar dormir com ele em uma cama? Como alguém podia ser uma pessoa tão maravilhosa?

"Boa noite, princesa." O sono tomou conta de mim. Pela primeira vez em anos, eu senti como meus olhos queriam se fechar, eu precisava reprimir um bocejo e relaxei por completo. Eu realmente estava com sono. Depois de tantas noites sem dormir, isso parecia magia. E Todoroki é quem tinha invocado ela. Lágrimas de felicidade corriam pelo meu rosto, mas eu nem as percebi. Cansado, eu me aproximei mais do menino e fechei os olhos.

"Boa noite, Shoto."

Red & White || TodoDeku (Tradução Alemão → PT-BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora