Veintidós

105 17 8
                                        

~Ross vision~

O avião alçou voo há cinco minutos, ele estava deslizado sobre o céu, sobre as nuvens... O sol brilhava tão intensamente lá em cima, criando formas e dando cores e vida para as nuvens que dançaram entre si em um céu tão laranja.

Sobre o vidro da janela havia um garoto triste, um garoto pensativo... Esse garoto sou eu, sim, Ross. Eu havia deixado meu porto seguro para trás sem nem ao menos pensar nas consequências e agora estava tentando voltar para recuperá-lo, não por ter percebido o quão estava triste longe dele, mas por perceber que o amava mais do que poderia imaginar.

As coisas foram péssimas em Jacksonville, nada como imaginei que seria, achei que seguiria sem recear, porque eu era forte e independente de se meus sentimentos estivessem bons ou não, eu iria apenas seguir, bom, me enganei muito pois não tinha um minuto em que não pensava em Muni Dickinson, sentia muita falta dela e toda vez que lembrava da nossa última conversa, me sentia culpado, eu havia feito ela passar por uma enorme dor, não que eu também não tenha sentido, mas ela com certeza sofreu mais.

Eu não sabia o que fazer ou o que iria fazer quando chegasse ao meu destino, eu estava voltando sem avisar a ninguém sobre isso, eu apenas queria ver a Muni e essa é a intenção, ir até a sua casa e conversar com ela, não pretendo agir como se nada tivesse acontecido pois fiquei fora por três semanas e seria tosco da minha parte se eu agisse assim. 

Eu não sei aonde irei ficar quando chegar, mas no momento pouco me importa isso, eu apenas quero abraçar a Muni, dizer o quanto a amo e estou arrependido por ter a deixado, não sei qual será sua reação ao me ver, mas seja lá qual for, eu irei aceitar, calado.

***

Após uma hora e meia de voo, finalmente estou novamente em Miami, dentro de um táxi, indo até a residência dos Dickinson. Estar de volta é surreal, parece que meu coração vai estourar de tão apertado e acelerado que ele está nesse momento, estou ansioso para ver o amor da minha vida, novamente.

Observei pela janela do carro com o vidro entreaberto, as ruas da cidade, elas estão movimentadas, pessoas andando para lá e para cá, apressadas, elas nunca param para admirar nada a sua volta, isso é uma pena, se elas soubessem como cada minuto é valioso, aproveitariam melhor.

Finalmente o táxi parou em frente a casa da Muni, esperei cerca de dois minutos antes de sair do carro, fiquei pensando no que diria, como reagiria em sua frente... A coragem enfim veio e eu saí do automóvel, o taxista pegou minha mala no porta-malas e me entregou, paguei pelo seu serviço e agradeci.

Segui até a porta da casa, parecia que era a primeira vez em que estava ali, sentia-me curioso e mais ansioso que antes. Toquei a campainha e esperei por alguns segundos, quem abriu a porta foi a senhora Halsey, ela me olhou surpresa. Reparei em sua aparência, olhos inchados e olheiras enormes, estava pálida.

-A Muni, ela está?-Perguntei receando a resposta.

Sua feição mudou de surpresa para triste, uma expressão de choro se formou em seu rosto e seus olhos marejaram-se, Halsey negou com a cabeça e levou a mão aos lábios quando as lágrimas rolaram sobre seu rosto. Aquela fora a resposta menos clara e mais expressiva que já recebi, tanto que compreendi seu choro.

Senti todas as minhas forças saírem do meu corpo e pareceu que algo dentro de mim se partiu completamente. Eu estava estático, em minha mente só se tinha o rosto da Muni, eu não conseguia nem chorar para expressar minha dor, talvez porque a ficha não estivesse caído.

Halsey me abraçou e eu retribui ao gesto, e foi então que tudo pareceu perder todo sentido, nada mais parecia ter cores.

-Halsey.-O pai da Muni a chama. Ele aparece na porta e me olha penoso ao perceber a situação.

-Você voltou por ela, não foi?-Ela pergunta, me soltando do abraço.

-Sim.

-Eu sinto muito, Ross.

-Você não quer entrar para conversar?-O senhor Carl, pergunta.

-Não, eu quero ir até ela.

-Ross, está anoitecendo, melhor deixar para amanhã, você tem para onde ir?-Halsey pergunta e eu nego com a cabeça.-Você pode ficar aqui se quiser.

-Eu achei que vocês me odiassem pelo que fiz.

-Se a Muni não te odiou, quem somos nós para te odiar?-Carl diz.

-Entre Ross.-Halsey dá passagem para que eu entre. 

Passo por ela arrastando minha mala e observo toda a sala. Me recordei da primeira vez que vi a Muni sentada naquele sofá, lendo um livro e foi então que a ficha caiu e eu desabei em lágrimas enquanto os Dickinson me consolavam em um abraço.

afterlifeOnde histórias criam vida. Descubra agora