Veinticuatro

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O dia estava nublado e muito frio, as plantas tinham um tom de verde sem igual, destacando-se naquele dia escuro, eu amo dias assim, me traz uma sensação de paz e deixa tudo mais belo.

Me aproximo lentamente da lápide da Muni, sentindo meu corpo todo se arrepiar e um calafrio inexplicável. Me ajoelho ao lado da lápide e leio as coisas escritas ali.

-Oi meu amor.-Murmuro.-Eu te trouxe suas flores favoritas.-Coloco as tulipas sobre o túmulo.-Peguei na estufa, se não se importa.-Suspiro.-É meio estranho falar com você agora pois eu não sei se você pode me ouvir, mas eu preciso dizer algumas coisas. A primeira é que eu te amo, eu deveria ter dito isso daquela vez e não um adeus. Eu me sinto tão mal, Muni, a última lembrança que tenho sua é de você gritando para eu ir embora enquanto chorava, eu não queria que essa fosse a minha última lembrança sua, ah se eu soubesse, teria feito tudo diferente, me arrependo de ter dito aquelas coisas para você. Muni, você nunca foi e nunca vai ser egoísta, eu disse aquilo da boca pra fora, não pensei no peso das minhas palavras e no que elas poderiam lhe causar, me perdoe.-Me calo por alguns segundos.-Você me perguntou uma vez se eu te amaria após seu coração parar de bater e eu disse que sim, não menti, continuo te amando e continuarei pelo resto da minha vida.-Sorrio ao pensar em seu sorriso.-Você é a pessoa mais linda que existe no mundo, você não foi, você é, Muni. Ai meu Deus, eu vou sentir tanto a sua falta, o vazio que você deixou nunca será preenchido por ninguém, e quero deixar bem claro que ninguém tomará seu lugar, eu nunca vou amar alguém da maneira que te amo, eu vou seguir em frente por você, eu prometo.

Me calo e escuto o som dos pássaros, é tão apaziguador, nada se compara a esse som.

-Você fez eu me contradizer, garota. Sabe esse terno que estou usando? Então, é a primeira vez que uso, eu jurei pra mim mesmo que nunca usaria terno porque pense em uma roupa que eu odeio, pareço um cachorro Maltês de terno.-Rio.-Mas o que eu não faço por você?-Respiro fundo.-Eu tenho tentado ser forte, Muni...-Sinto um nó na garganta e meus olhos marejam.-Mas a verdade é que eu não sou, eu te quero de volta, eu quero ver seu rosto novamente, te ter em meus braços, sentir sua pele, seu cheiro, te ver sorrir, eu quero você comigo mesmo sendo impossível, vai ser tão difícil superar e aceitar.-Levo as mãos ao rosto, cobrindo-o.

Soluço por longos minutos, eu não queria chorar, mas não consegui evitar, está doendo muito saber que nunca mais a verei.

Um vento forte surge literalmente do nada, fazendo-me tremer um pouco, tiro as mãos do rosto e observo o balançar das árvores.

-Eu ainda vou viajar o mundo todo e conhecer todas as cidades que você queria conhecer, e pode ter certeza que lembrarei de você por cada lugar que passar. Ah, tenho outra coisa para você...-Digo, enquanto enxugo as lágrimas e enfio a mão no bolso lateral da calça, tirando de lá uma aliança.-Eu deveria ter comprado um par muito antes e ter te dado, mas eu sou tão desajeitado que nem pensei nisso, mas aqui está.-Coloco a aliança perto do buquê.-Eu estou usando a minha.-Mexo na aliança em meu dedo.-Tão jovem e já sou viúvo.-Brinco, sorrindo para conter as lágrimas.-Você sempre comentava sobre meu senso de humor.-Respiro fundo.-Espero que você esteja bem, eu te amo.-Digo, enquanto passo a mão sobre seu nome escrito na lápide.

Muni não queria muita coisa, apenas um romance daqueles de livros que viram filmes para os telões de cinema, mesmo ouvindo que isso era impossível, ela não deixou de acreditar e foi por isso que ela conseguiu.

Muni Dickinson será sempre a minha Muni Dickinson, com desejos pequenos e sonhos grandes, um coração que apesar de não ter sido dos que funcionam muito bem, foi muito melhor e mais amoroso do que muitos outros que funcionam. Muni será sempre lembrada como a garota que quer o bem do outro acima de tudo, ela era como um um anjo, puro e inocente, agora ela é uma estrela.

Espero que quando lembrarem dela, recordem-se do seu sorriso pois ele iluminou os dias de todos que a amavam.

-Nos vemos após a vida, Muni Dickinson.

--- the end ---

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