Veintiuno

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Se passara uma semana e desde que o Ross foi embora, eu tenho tido dificuldades para dormir, toda vez que me deito a noite para descansar, lembro de cada detalhe seu e é inevitável não chorar, eu não perdi só ele, mas também a Rydel que havia se tornado uma grande amiga, e isso duplicou minha dor.

Tenho passado tanto tempo na estufa e no terraço, cuidando das flores que as vezes até esqueço que existem outras coisas para fazer, que há um mundo lá fora que eu devia lutar para poder explorar. Tudo pareceu perder o sentindo, estar longe de quem amamos é a pior dor, e ainda mais quando você não pode ter notícias dela.

Durante esses dias eu não consegui evitar olhar sempre pela janela do meu quarto para ver se o Ross apareceria na janela do seu quarto, a janela sempre fechada, a casa silenciosa, não há ninguém lá, todos foram embora, mas eu ainda tenho esperança de que Ross abrirá aquela janela e irá sorrir para mim como na primeira vez em que nos vimos. Eu ainda tenho a esperança de que ele irá bater na minha porta e eu irei ver seu rosto mais uma vez, só que no fundo eu sei que isso não irá acontecer.

Estando exatamente agora, sentada aqui em meu banco de janela, encarando aquela janela novamente quando deveria estar, sei lá, saindo com a minha mãe, eu percebo o quanto estou deprimida e que não superei nada. As vezes eu penso que deveria encontrar alguém como ele, mas ninguém é como ele, e eu não tenho mais tempo para procurar por alguém. Ross instalou um vazio em mim quando disse seu último adeus, e eu irei morrer com ele em mim.

Batidas na porta do meu quarto, me tiram dos meus devaneios, permito a entrada de seja lá quem for e então o papai entra, cabisbaixo. Ele dá aquele maldito sorriso qualificador.

-Oi meu anjo.-Ele me cumprimenta.

Olhando para o meu pai agora, eu entendo o que ele sentia, perder quem amamos é horrível e superar parece impossível, eu entendo seu medo de me perder também, ele sentiu a mesma dor que eu quando meu irmão morreu e quando a mamãe o deixou, sua dor foi mais que o triplo da minha pois seu filho morreu, e eu infelizmente não compreendi isso.

Me levanto rapidamente, tirando a cânula do meu rosto e vou correndo até o papai, me jogo em seu braços fortes o abraçando e ele me aperta. Eu comecei a chorar sem perceber, eu estava me sentindo mal por ele e por mim.

-Me desculpa por não te entender, pai, agora eu sei que realmente fui egoísta.

-Ei...-Ele segura minha cabeça entre suas mãos e olha em meus olhos.-Você não foi egoísta, okay? Eu que estava realmente me auto punindo por algo que não foi totalmente minha culpa e você abriu meus olhos, e eu estou aqui para te ajudar, conversar com você, se você quiser, claro.

Sorrio reprimidamente como resposta. Papai enxuga minhas lágrimas e beija o topo da minha cabeça, então me envolve em seus braços novamente.

-Sua mãe me contou sobre ele, eu sinto muito, meu amor, sinto muito mesmo.

-Eu o amava tanto, pai.

-Eu sei que o amava.

Ao sentir falta de ar, puxei o papai para o meu banco de janela e nos sentamos, enxuguei minhas lágrimas e coloquei novamente minha cânula sobre o rosto.

 -Ele simplesmente me deixou.-Digo, após um longo e profundo suspiro, enquanto olho para a janela do seu antigo quarto.

-Ele te amava, filha.

-Se me amava, porque me deixou? 

-As vezes, as pessoas nos deixam porque não é do destino delas ficarem. Pessoas são como pássaros, as vezes temos que deixa-las ir para saber se foram destinadas a nós, se ela for e voltar, nos pertence, se não voltar, já sabe, não foi o destino dela permanecer, basta a nós aceitarmos e saiba, nem sempre quando alguém nos deixa é porque não nos amou, pense no que elas fizeram por nós, lembre-se das atitudes e você saberá se o amor foi real ou não, baseado nisso.-Ele suspira.

-Como eu vou faço para aceitar a sua ida e esquecê-lo, pai?

-Tem pessoas que nem se quiséssemos iríamos esquecê-las, Ross não vai esquecer de você, assim como sei que você não vai esquecer ele, pois vocês deixaram marcas um no outro.

Refleti por alguns segundos, tudo que o papai disse é verdade e é exatamente o que devo absorver.

-Nunca achei que o senhor Carlisle fosse um bom conselheiro e que eu ainda estaria tendo uma conversa como esta com ele.-Sorrio.

-Pois eu sou.-Ele diz, cheio de si.

-Obrigada, pai, o senhor me acalmou muito.

-Eu estarei ao seu lado sempre que precisar, tentarei com todas as forças recompensar o tempo perdido antes que você...-Ele se cala.

-Antes que eu morra.-Completo.-Eu espero que consigamos isso.-Digo, pegando uma de suas mãos.

Papai sorrir e beija a minha mão que está segurando a sua. Me encostei mais para perto dele e coloquei minha cabeça em seu ombro. Eu estava feliz por ter meu pai de volta, eu perdi uma pessoa importante mas recuperei outra mais importante ainda. Talvez seja verdade, quanto mais pessoas entram na sua vida, mais chances de outras saírem e quanto mais pessoas saem, mais chances de outras entrarem, é penas um ciclo infinito.

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