Seis

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Eu estava ansiosa, por mais que aquilo não seria um encontro, nem nada, eu me sentia ansiosa, mesmo faltando apenas alguns minutos para nos encontrarmos.

-Muni, tem alguém esperando por você aqui na porta!-Rydel grita, lá de baixo.

-Estou indo!

Me mantenho parada em frente ao espelho da minha penteadeira, em pé, observando minha imagem refletida no mesmo. Por mais que eu tentasse, eu nunca ficaria bonita o suficiente e isso me incomodava. Arrumo minha cânula no nariz e passo as mãos sobre o vestido que trajava, nada me agrada.

Balanço a cabeça negativamente e fecho meus olhos ao perceber que eles marejaram-se, contenho as lágrimas e saio do quarto, arrastando meu concentrador.

Ao parar no topo da escada, vi o Ross, parado na porta, ele sorrir para mim e eu sorrio de volta.

-Rydel, poderia me ajudar com o concentrador?-Pergunto para a mesma que estava parada perto da porta, olhando para mim e para o Ross, com um sorriso no rosto.

-Ah claro.-Ela sobe as escadas e me ajuda a descer.

-Obrigada.-Agradeço assim que ela coloca o concentrador no chão.

-Muni, não demore muito e por favor, não saia do bairro, e não se esforce demais.-Ela diz, preocupada.

-Relaxa, volto logo.-Vou até o Ross.-Vamos?

-Vamos.-Ele diz.

Saio de casa, fechando a porta. Ross desce as escadas da varanda e me olha...

-Quer ajuda com o seu aparelho?

-Não Ross, obrigada.-Respondo, descendo os degraus sem dificuldade.-Pronto.

Saímos do jardim, passando pelo portãozinho de madeira, então começamos a caminhar pelo meio da rua não movimentada.

-Então, Muni, acho que tenho o direito de saber o que você tem.-Ele inicia a conversa.

-Tem sim.

-Então...

-Eu sofro de hipertensão pulmonar, fui diagnosticada com a doença quando tinha apenas dez anos de idade.-Ross me olha confuso.-Se não sabe o que é, pesquisa no Google.

-Que ignorante.-Ele rir.-Eu sei o que é, só fiquei confuso, você disse que iria morrer, mas essa doença não mata se você segue os procedimentos do tratamento, corretamente.

-Eu parei com o tratamento há três anos atrás e a doença já está chegando ao seu último estágio.

-Por que parou?

-Ross, pensa um pouco, não há motivos para viver dessa maneira, viver não, sobreviver, se for para continuar viva, mas indo ao hospital sempre, fazendo exames e mais exames e tendo que viver a base de procedimentos médicos, eu não quero, não faço questão de sobreviver assim, por isso tomei essa decisão.

-Foi difícil?

-Foi a decisão mais fácil que já tomei em toda a minha vida.

Ross me olha surpreso com a minha resposta.

-Você acha mesmo que não há motivos para continuar viva? Não encontrou nenhum para voltar a se tratar, até hoje?

-Não, não encontrei e eu não pretendo voltar a me tratar por nada.

-Sério?-Ele pergunta meio assustado.

-Sim.

-Tudo bem... Mudando de assunto, me fale uma coisa que você gostaria de fazer futuramente se tivesse oportunidade.

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