Já fazia dias que a Cortesã da Morte se pegava pensando sempre na mesma pessoa nos momentos em que estava de bobeira. Quando percebia, sempre se recriminava. Não deveria ficar assim. Ela não fora treinada para isso; aquela cicatriz enorme em sua face estava ali para lembrá-la de que abrira mão desde cedo de toda aquela bobagem.
Mas não adiantava. Não adiantava nada lembrar-se disso. Não quando via aquele homem na sua frente. Ele a fazia sentir-se fraca e necessitar de alguém para tirá-la de alguma enrascada.
Sorriu com ironia. Sentia-se uma donzela indefesa perto dele. Nem parecia a "loira fatal", líder da Hyakka e vigilante de Yoshiwara.
Ao vê-lo, já se sobressaltava, por mais que tentasse disfarçar. Quando ele estava muito próximo, ela, completamente perdida, acabava reagindo com violência, quase o matando.
Tinha que admitir que se sentia atraída por ele, mas... Como lhe dizer isso, visto que toda aproximação de ambos acabava com ele sendo espancado?
E, por mais que tentasse, não conseguia deixar de ser uma mulher e ser apenas uma máquina de defender aquele território. Desde que o vira, não conseguia mais fazer isso.
Era como se ele a lembrasse de que ela era, de fato, uma mulher, e que deveria agir como tal.
E mais uma vez ele aparecia diante de seus olhos, com sua aparência incomum. Roupa preta, quimono branco vestido pela metade, botas nos pés, espada de madeira no cinto, cabelos prateados e expressão despreocupada, que se refletia no seu jeito de andar. Como quase sempre, estava acompanhado dos seus inseparáveis parceiros de trabalho e de encrencas.
Seu coração acelerou ao vê-lo. Precisava dar um jeito de tomar coragem e falar com ele sobre isso.
Mas primeiro, ela precisava tomar coragem para assumir, para si mesma, o que sentia.
*
A campainha tocou na Yorozuya, em cuja sala estavam Shinpachi e Kagura. O garoto de óculos foi atender a porta de imediato. Ao abri-la, viu que era alguém conhecido.
― Ah, pode entrar, Tsukuyo-san!
A loira adentrou o ambiente com alguma hesitação, seus olhos purpúreos percorriam tudo. A garota Yato, como se lesse seus pensamentos, disse enquanto limpava o salão:
― Tsukky, o Gin-chan não tá aqui.
Tsukuyo logo se sentiu mais aliviada, porque não estava atrás de Gintoki. Estava na Yorozuya, mas queria ajuda dos outros dois.
― Bom, eu queria falar era com vocês dois mesmo. – disse.
Shinpachi e Kagura não entenderam. Por que eles e não Gintoki? A loira logo fez uma cara que parecia perguntar "O que eu vim fazer aqui?".
― Por que nós e não o Gin-san?
― Bem, é que... Eu preciso de uma ajuda de vocês dois... – a mulher enrubesceu.
Ao ver o quanto Tsukuyo parecia desconfortável e pela sua observação através de doramas, Kagura logo deu um sorriso maroto e disparou:
― Tá apaixonada, Tsukky?
Obviamente, a mulher corou ainda mais, e a garota ruiva não perdoou:
― Tsukky e Gin-chan estão namorando! Tsukky e Gin-chan estão namorando!
― Kagura-chan, ela não disse nada! – Shinpachi falou. – Não tire conclusões precipitadas!
Agora é que Tsukuyo não tinha coragem alguma de encarar aquela dupla, eles poderiam ser ainda piores do que se ela estivesse diante do próprio Gintoki.
No entanto, não deveria se acovardar, pois já havia chegado até ali! Deu trabalho, mas por fim conseguira murmurar:
― Vocês poderiam... Poderiam me ajudar...?
― Em que podemos ajudar? – o Shimura perguntou.
― É, em que podemos ajudar? – outra voz masculina perguntava, repetindo a pergunta do garoto.
A loira corou violentamente ao se virar e, com o seu olhar, encontrar aqueles olhos de peixe morto a encarando. Sua reação imediata foi agarrar o quimono de Gintoki e lhe aplicar o famoso golpe Ippon, no qual o adversário bate com as costas no chão numa luta de judô. Após isso, Tsukuyo saiu pisando duro e deixando o ex-samurai sem entender absolutamente nada, diante dos olhares céticos de Shinpachi e Kagura.
― Ei, o que deu nela? – perguntou atônito.
*
Aborrecida, Tsukuyo voltou a Yoshiwara do mesmo jeito que saíra. Não conseguira nada. Na verdade, fora ela mesma quem colocara tudo a perder, quando reagiu ao ver que Gintoki estava lá.
Naquela hora ela poderia se aproximar dele, mas acabou se distanciando novamente.
Precisava de ajuda para isso. Mas, a quem recorrer? Nem ela sabia.
Nisso, o Trio Yorozuya apareceu novamente, a pedido de Hinowa. Obviamente, Gintoki estava junto. Seu olhar se fixou nele e, quando ele a encarou, ela ficou rubra.
Mas... Que sensação era essa, que a deixava toda desconcertada?
Para piorar ainda mais a situação, o Yorozuya percebeu quando ela desviou o olhar dele. Ele, claro, achou aquilo muito estranho. O que tinha dado naquela mulher?
Ele se aproximou dela e, a cada passo dado pelo ex-samurai, o coração da Cortesã da Morte batia cada vez mais forte e descompassado e sua face ficava ainda mais rubra. Assim que os dois ficaram cara a cara, Tsukuyo deixou-se guiar novamente por seus reflexos.
Agarrou Gintoki pelo braço, não o deixando fazer qualquer pergunta, e jogou-o, fazendo com que ele metesse a cara no chão. Após perceber a loucura que fizera a loira simplesmente saiu depressa, deixando o pobre homem inconsciente.
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Isto não é mais um romance água-com-açúcar
FanficTsukuyo sente-se pressionada a colocar para fora tudo o que sente com relação a uma certa pessoa. Como passar por cima de seus temores e admitir o que sente? E qual será a reação dessa pessoa?