Cap. 36: Amar é... Perdoar o namorado estúpido!

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Pouco antes de chegarem os primeiros raios de sol, Gintoki subia, cambaleante, as escadas até sua casa. A cabeça estava para estourar de tanta dor. Seu estômago revirava tão violentamente quanto uma vitamina se revirava num liquidificador. Estava tão tonto que não sabia por que milagre conseguia subir até o segundo andar, mesmo tendo a sensação de que parecia mais uma escalada no Monte Fuji.

Entrou e nem tirou as botas. Correu direto ao banheiro para vomitar tudo a que tinha direito, quase indo suas vísceras junto. Após isso, largou ali mesmo as suas botas e foi até o quarto e, sem trocar a roupa nem nada se jogou em seu futon e se ferrou mais uma vez no sono. Novamente, ignorou o despertador e desta vez ignorava até Shinpachi que chegava para acordá-lo.

Não queria papo com ninguém. Queria dormir e esquecer tudo o que ocorrera e no quão pateticamente agira dois dias antes. Seu corpo precisava de um bom tempo de sono.

E foi o que ocorreu. O ex-samurai dormiu um sono pesado até meio-dia.

*

— Entendo. – Otose soltou mais uma baforada de fumaça do seu cigarro. – Difícil de acreditar que o Gintoki algum dia teria uma dor de cotovelo. Nunca o vi beber tanto, só naquele dia em que pregamos aquela peça nele.

— É. Mas isso me preocupa, Otose-san. – Shinpachi disse. – Eu nunca o vi tão envergonhado como agora. Geralmente ele não tem vergonha nenhuma de nada.

— Ele é um adulto, vai se virar para resolver isso. Ele sempre dá seus pulos.

— O que vocês estão falando de mim pelas costas aí? – Gintoki acabava de chegar ainda com cara de ressaca.

— Nada de mais, apenas do quanto você encheu a cara ontem. – Otose disse. – E eu espero ver a cor do dinheiro dessa sua conta quilométrica!

— Vai ter que esperar por um bom tempo, porque eu estou mais liso do que o cabelo de tigela sem graça do Shinpachi-kun.

— O meu cabelo não é sem graça! – Shinpachi protestou enquanto saía do bar junto com Gintoki e Kagura, que havia devorado uma tigela enorme de arroz enquanto rolava a conversa.

— Gin-chan, Shinpachi – ela perguntou. – Cadê o Sadaharu?

Nisso, o grande cão branco chegou esbaforido, para a alegria da ruiva, que o acariciava.

— Ah, você tava dando umas voltas, não é?

Sadaharu respondeu com um latido e olhou para Gintoki, que deu um sorriso quase imperceptível.

Até que aquele cachorrão era esperto.

*

"Tsukuyo,

Preciso conversar com você. Me encontre junto às cerejeiras em flor ao entardecer, eu estarei lá.

Gintoki."

O papel molhado de baba de cachorro e a caligrafia não deixavam qualquer dúvida da autoria daquele bilhete. Aliás, como duvidar que era Gintoki, se um grande cachorro branco fora quem lhe entregara o bilhete? Se fosse Kagura tentando atacar de Cupido, certamente a Yato deixaria escapar um "-aru".

Desde aquele incidente em que tivera uma crise de ciúmes, Gintoki não dera as caras por aquelas redondezas e nem a procurara em lugar algum. Será que ele ainda estaria emburrado pelo o que ocorrera? Quase certeza de que sim.

Será que por isso ele queria dar um fim ao namoro? Mas ele nem dera tempo para ela dar qualquer explicação quanto ao "homem" que a acompanhava, e que era apenas uma amiga disfarçada para não chamar a atenção!

Não! Não podia deixar isso acabar por conta de um mal-entendido! Não podia deixar que a infantilidade daquele maluco acabasse com tudo! Precisava ir e explicar tudo àquele cabeça-dura. Não podia ser uma vexatória crise de ciúme em público que acabaria com a história deles juntos.

*

O entardecer tingia todo aquele cenário de dourado, vindo dos raios de sol que começava a se pôr. Era um cenário que já era belo por si só, com as cerejeiras cada vez mais floridas. Seus olhos vermelhos logo a viram se aproximando. O rosto dela era sério e expressava temores e preocupações. E a mesma coisa ela observava no rosto dele.

— Creio que precisamos mesmo conversar. – Gintoki e Tsukuyo disseram ao mesmo tempo.

Os dois se entreolharam e a Cortesã da Morte disse:

— Começa você primeiro, Gintoki.

O Yorozuya limpou a garganta e olhou para os olhos violetas dela. E...

— TSUKUYO, ME PERDOA POR FAVOR! ME PERDOA POR TER SIDO TÃO ESTÚPIDO ANTEONTEM!

Ele havia se ajoelhado à moda japonesa, levando o rosto ao chão em sinal de humilhação, o que causou surpresa a Tsukuyo. Por que ele agia assim?

— Gintoki, se levanta! – ela disse constrangida. – Tá ficando doido?

Ele levantou a cabeça e a encarou, antes de dizer:

— Não, mas é que eu me senti mal ao saber que a minha crise de ciúmes tinha sido à toa... Cara, que vergonha que passamos...! Pensei que você não iria querer mais olhar pra minha cara...!

A loira deu um risinho abafado. Ele se lembrava mesmo daquilo tudo? Não tinha necessidade de ele ser tão dramático!

— Eu sei, sou um tremendo estúpido! Eu assumo que sou realmente isso! Mas não quero que acabe o que há entre nós.

— Gintoki, deixa de ser dramático! – ela disse com um sorriso divertido. – Eu é que tenho que me desculpar com você, por não ter te apresentado a minha amiga. Foi tudo às pressas.

— Mesmo assim, eu fui infantil, Tsukuyo... Você sabe, assim como eu, que eu não precisava ter agido daquela maneira ridícula. Me perdoe por aquele vexame... Eu me arrependi depois que eu fiz aquilo, mas tive medo de ser tarde demais, porque nem dei tempo pra você se defender.

— Tudo bem, está perdoado, se isso te faz se sentir melhor. Pensei que você não iria querer ver a minha cara depois daquilo.

— Eu gostaria de ver a sua cara por muito, muito tempo ainda, Tsukuyo... – ele sorriu aliviado e se aproximou dela. – Este estúpido ainda te ama.

Ela retribuiu aquele sorriso dele com um sorriso doce, se aproximando do rosto dele:

— E eu ainda amo esse estúpido. – sussurrou.

Os dois cobriram a pouca distância que ainda havia entre seus rostos e se beijaram, no mesmo instante em que o vento soprava, levando com ele algumas pétalas de flor de cerejeira. Era um beijo urgente, como se fosse para compensar o tempo em que ficaram distantes um do outro por conta daquele mal-entendido. Esqueciam aquele mal-entendido, as preocupações e até mesmo qualquer vestígio de ressaca da parte de Gintoki.

Naquele mesmo momento, ambos eram tomados pela paixão e pelo desejo crescente. Mais uma vez, queriam se entregar um ao outro, de corpo e alma.

E foi o que aconteceu. Gintoki e Tsukuyo saíram dali e foram ao local de sempre para poderem, de fato, ficar a sós. E lá, sem ninguém os incomodar, entregaram-se a mais uma noite de amor.

Isto não é mais um romance água-com-açúcarOnde histórias criam vida. Descubra agora