O tédio tomava conta de todo o trio Yorozuya. O marasmo se devia à falta de um serviço para fazer, já que, como de costume, não aparecia qualquer cliente para requisitar nada. Gintoki estava estendido no sofá lendo a Jump, enquanto Kagura via TV e Shinpachi estava sentado tomando um chá.
— Isso tá ficando chato. – o par de óculos resmungou. – Daqui a pouco Otose-san vem cobrar o aluguel novamente atrasado.
— Nem menciona o nome dessa bruxa velha, Shinpachi-kun. – Gintoki disse sem tirar os olhos das páginas da Jump. – Senão ela aparece e acaba com a minha paz.
— A velha não vai passar fome esperando esse aluguel enrolado do Gin-chan. – Kagura acrescentou. – Se ela vivesse só disso, já teria virado uma múmia completa com atadura e tudo depois de morrer de fome... E isso, se ela não resolvesse virar canibal.
— Kagura, você não tá viajando muito, não? – o albino perguntou. – Se a velha resolver bancar a canibal pra cima de mim, vai se arrepender!
— Claro, senão ela morre de diabetes!
— Isso tá ficando mórbido e, ao mesmo tempo, idiota... – Shinpachi murmurou.
Gintoki se levantou dali e bocejou, com uma expressão de total preguiça. Estava absurdamente entediado e não queria mais ficar em casa. Nisso, a campainha tocou e ele abriu a porta. Sacchan voou para cima dele, que se abaixou e saiu da rota de colisão da ninja de óculos.
— Ei, ninja quatro-olhos... Precisa inovar, isso tá ficando repetitivo, sério.
Ela nada respondeu, pois Sadaharu a abocanhara mais uma vez. Aquilo estava tão chato...
Resolveu calçar as botas e colocar a bokutou em seu cinto para sair. Ele, que era um preguiçoso nato, não estava aguentando tanto marasmo.
— Shinpachi, Kagura – ele disse. – Vou andar por aí. Se eu demorar, pode ter certeza de que encontrei a Tsukuyo.
*
— Hã? – Gintoki estava atônito. – HÃÃÃÃÃÃÃ?!
— Não precisa fazer esse drama todo, Gintoki. – Tsukuyo contestou. – O que tem de mais eu pedir para jogar mostarda no milk-shake?
— Mas, Tsukuyo... Mostarda em milk-shake é muito esquisito...!
— Se eu não tomar isso, o bebê vai nascer com cara de mostarda.
— Eu não quero que nasça com cara de mostarda.
— Então não questione, e peça mostarda para a garçonete.
Derrotado, o Yorozuya acabou precisando empregar toda a sua cara de pau para fazer o constrangedor pedido para a garçonete, que prontamente providenciou a iguaria – dando, claro, uns risinhos. Ele voltou para a mesa com a mostarda, a qual Tsukuyo despejou sobre o milk-shake como uma calda qualquer.
Enquanto o Yorozuya bebia seu milk-shake observando a Cortesã da Morte bebendo aquela estranha mistura, uma pessoa estava sentada em uma mesa mais afastada. Um chapéu de palha impossibilitava ver seu rosto, mas era perceptível que a pessoa observava o casal.
Entretanto, nem o albino e nem a loira percebiam o olhar daquela pessoa. Antes, Gintoki continuava vendo Tsukuyo se deliciando com milk-shake com cobertura de mostarda. Não só ele, como os demais observavam o pedido incomum, mas nada falavam.
Só que um outro pedido inusitado chamou a atenção das pessoas, que viram um milk-shake coberto por maionese sendo servido. Isso, evidentemente, chamou a atenção até de Gintoki, que logo reconheceu quem era o autor do estranho pedido.
O homem era o Vice-Comandante Demoníaco do Shinsengumi, Hijikata Toushirou. E, como de praxe, não resistiu à vontade de implicar com ele.
— Cara, vendo essa porcaria, tenho certeza de que milk-shake com mostarda é menos tóxico para mim...
Hijikata apenas soltou um "Tsc!" e continuou a tomar seu milk-shake coberto de maionese. Prometeu a si mesmo que não iria se deixar levar por provocações, sobretudo as que vinham de Sougo e do destrambelhado da mesa ao lado. Entretanto, isso durou até soar um barulho incômodo de alguém sugando escandalosamente o final de sua bebida com o canudinho.
E a fonte do barulho irritante era justamente do senhor-mestre-da-irritação.
― Mas é escandaloso mesmo...! – murmurou, segurando para não perder a pouquíssima paciência que possuía.
Gintoki estava disposto a provocar Hijikata mais um pouco, só de pirraça. Porém, não continuou, pois seu sentido de samurai parecia alertá-lo de algo. E isso também intrigou Tsukuyo.
― Algum problema, Gintoki?
― Não sei você – ele confidenciou. – Mas eu tenho a sensação de que estamos sendo observados.
O Yorozuya olhou para trás, mas não viu ninguém suspeito. Mesmo assim, a sensação persistia e o incomodava mais do que o garoto-nervosinho na mesa vizinha transformando outro milk-shake em comida de cachorro ao acrescentar aquela quantidade absurda de maionese.
Os olhos purpúreos da kunoichi o encararam por um breve instante, enquanto terminava de beber seu shake. Antes mesmo de ele compartilhar a sensação de estar sendo observado, tivera a mesma sensação, embora de leve.
Ambos se levantaram e Tsukuyo se encarregou de pagar os dois milk-shakes consumidos. Nem perguntaria ao Yorozuya se tinha algum trocado, porque sabia que, na maioria esmagadora das vezes, ele andava sem um tostão furado na carteira, e isso era de conhecimento geral. Não que ele não tentasse ser cavalheiro para pagar algo a ela, porque ele até tentava fazê-lo.
Para um cara assumidamente preguiçoso, Gintoki até estava se esforçando bastante pelo relacionamento.
Para amenizar a tensão que sentiam, Tsukuyo passou a conversar sobre amenidades e o quanto o dia estava melhor após as primeiras horas de marasmo, ao passo em que Gintoki, reclamão como sempre, se queixava da falta de clientes. Porém, era inevitável que vez ou outra olhassem discretamente para trás ou para os lados, em busca de alguém invisível, que parecia segui-los.
― Odeio essa sensação... – ela murmurou. – Pareço paranoica!
Gintoki nada respondeu, apenas levou a mão esquerda até onde costumava estar sua fiel bokutou. Queria estar pronto para um eventual ataque, visto que seu sentido de samurai estava ainda mais alerta. Ele e Tsukuyo seguiram o trajeto até Yoshiwara, onde a deixaria para depois voltar para casa. Julgava que não era bom seguirem sozinhos, por mais que individualmente fossem fortes para se defenderem de algum eventual ataque.
Ao passarem em uma viela menos movimentada, aquela sensação ficou ainda mais forte nos dois. Um vulto correu de encontro ao casal e, nesse momento, Gintoki sacou a bokutou, que colidiu com uma katana e gerou uma forte lufada de vento.
Era impossível distinguir quem era a pessoa, pois seu rosto estava encoberto pela sombra do grande chapéu de palha que usava. Mesmo não vendo sua face, o albino percebeu, pela força empregada por seu adversário, que a intenção era de matá-lo.
E seu sombrio adversário não estava sozinho. Havia mais três pessoas que se vestiam do mesmo modo, sem possibilidade de vislumbre de seus rostos. Porém, antes de Tsukuyo arremessar suas kunais, o trio jogou finas e velozes agulhas contra ela e Gintoki.
― Mas o que...?
Gintoki não teve tempo de terminar a pergunta, pois seu adversário vinha mais uma vez ao ataque. Seu corpo estava começando a ficar pesado e seu bloqueio quase foi insuficiente. O que estava acontecendo?!
Foi quando Tsukuyo sentiu seu corpo tomado pela rigidez:
― Gintoki! São as agulhas! Tente se mexer!
Ele tentou se mexer, mas sem sucesso.
― Não consigo!
Seu corpo não mais lhe obedecia, o que fazia com que não oferecesse mais qualquer resistência ao misterioso adversário. Tudo o que sentiu foi uma lâmina transpassá-lo e, antes de perder sua consciência, seu corpo ir ao chão junto com sua bokutou.
― GINTOKI!!
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Isto não é mais um romance água-com-açúcar
FanfictionTsukuyo sente-se pressionada a colocar para fora tudo o que sente com relação a uma certa pessoa. Como passar por cima de seus temores e admitir o que sente? E qual será a reação dessa pessoa?