Cap. 53: Um bom pai busca garantir o enxoval do filho

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O sol já estava alto quando Tsukuyo acordou. O que antes era algo totalmente atípico, nos últimos meses se tornara realmente rotineiro. Teve certo trabalho para poder se sentar em seu futon, seus movimentos eram mais lentos e preguiçosos. Esfregou os olhos para tirar qualquer vestígio de sono, parecia não dormir o suficiente na reta final de sua gestação.

Permaneceu reflexiva por alguns momentos, pensava em tudo o que ocorrera até chegar àquele ponto... Até chegar ao ponto em que agora só aguardava o momento de ver o rostinho do bebê que gerava em seu ventre. Os movimentos da criança eram um pouco mais lentos, mas ela se desenvolvera muito bem e estava saudável, conforme as consultas médicas que fizera nos últimos meses.

Para chegar até aquele ponto, passara por tantas coisas... Quem diria que um simples "crush" evoluiria tanto?

Tudo começou quando seu caminho se cruzou com o de Gintoki, e sua entrada nada triunfal para tentar evitar que Seita fosse atingido. Desde então sentia certa atração por ele, o que aumentou quando esteve como refém nas mãos de seu antigo mestre Jiraiya. Dissera ao albino que se sentia fraca perto dele o que, na verdade, era apenas o fato de ele a ter alcançado para além da fachada sisuda que sempre tivera.

Ela não conseguia se confessar a Gintoki, antes o agredia instintivamente. Teve que tomar muita coragem e agir impulsivamente para fazê-lo entender o que realmente queria. Mas no fim das contas ele correspondera à sua investida. E, apesar de alguns percalços, a relação dos dois sempre se manteve firme. Tão firme, que renderia um filho ou filha que chegaria em breve. Sorriu enquanto seus olhos violetas recaíam sobre o homem ao seu lado que continuava a dormir. Brincou brevemente com uma das mechas do sempre bagunçado cabelo prateado dele, que não demorou muito a acordar, se sentar e esfregar os olhos com a expressão preguiçosa de costume.

Os dois passaram mais uma noite juntos. Nunca deixaram de fazer esse tipo de encontro noturno, mesmo depois de aquele cômodo secreto ter sido reduzido a cinzas. Nem mesmo a gravidez de Tsukuyo impedia o casal de ter esses encontros mais tórridos, adoravam fazê-los. Mas esses momentos não se reduziam apenas a isso, era onde ambos poderiam ser eles mesmos e poderiam se abrir um ao outro.

O Yorozuya deu um grande bocejo enquanto esfregava os olhos rubros mais uma vez.

― Ainda bem que o serviço de hoje é à tarde... – murmurou com a voz ainda pastosa de sono. – Se eu perdesse, todo mundo me mataria...

― Enrolado como sempre... – Tsukuyo disse após deixar escapar um risinho divertido. – Espero que desta vez consiga receber pelo serviço.

― Eu também espero receber alguma coisa daqueles ladrões de impostos. – Gintoki suspirou enquanto se vestia. – O que a gente não faz pra garantir o enxoval do pirralho...

― ... Ou pirralha, não é? – a loira riu, se lembrando da aposta que os dois fizeram.

O albino deu um sorriso debochado e confiante enquanto ajeitava o yukata branco, já preso pela faixa roxa e começava a afivelar o cinto:

― Eu vou ganhar a aposta, Tsuki, você vai ver!

― Veremos!

Ela se levantou e terminou de vestir seu quimono, para depois se aproximar do Yorozuya, que pôs sua mão sobre o ventre dela e sentiu o bebê dos dois reagir. Sorriu ante aquela reação e disse:

― Comporte-se, o papai aqui vai garantir seu enxoval.

*

Era pouco antes das duas horas da tarde quando chegaram em frente a um imponente prédio no centro de Edo. O Trio Yorozuya chegara ao endereço anotado, o qual Gintoki conferia para ter certeza de que tudo estava certo. Quando mencionara a Tsukuyo que iria trabalhar para os "ladrões de impostos", não deixara de se referir ao Shinsengumi, a quem lhe dava esse título. Entretanto, desta vez era para o superintendente da força policial de Edo.

Missão do dia: fazer a faxina do escritório de Matsudaira Katakuriko, o velhote que era chefe de Kondo Isao, o gorila que comandava o Shinsengumi. Tanto melhor que fosse ele, pois Gintoki não toparia – nem se pagassem um zilhão de ienes – para fazer faxina ou qualquer outro serviço para o bando vestido de farda preta, incluindo o gorila, o super sádico, o cara da raquete e o pior de todos em sua opinião, o Mayora.

Identificaram-se na portaria do prédio e se dirigiram ao elevador, onde subiram até o andar onde se localizava o escritório de Matsudaira. Com as chaves que recebeu na portaria, Gintoki abriu a porta e tanto ele, como Shinpachi e Kagura deram de cara com uma cena no mínimo assustadora.

― Gin-san... – Shinpachi murmurou ao albino. – Não sei você e a Kagura-chan, mas parece que fomos chamados para apagar evidências de uma cena de assassinato...

Presa à mesa havia uma fita zebrada amarela, cuja outra ponta estava amarrada a uma cadeira e, depois, a uma prateleira próxima à janela, como se estivesse isolando uma cena de crime. O que reforçava essa sensação eram as várias manchas vermelhas espalhadas pelo chão.

― Será que não foi um catchup derramado? – Kagura indagou enquanto chegava perto da zona isolada.

― Não tem cheiro de tomate. – Gintoki estava ao lado da Yato. – É tinta, olha lá o vidro no chão.

O Yorozuya se levantou e disse ao companheiro:

― Ei, Quatro-Olhos, isso é tinta. Lembra que o velho disse que a faxineira desmaiou achando que era sangue? Nem deu tempo pra explicar que caiu no chão um vidro de tinta vermelha. Por isso que chamou a gente pra substituir a mulher.

Shinpachi olhou meio intrigado para o local isolado, mas viu que de fato havia um frasco caído no chão. Deu de ombros, rindo consigo mesmo e pensando que havia sido um tanto paranoico. E se caíra tinta, então ali deve ter sido isolado para evitar que algum desavisado pisasse nas manchas e sujasse ainda mais aquele lugar.

Sim, era isso!

O Shimura ajeitou os óculos e o uniforme para faxina, já estava preparando tudo para poder remover as manchas do chão, quando viu os outros dois companheiros paralisados. Aproximou-se deles, que pareciam chocados demais com alguma coisa que encontraram.

― Gin-san...? Kagura-chan...? O que aconteceu?

― P-Pattsuan... – Gintoki apontava para o que encontraram. – Acho que a teoria da tinta era só pra gente vir fazer o serviço...

Perto da estante de livros, atrás da cadeira giratória de espaldar alto onde normalmente se sentava Matsudaira, havia algo caído. Havia um corpo estendido no chão.

― ESSE VELHO MATOU ALGUÉM! – Gintoki berrou e correu para a porta. – TENHO UM FILHO PRESTES A NASCER E NÃO QUERO SER PRESO POR ALTERAR UMA CENA DE CRIME!

O albino alcançou a porta e, ao abri-la, trombou com alguém que estava prestes a bater nela, fazendo com que ambos caíssem no corredor. Gintoki esfregou a testa, que batera contra a testa da outra pessoa, que também esfregava o local dolorido por conta da trombada.

― PRESTA ATENÇÃO NA HORA DE ABRIR A POR- – a pessoa se interrompeu ao ver o Yorozuya. – Você...? O que está fazendo aqui?!

Foi quando Gintoki percebeu com quem tivera o encontrão:

― Eu é que me pergunto... O que você tá fazendo aqui, hein?

Isto não é mais um romance água-com-açúcarOnde histórias criam vida. Descubra agora