❄️ - Capítulo XXVI

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Era vermelho.

Havia sangue e escuridão.
Anzel abriu seus olhos com dificuldade, mas o lugar onde estava tinha uma iluminação terrível. Ao acordar, sentia cada parte do seu corpo gritar de dor. Suas costas ardiam e suas roupas grudavam no sangue que escorria.
O lugar era mal iluminado, mas ele sabia que estava sangrando, pois sentia o calor do sangue sobre sua pele.
Desmaiara devido a dor que sentia. Aos poucos as informações foram juntando-se em sua cabeça.

Haviam sido cercados por centenas de soldados no salão, depois os soldados de Anzel foram todos mortos e ele foi levado até aquela cela escura, onde foi brutalmente agredido.
Dois soldados lhe deram socos e chutes, depois a tortura foi intensificada. Trouxeram um chicote e o chicotearam por minutos que pareceram horas, até que ele desmaiou.

— Por favor, — Anzel implorava com a pouca voz que lhe restava — não façam isso comigo.

— Não és o sobrinho do grande Magnus Masalis? Pareces com um prisioneiro qualquer. Miserável como qualquer outro— um dos soldados disse.

— Por que estão fazendo isto comigo? Que mal eu vos fiz? — As palavras eram difíceis de sair.

O outro homem o algemou e cuspiu em seu rosto. Agachado e com o rosto próximo ao de Anzel disse:

— Vós sóis todos iguais! Tu, Magnus e todo este reino imbecil do qual viestes. Eu espero que o rei Farid decida matar-te.

O garoto gemia de dor. Não havia sequer uma posição que não o causasse enorme sofrimento. Os soldados o deixaram naquela cela escura, coberto de sangue e lágrimas. Os soluços eram incessantes. Estava com dor, assustado e sofrendo.

Só conseguia pensar em seu pai e no quanto gostaria que ele sentisse que Anzel estava em perigo e viesse buscá-lo. Não conseguira cumprir sua missão e nem mesmo tivera chance para isso. Fora brutalmente atacado e estava com medo. Aquele lugar escuro lhe causava pânico e seu corpo doía tanto que parecia que era o fim e ele iria morrer.

Durante toda a noite, Anzel ficou sozinho naquela cela escura e solitária. Não conseguia dormir, pois sentia muita dor e medo.

Assim, durante toda a noite, Anzel apenas ficou acordado, chorando e clamando aos deuses que o livrassem daquele sofrimento, daquela agonia.

Estava cansado e fraco.
Viu a cela ganhar um pouco de luz e soube, então, que amanhã finalmente chegara.

As horas passaram e nenhum sinal dos soldados. O rapaz sentia fome e sede.
Quanto mais as horas passavam, mas o pânico aumentava. Começava a pensar de qual forma aqueles homens o matariam.

Até que em algum momento do dia, um guarda diferente dos que o torturam na noite anterior, entrou na cela. O homem de cabelos castanhos trouxe uma pequena porção de comida e água. Soltou umas das mãos de Anzel e o garoto comeu em desespero. Nunca imaginou que teria de passar por aquilo.

O guarda de cabelos castanhos o olhava com repulsa enquanto o garoto comia. Anzel terminou, limpou os lábios e com os olhos vermelhos e inchados disse:

— Senhor, por favor, deixe-me ir. Eu não tenho culpa alguma, eu nunca fiz nada errado.

O guarda revirou os olhos.

— Não adianta implorar. Ter vindo aqui foi a pior coisa que poderias ter feito.

Anzel estava desesperado. As lágrimas o tomaram.

— Senhor, meu pai é um homem muito importante. Nós temos muitas riquezas. Eu prometo que se me ajudares a sair daqui, eu irei recompensar-te. Por favor, ajude-me.

O homem o encarou, esfregou a nuca e respirou profundamente.

— Não insista, garoto. Achas que vou confiar em ti?

— Por favor, senhor. Podes matar-me se eu não cumprir o que prometi. Ajude-me, por favor.

O homem bufou. Esfregou seu rosto, pensando.

— Eu dou o que quiseres, mas ajude-me a deixar este lugar.

Não importava se estava sendo imprudente, Anzel estava desesperado e desejava sair dali não importava o quê.

O homem pareceu relutante.

— Está bem, farei isto. No entanto, se não cumprires com a tua promessa, terei certeza de matar-te — disse o homem olhando-o com firmeza.

Anzel assentiu. Queria apenas sair daquele lugar, não importava o que tivesse que fazer.

— Quando escurecer e fizerem as trocas dos soldados, eu virei e o soltarei. Em troca, me darás tudo o que eu exigir.

— Claro, meu senhor. Eu darei-te tudo o que que quiseres.

O homem sorriu com uma maldade notória em seu semblante. Algemou o garoto novamente e o deixou sozinho.

Durantes as horas que se seguiram, ninguém veio até ele. Não comeu, não pôde ir a nenhum lugar. Suas roupas estavam grudadas no sangue endurecido e o suor que caia sobre suas feridas ardia.

Não parava de pensar em seu pai. Devia tê-lo ouvido quando o mesmo pediu que Anzel não fosse à Palama. Ele fora ingênuo. Estava envergonhado e assustado. Quem o visse não o reconheceria. Coberto de sangue, sujeira e urina.

Com o passar do dia, a cela foi tornando-se mais escura. A noite havia chegado.
Anzel esperava que em algum momento o rei Farid fosse aparecer, ao menos para zombar dele, mas o rei não veio. A noite foi passando. Anzel sentia dor, fome e sede. Perguntava-se se o guarda viria mesmo ajudá-lo. Com o passar das horas foi perdendo a esperança.
Estar sozinho no escuro durante todo o dia, era apavorante.

As algemas faziam seus braços doerem. Já não os sentia mais e suas costas feridas causavam-lhe uma dor absurda.

Quando já não acreditava mais que o soldado viria, a porta foi aberta e o homem apareceu.
Olhou com repulsa para Anzel.

— Estão trocando os guardas agora. É o momento certo para irmos.

Anzel mal podia acreditar que depois de tanto sofrimento, iria sair daquele lugar. Abriu um sorriso pequeno. Estava fraco.
O guarda veio até ele e tirou as algemas e o ajudou a levantar. Anzel gemeu ao ficar de pé, pois a pele de suas costas, ao esticarem, causavam-lhe uma dor horrível.

— Escute-me, garoto. Quando saíres daqui, deves pegar o próximo corredor a direita e caminhar até o fim. Lá encontrarás o portão da prisão aberto e um homem estará esperando por ti. Ele o levará até o porto, onde irei encontrar-te.

— Não podemos ir juntos? — Estava com medo.

— Cala-te! Deixes de ser covarde. Eu tenho de resolver algumas coisas para não sermos pegos. Andes e faça o que disse.

Sem discutir, Anzel correu com dificuldade pelo caminho que lhe fora instruído.
Era um corredor escuro feito de pedras e com apenas algumas lamparinas iluminando o caminho. Haviam muitas outras celas, algumas com prisioneiros e outras vazias.

Mesmo com dificuldade, Anzel correu até a saída, onde viu um homem usando um capuz preto. Pensou que estava livre finalmente e que todo o sofrimento acabaria.

— Anzel Masalis? — Perguntou o homem.

— Sou eu, sou eu mesmo. Por favor, tire-me daqui — implorou desesperado.

Foi nesse momento que passos puderam ser ouvidos. Anzel olhou ao redor e viu aproximar-se não apenas soldados, mas o rei Farid. Vendo o rapaz tentando fugir, ele abriu um enorme sorriso sarcástico.

— Oh não, nossa acomodação não foi boa o bastante?

Anzel ajoelhou-se em lágrimas.

— Por favor! Por favor, tenham misericórdia de mim! Eu imploro — suplicava o jovem rapaz.

— Eu acho que preciso ensiná-lo a não fugir mais.






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