🍂 - Capítulo XI

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Não fazia muito tempo desde que os primeiros raios de sol apareceram e já haviam pessoas chegando ao palácio.
Haviam guardas por todos os lados, reforçando a segurança.
O primeiro dia de festa acontecia dentro da habitação real e era reservado apenas à aristocracia de Cadmus. Todos os nobres e suas famílias participavam do primeiro dia do festival.

A segurança da habitação real foi reforçada naquele dia, afim de garantir a segurança da nobreza e da família real. Naquele dia Nukenin era um dos guardas responsáveis por escoltar a realeza. Levou um tempo até isso, mas o homem era um dos guardas de alto escalão e confiança de Cadmus.

Quando o sol começava a tornar-se mais agressivo, todos estavam acomodados na arena.
Acelin e mais algumas damas estavam em um lugar da extensa arena reservado para os funcionários que não estavam realizando função alguma no momento.

Era uma grande balbúrdia na arena, vozes misturadas, risos, movimentação, até que tambores começaram a soar. O som grave dos instrumentos, levaram os olhos curiosos a olhar para o centro da arena, onde havia uma superfície retangular feita de madeira de acácia. Era uma superfície alta e sobre ela haviam cinco tronos. Dois deles estavam no centro e eram maiores que os outros três.

Então, o som dos instrumentos misturou-se aos aplausos quando três jovens entraram pelos portões da arena e caminharam até o centro.

Dois deles Acelin conhecia bem. Freydis estava usando um vestido branco longo e fino. Os cabelos estava soltos sobre os ombros e usava muitas jóias de ouro. Estava descalça como todos naquele dia.

O outro, fazia Acelin querer fugir dali, pois não conseguia o olhar sem lembrar das vezes em que ele mentido disse ser um soldado. Sim, era Rurik. Assim como o dia em que Acelin o encontrou no pavilhão de inverno - pavilhão que lhe pertencia -, usava roupas nobres.

Estavam juntos na arena os três filhos da realeza.

Rurik sabia que naquele dia toda a sua mentira seria desfeita e ele não tinha como evitar. Ali, no centro, sob a vista de todos, ele só pensava que, no meio de todas aquelas pessoas, Acelin devia estar o vendo e o odiando por ter sido um mentiroso. Bom, devo dizer que ele não estava errado.
Haviam três pessoas ali na frente, mas Acelin só conseguia o ver e perguntava-se como pôde ter sido tão tola e não ter percebido antes...

Rurik nunca soube mentir bem, suas mentiras sempre eram descobertas uma hora ou outra. Agora não sabia se odiava o fato de sua mentira ter sido descoberta novamente ou de isso não ter acontecido antes. Se tivesse sido descoberta anteriormente, seus sentimentos por Acelin seriam insignificantes e ela não iria entristecer-se.

Queria sair dali e encontrá-la. Rurik queria saber o que Acelin estava sentindo naquele momento.

Certa vez, eles estavam juntos em seu pavilhão e conversavam sobre o que mais odiavam nos seres humanos. "Odeio o fato de a humanidade ser tão traiçoeira e mentirosa. Sei que todos mentem pelo ou menos uma vez na vida, independente do porquê, mas eu realmente detesto isso", ela disse.


Rurik não entendia porque se importava tanto. Afinal, não fazia muito tempo desde que Acelin chegara em Cadmus e eles não eram tão próximos. O fato é que Rurik, mesmo não sabendo, sentia-se a vontade em ser tratado não como um príncipe, mas como alguém normal, um amigo apenas. Era isso que o fazia se importar com Acelin, pois Nukenin e Anzel eram seus únicos amigos no palácio e Acelin foi a única menina que se aproximou de Rurik e não o tratou como alguém superior, mas como um ser humano apenas. Ele a admirava por toda sua história e gostava do seu jeito desajeitado e cômico.

Haviam tantas pessoas ali, mas elas não podiam sentir o que apenas Rurik e Acelin sentiam. Estavam todos eufóricos, ainda mais quando os portões foram abertos e Hakana junto de Magnus adentraram na arena. Os aplausos misturavam-se ao som dos instrumentos.

Quando a música cessou e a multidão aquietou-se, Magnus, forçando a voz, anunciou o início do festival a Belenus. Logo em seguida, Freydis desceu da superfície e no centro da arena, iniciou sua dança ao som dos instrumentos. Todos estavam cuidadosamente assistindo a cada movimento seu. Freydis dançava livre como um pássaro e não demonstrava insegurança alguma, apesar de que por dentro seu estômago revirava.

Após sua dança, as sacerdotisas de Belenus adentraram na arena realizando uma dança harmoniosa em conjunto. Logo, a dança tornou-se mais agressiva e quando seus pés tocavam o chão, a areia subia.

"óli i skóni, óloi oi kókkoi, óli i gi eínai i Belenus sou", elas diziam de forma interrupta. Estavam invocando Belenus.

Enquanto as sacerdotisas invocavam seu deus, Acelin foi chamada para auxiliar as damas a servir bebidas feitas a partir da cevada. Enquanto isso, outras damas serviam pão e frutas para a multidão de pessoas.

- Primeiramente, sirva a família real e depois sirva aos outros, entendestes? - o cozinheiro a orientou.

Acelin assentiu. Não queria ver Rurik, mas, infelizmente, não poderia evitar. Apenas em pensar em aproximar-se dele, sentia-se desconfortável. Era orgulhosa demais para fingir que não estava com raiva.

Logo que Acelin e as outras damas entraram na arena, os olhos de Rurik a encontraram. Sentiu seu coração acelerar-se quando a viu aproximar-se de onde a realeza se encontrava. Porém, Acelin forçava-se a não olhar para ele, embora sentia seus olhos fitando-a.

- Acelin, deixa que eu os sirvo - Frigga, dama da rainha, interrompeu os passos de Acelin. - Isso não é tarefa para uma dama de nível baixo. Siga para a arquibancada e sirva aos outros.


E essa foi a primeira vez que Acelin sentiu-se aliviada por ser rebaixada. Seguiu com pressa até a arquibancada, sentindo a distância entre ela e Rurik aumentar.

Após a dança das sacerdotisas, a multidão ficou de pé. Os instrumentos cessaram quando o rei levantou-se de seu trono.

- Hoje estamos todos aqui, realeza e nobreza, para clamarmos ao grandioso Belenus que nos conceda uma boa colheita após o inverno. Vós deveis dar o melhor a Belenus em união conosco, a realeza, para que possamos ser abençoados e manter a soberania do nosso primoroso reino, Cadmus. óli i skóni, óloi oi kókkoi, óli i gi eínai i Belenus sou - após estas palavras, todos beberam suas bebidas.

O dia seguiu em uma grande beberagem na habitação real. Acreditavam que comer e beber o que a terra oferecia, era uma forma de agradar a Belenus.

Por conta disso, Acelin passou o dia inteiro servindo aquela multidão e ouvindo coisas estúpidas, pois, é claro, que certo tempo depois, estavam quase todos bêbados.

Quando finalmente a noite caíra, a maior parte das pessoas já havia ido embora. Uma garoa começou a cair, enquanto os funcionários exaustos limpavam toda a sujeira que havia sido deixada na arquibancada. Acelin sentia a cabeça latejar enquanto recolhia os copos deixados ao chão. Não havia tido tempo para comer nada, pois sempre que tirava uma pausa, madame Frigga a atazanava para que voltasse ao trabalho.

A jovem dama sentia-se irritada em lembrar que era apenas o primeiro dia do festival e que ainda teria muito trabalho pelos próximos dois dias.

A lua foi coberta pelas nuvens cinzas e o vento frio batia-lhe forte o rosto. As mãos de Acelin tremiam e ela acreditava ser apenas o frio. No entanto, subitamente viu as cores da arena se distorcerem e tudo ao seu redor girar, até não ver mais nada.

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