❄️ - Capítulo XXXI

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Nevava em Cadmus.

Magnus e Hakana estavam tomando seu café da manhã. Enquanto a população estava tendo que poupar alimento por causa da crise, no palácio a realeza continuava a ter suas refeições fartas e a desfrutar de seus privilégios.

— Vistes o teu sobrinho? — Hakana perguntou com um tom indiferente na voz.

Seus cabelos loiros repousavam sobre seus ombros.

Magnus bebeu um gole de seu chá antes de responder.

— O vi ontem, mas ele ainda estava dormindo.

— Soube que os paladianos acabaram com ele. Em pensar que ele saiu daqui achando que poderia mudar o mundo — deu um breve riso e foi repreendida pelo olhar firme do marido.

— O que aconteceu não foi culpa dele, Hakana — havia um tom de desagrado em sua voz. — Anzel é muito inteligente e poderia ter ido muito bem. O que aconteceu é que aqueles intratáveis e desumanos forjaram essa negociação apenas para pisar em nós!

— Bom, sendo assim, vais deixar que eles pisem em nós como se fossemos vermes? —  Instigou ao lembrar do que Sandor sugeriu quando Anzel voltou de Palama.

O conselheiro do rei, desejava que a tropa ainda fosse enviada à Palama e o reino fosse saqueado como vingança ao que acontecera a Anzel.

— Achas que devo ouvir meu irmão? — Magnus indagou. Seus braços cruzados na frente do peito.

— Sandor não costuma errar e eu acho que um rei como tu não podes ser humilhado e desprezado como Farid fez.

Magnus pensou por um tempo, mas bastou apenas algumas palavras de Hakana para que ele fosse convencido. Era incrível a forma com que ela conseguia o influenciar.

Assim sendo, o general Bacchus e seus soldados iniciaram naquele dia a planejar estratégias para saquear o porto e as redondezas de Palama.

⚜️⚜️⚜️

Sandor deixou uma bengala ao lado da cama de Anzel, o que o fez sentir-se ainda mais fracassado. Não importava o que fosse, prometeu a si mesmo que não usaria aquela bengala estúpida. Sentou-se em sua cama com os pés tocando o chão. Entretanto, apenas a ponta do pé direito chegava até o piso, pois sua perna direita assumira uma forma inclinada. Anzel olhou para sua perna que agora lhe parecia feia e inútil. Xingou o que via. Com impulso das mãos tentou erguer seu corpo, mas não conseguiu sustentar-se e caiu. Tentou várias vezes, mas não conseguia sustenta o seu corpo por muito tempo, desequilibrava e caia. Sentia-se dispensável como nunca antes

Anzel soltou um grito de raiva e indignação. Jogou suas almofadas ao chão e puxou os próprios cabelos. Nunca havia sentido-se tão miserável e repugnante.

Repentinamente, um bater suave foi ouvido em seu quarto. Anzel bufou, pois não queria ser incomodado.

— Quem é?

A porta foi aberta, revelando o rosto doce e belo de Freydis. Ao ver seu amigo de infância e homem por quem sustentava uma amor ainda não revelado, a princesa sorriu.

Aproximou-se dele e deu-lhe um abraço apertado. Anzel apenas acariciou rapidamente as costas da menina.

Ela sentou-se em uma cadeira próximo da cama e olhou de relance para a perna de Anzel, não podendo evitar um olhar de compaixão que o incomodou.

— Estou tão feliz que tenhas voltado — o sorriso não saía do rosto de Freydis.

— É, eu também.

— Eu estive aqui ontem com meus irmãos, Acelin e Nukenin. Todos estávamos muito preocupados com a sua demora.

Anzel esfregou a nuca inquieto antes de perguntar:

— O que viestes fazer aqui?

A pergunta causou estranheza na menina.

— Eu apenas queria ver-te. Lembra que antes de tu partistes, eu fiz-te uma promessa?

— Estou manco, mas não perdi minhas memórias.

Freydis não entendia o porquê de Anzel a tratá-la de forma tão ríspida. Tentou ignorar e continuou:

— Enquanto tu esteves em Palama, eu li um livro do qual tenho certeza de que...

— Podes ir embora?

— O quê? — Freydis o olhou sem entender. — Anzel, está tudo bem? Está sentindo-se mal? Dói em algum lugar?

Ele riu com tom de deboche.

— Pares de falar tanta asneira e saias do meu quarto — disse ele e apontou para a porta.

Freydis o olhou firmemente por alguns segundos, sentindo seu peito doer. Anzel sustentava o olhar sobre ela, um olhar frio e completamente diferente de como foi um dia.

Chateada, Freydis deixou o quarto.

Anzel apertou seus olhos firmemente, mordendo os lábios com raiva.

Pegou a bengala a contra gosto e apoiou o peso de seu corpo. Era difícil usar aquilo, parecia que nunca ia sair do lugar. Estava tentando ir até a biblioteca e precisava apenas sair de seu quarto e caminhar até o fim do corredor. Com passos vagarosos, Anzel tentava chegar até seu destino. O corredor escuro ligava-se a outras unidades de corredores. Em um deles, Anzel ouviu paços e embora estivesse em Cadmus junto de sua família, não pôde evitar ser tomado pelo pavor. Sentiu seu corpo estremecer e virou-se para voltar novamente ao seu quarto quando ouviu a inconfundível voz de Hakana:

— Impressão minha ou estás tentando fugir de mim?

Anzel respirou fundo. Não havia motivo para estar assustado.

— Não estou.

— Acho que a experiência em Palama foi assustadora para ti, não é?

Anzel sustentou os olhos cinzentos sobre a mulher.

— Creio que isto não seja importante para a senhora, vossa majestade. Então, não há motivo para fazer-me tal pergunta.

Hakana riu em tom de deboche.

— É isto o que acontece quando um garotinho tolo acha que pode salvar o mundo.

— É, realmente eu fui ingênuo. Porém, tolo mesmo foi o meu avô quando consentiu que meu tio casasse com uma mulher tão dissimulada e bárbara como a senhora — Anzel cuspiu as palavras com desgosto.

Hakana enfureceu-se e antes que pudesse revidar, passos foram ouvidos em um dos corredores. Anzel deu as costas e seguiu em direção ao seu quarto.

— Anzel! — Rurik gritou.

O garoto já não era mais o mesmo. Perdera sua ingenuidade. Iniciara uma nova página do seu livro e esta era sombria e dolorosa.
Não importava se Anzel era forte ou fraco, pois os traumas sempre deixam uma cicatriz. E o seu trama o seguiu até sua casa, mudou sua vida e o derrubou.

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